São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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"Escore" de iniciativas e mudanças é recorde, diz historiador

Para Allan Lichtman, democrata fez mais em período inicial na Casa Branca do que todos os antecessores recentes; agenda para os próximos 100 dias continua ambiciosa, ele diz

DE WASHINGTON

Nem Jimmy Carter, nem Bill Clinton. A melhor comparação a ser feita para os primeiros 100 dias de Barack Obama à frente da Casa Branca é com o popularizador da marca, Franklin Delano Roosevelt. Ambos são excelentes comunicadores e tomaram iniciativas grandiosas movidos pela gravidade da crise econômica do país. A opinião é do historiador Allan Lichtman, da American University, de Washington, autor de seis livros, entre eles aqueles em que adapta os métodos do geofísico russo Vladimir Keilis-Borok sobre terremotos para definir quais fatores influenciarão nas eleições presidenciais e prever quem sairá vencedor -o que fez com exatidão de 1980 até a mais recente. Leia, a seguir, sua entrevista à Folha. (SD)

 

FOLHA - Qual a comparação entre os primeiros 100 dias de Obama e os de seus antecessores?
ALLAN LICHTMAN
- Ele conseguiu mais em 100 dias do que qualquer um dos antecessores recentes. Conseguiu aprovação no Congresso para seu Orçamento e para o pacote de estímulo de US$ 787 bilhões e mudou as políticas sobre pesquisa em células-tronco, aborto, meio ambiente, direitos trabalhistas e segurança nacional com ordens executivas.
Iniciou mudanças importantes em política externa ao adotar um enfoque mais diplomático e de cooperação com o mundo do que Bush, se dirigindo ao mundo muçulmano e lançando novas iniciativas no controle de armamentos. Introduziu uma agenda ambiciosa para os próximos 100 dias que inclui aumento de regulação financeira, mudança no sistema de saúde e combate ao aquecimento global.

FOLHA - Como fez isso?
LICHTMAN
- Como Franklin Roosevelt, assumiu o governo no meio de uma crise econômica severa, que exige iniciativas grandiosas. Como FDR, é um comunicador excelente que consegue vender suas políticas para o público. Ainda, também como FDR, assumiu o cargo no fim de uma era conservadora na política americana e no começo de uma era progressista.
Essa virada deu oportunidade para uma mudança significativa. Obama também mostrou ser um líder efetivo e alguém que sabe usar os poderes e o prestígio da Presidência. Por fim, manteve altos seus índices de aprovação, o que é um componente importante do poder presidencial.

FOLHA - Quão importantes são as iniciativas em política externa na percepção de que mudanças estão ocorrendo?
LICHTMAN
- A nova política externa tem um papel secundário para o público doméstico em tempos de crise econômica. Ainda assim, a maioria dos americanos desaprovava o enfoque de Bush no assunto e aprova o de Obama.

FOLHA - Alguns analistas mais empolgados chamam os primeiros 100 dias de "revolucionários", o que o sr. acha um exagero. Poderia elaborar?
LICHTMAN
- Obama não é um revolucionário. Ele é um progressista inserido no sistema que acredita que o governo tem um papel positivo na solução dos problemas.
Tem buscado a expansão do Estado progressista ao investir em infraestrutura, aumentar a verba para educação, estimular a economia via gastos públicos e reformar políticas de saúde pública, aquecimento global e regulação financeira. No entanto, não propôs iniciativas que poderiam ser consideradas "revolucionárias" nos EUA, como nacionalizar os bancos ou adotar o chamado sistema de saúde universal, em que todos pagam o mesmo por um serviço padronizado.

FOLHA - O que aconteceria se ele tivesse sido eleito em tempos de paz e prosperidade econômica? Seria um democrata mais ao estilo de Bill Clinton (1993-2001) ou mais de Jimmy Carter (1977-1981)?
LICHTMAN
- Ainda que os tempos fossem outros, ele seria diferente dos dois. Diferentemente de Clinton, ele faz parte do "establishment" progressista, não é um "novo democrata" que busca um meio termo entre ideias conservadoras e progressistas. Diferentemente de Carter, ele tem uma agenda clara e estratégias conhecidas para o uso do poder e para lidar com o Congresso.

FOLHA - Em sua opinião, quais foram a pior e a melhor ação dos primeiros 100 dias?
LICHTMAN
- A melhor foi a passagem do programa econômico embutido no Orçamento e a aprovação do pacote de estímulo. A pior, a retirada das indicações do governador do Novo México, Bill Richardson, para o cargo de secretário do Comércio e do ex-senador Tom Daschle para a Saúde, ambos envolvidos em denúncias. A mais arriscada, a expansão da duvidosa Guerra do Afeganistão, que tem o potencial de se tornar o Vietnã de Obama.


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