|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Abbas aumenta aposta e pressão sobre o grupo
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
A ousada cartada do presidente Mahmoud Abbas tem
duplo objetivo: recuperar
parte da influência de sua
facção, o Fatah, para equilibrar a balança de poder com
o Hamas -evitando uma
guerra civil- e romper a paralisia no processo de paz
com Israel, do qual a Autoridade Nacional Palestina depende para funcionar. Um
governo palestino de coalizão, sob as atuais circunstâncias, parece ser a solução
ideal, se não a única, para os
dois lados.
Há três semanas o presidente do Parlamento, Abdel
Aziz Dweik, um membro do
Hamas educado em universidades dos EUA, enviou carta a Abbas propondo exatamente isso. Não foi o primeiro esforço da ala pragmática
do Hamas para quebrar o
gesso em que o isolamento
internacional colocou as instituições palestinas. Uma
união com o Fatah poderia
reabrir o canal com a comunidade internacional e, o que
é mais urgente, os cofres dos
principais doadores.
Abbas aceitou a idéia "em
princípio", mas suas condições já estavam impostas: a
retomada do plano de paz, a
redefinição da partilha do
poder palestino entre Fatah
e Hamas e a entrada do grupo islâmico como membro
da Organização para a Libertação da Palestina (OLP),
guarda-chuva histórico do
movimento nacionalista.
Essa é também a base do
documento de 18 pontos
acertado entre chefões do
Fatah e do Hamas presos em
Israel, que Abbas agora adota
como termo de conciliação e
ameaça submeter a plebiscito. No momento em que o
isolamento do Hamas aprofunda as dificuldades econômicas nos territórios palestinos, uma consulta popular
constitui uma arma que encostará o grupo islâmico ainda mais na parede.
O ultimato de Abbas é uma
jogada de alto risco. Se der
certo, produzirá um Hamas
mais moderado, o que interessa não só às potências internacionais e a Israel como
aos palestinos, ansiosos pelo
fim da asfixia. Mas se o efeito
for o de agravar as divisões a
ponto de implodir o governo,
a situação voltará não à estaca zero do impasse, mas a um
estágio anterior e mais volátil. Com o Hamas direcionando suas armas contra Israel e os rivais palestinos, a
guerra civil deixará de ser
apenas um risco iminente.
Texto Anterior: Presidente palestino dá ultimato a Hamas Próximo Texto: Bush e Blair evitam dar prazo a Iraque Índice
|