|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA SEM LIMITES
Relatório do instituto britânico IISS mostra que a Guerra do Iraque ampliou o recrutamento de terroristas
Al Qaeda tem 18 mil terroristas em potencial
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O segundo tiro saiu pela culatra.
Em vez de diminuir tanto o recrutamento de terroristas pela rede
Al Qaeda como os atentados contra alvos ocidentais, a invasão anglo-americana do Iraque aumentou o problema. Hoje a rede tem
18 mil terroristas em potencial espalhados por mais de 60 países.
Além disso, o ataque prejudicou
a contenção da proliferação de armas de destruição em massa.
Essas são avaliações de relatório
divulgado ontem em Londres pelo Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS, na sigla
em inglês). O instituto edita um
anuário clássico sobre forças militares, "The Military Balance", e
também um relato anual das
questões estratégicas mais importantes, "Strategic Survey".
O fracasso no Iraque contrasta
com a operação no Afeganistão
em 2001, mais bem-sucedida, o
primeiro grande tiro na guerra ao
terror. O país deixou de ser a base
da rede terrorista e dos seus aliados fundamentalistas do Taleban.
"Desde que Bush assumiu o poder, e sobretudo desde a intervenção no Iraque, a imagem mundial
dos EUA atingiu o fundo do poço.
Em muitos lugares os EUA estão
sendo vistos com suspeita devido
a seu unilateralismo", diz o "Strategic Survey 2003/4".
A intervenção no país governado pelo ditador Saddam Hussein
"dominou todo o espectro" das
questões mundiais, diz o relatório, criando um "choque cultural
estratégico". Em termos da luta
contra o terror, o ataque diluiu os
esforços da coalizão mundial
"que parecia tão formidável após
a intervenção no Afeganistão".
O "Survey" tem uma detalhada
análise das táticas americanas de
"contra-insurgência" adotadas
no Iraque. O erro básico foi devotar muito mais atenção à tomada
do país do que à sua ocupação.
O Exército dos EUA sempre se
preparou mais para uma guerra
convencional. Essa era a grande
preocupação da Guerra Fria, uma
Terceira Guerra Mundial contra
os soviéticos na Europa.
Mesmo na longa intervenção no
Vietnã nas décadas de 60 e 70, essa
era a doutrina predominante,
tanto que os conselheiros militares americanos ajudaram a construir o Exército do então Vietnã
do Sul à sua imagem e semelhança -"com uma estrutura mais
apropriada para fazer a guerra na
planície do norte da Alemanha".
O Exército dos EUA fez no Iraque grandes operações de "varredura", "busca e destruição", que
lembram outras do mesmo gênero feitas no Vietnã. Já patrulhas
constantes pela infantaria, que
permitiriam um melhor relacionamento com a população -e
uma maneira de obter pistas sobre o inimigo- têm sido relegadas a segundo plano.
"Bases americanas, com Pizza
Hut e outras amenidades modernas, são pesadamente fortificadas. Embora ajudem a manter as
tropas confortáveis e protegidas
do terror, esses acantonamentos
isolam mais ainda as tropas da
população local", diz o relatório.
Esse isolamento físico, mais
uma falha em entender os costumes e a cultura locais, além de
uma grande agressividade no trato com a população, "podem se
mostrar erros cardeais".
Os britânicos em Basra estariam
agindo melhor, realizando patrulhas conjuntas com a polícia iraquiana, diz o relatório.
"A atual administração dos
EUA está ficando agudamente
consciente de que reputação,
prestígio e poder podem ser facilmente desperdiçados através de
intervenções e operações de paz
mal gerenciadas. Os EUA estão
percebendo a verdade terrível de
que a primeira lei da manutenção
da paz é a mesma da ciência forense: cada contato deixa um traço", declarou em comunicado o
diretor do IISS John Chipman.
"Infelizmente, muitos traços
ruins foram deixados, e muitos
bons serão necessários para os
EUA recuperarem sua reputação,
seu prestígio e, por conseguinte,
seu poder efetivo", disse ele.
Texto Anterior: Artigo: A aposta épica de Bush Próximo Texto: América Latina e África ficam em segundo plano Índice
|