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"Escore" de iniciativas e mudanças é recorde, diz historiador
Para Allan Lichtman, democrata fez mais em período inicial na Casa Branca do que todos os antecessores recentes; agenda para os próximos 100 dias continua ambiciosa, ele diz
DE WASHINGTON
Nem Jimmy Carter, nem Bill
Clinton. A melhor comparação
a ser feita para os primeiros 100
dias de Barack Obama à frente
da Casa Branca é com o popularizador da marca, Franklin Delano Roosevelt. Ambos são excelentes comunicadores e tomaram iniciativas grandiosas
movidos pela gravidade da crise econômica do país.
A opinião é do historiador
Allan Lichtman, da American
University, de Washington, autor de seis livros, entre eles
aqueles em que adapta os métodos do geofísico russo Vladimir Keilis-Borok sobre terremotos para definir quais fatores influenciarão nas eleições
presidenciais e prever quem
sairá vencedor -o que fez com
exatidão de 1980 até a mais recente. Leia, a seguir, sua entrevista à Folha.
(SD)
FOLHA - Qual a comparação entre
os primeiros 100 dias de Obama e os
de seus antecessores?
ALLAN LICHTMAN - Ele conseguiu
mais em 100 dias do que qualquer um dos antecessores recentes. Conseguiu aprovação
no Congresso para seu Orçamento e para o pacote de estímulo de US$ 787 bilhões e mudou as políticas sobre pesquisa
em células-tronco, aborto,
meio ambiente, direitos trabalhistas e segurança nacional
com ordens executivas.
Iniciou mudanças importantes em política externa ao adotar um enfoque mais diplomático e de cooperação com o
mundo do que Bush, se dirigindo ao mundo muçulmano e lançando novas iniciativas no controle de armamentos. Introduziu uma agenda ambiciosa para
os próximos 100 dias que inclui
aumento de regulação financeira, mudança no sistema de
saúde e combate ao aquecimento global.
FOLHA - Como fez isso?
LICHTMAN - Como Franklin
Roosevelt, assumiu o governo
no meio de uma crise econômica severa, que exige iniciativas
grandiosas. Como FDR, é um
comunicador excelente que
consegue vender suas políticas
para o público. Ainda, também
como FDR, assumiu o cargo no
fim de uma era conservadora
na política americana e no começo de uma era progressista.
Essa virada deu oportunidade
para uma mudança significativa. Obama também mostrou
ser um líder efetivo e alguém
que sabe usar os poderes e o
prestígio da Presidência. Por
fim, manteve altos seus índices
de aprovação, o que é um componente importante do poder
presidencial.
FOLHA - Quão importantes são as
iniciativas em política externa na
percepção de que mudanças estão
ocorrendo?
LICHTMAN - A nova política externa tem um papel secundário
para o público doméstico em
tempos de crise econômica.
Ainda assim, a maioria dos
americanos desaprovava o enfoque de Bush no assunto e
aprova o de Obama.
FOLHA - Alguns analistas mais empolgados chamam os primeiros 100
dias de "revolucionários", o que o sr.
acha um exagero. Poderia elaborar?
LICHTMAN - Obama não é um revolucionário. Ele é um progressista inserido no sistema que
acredita que o governo tem um
papel positivo na solução dos
problemas.
Tem buscado a expansão do
Estado progressista ao investir
em infraestrutura, aumentar a
verba para educação, estimular
a economia via gastos públicos
e reformar políticas de saúde
pública, aquecimento global e
regulação financeira. No entanto, não propôs iniciativas
que poderiam ser consideradas
"revolucionárias" nos EUA, como nacionalizar os bancos ou
adotar o chamado sistema de
saúde universal, em que todos
pagam o mesmo por um serviço
padronizado.
FOLHA - O que aconteceria se ele tivesse sido eleito em tempos de paz e
prosperidade econômica? Seria um
democrata mais ao estilo de Bill
Clinton (1993-2001) ou mais de
Jimmy Carter (1977-1981)?
LICHTMAN - Ainda que os tempos fossem outros, ele seria diferente dos dois. Diferentemente de Clinton, ele faz parte
do "establishment" progressista, não é um "novo democrata"
que busca um meio termo entre ideias conservadoras e progressistas. Diferentemente de
Carter, ele tem uma agenda clara e estratégias conhecidas para o uso do poder e para lidar
com o Congresso.
FOLHA - Em sua opinião, quais foram a pior e a melhor ação dos primeiros 100 dias?
LICHTMAN - A melhor foi a passagem do programa econômico
embutido no Orçamento e a
aprovação do pacote de estímulo. A pior, a retirada das indicações do governador do Novo
México, Bill Richardson, para o
cargo de secretário do Comércio e do ex-senador Tom Daschle para a Saúde, ambos envolvidos em denúncias. A mais arriscada, a expansão da duvidosa
Guerra do Afeganistão, que tem
o potencial de se tornar o Vietnã de Obama.
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