São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2006

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análise

Abbas aumenta aposta e pressão sobre o grupo

MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO

A ousada cartada do presidente Mahmoud Abbas tem duplo objetivo: recuperar parte da influência de sua facção, o Fatah, para equilibrar a balança de poder com o Hamas -evitando uma guerra civil- e romper a paralisia no processo de paz com Israel, do qual a Autoridade Nacional Palestina depende para funcionar. Um governo palestino de coalizão, sob as atuais circunstâncias, parece ser a solução ideal, se não a única, para os dois lados.
Há três semanas o presidente do Parlamento, Abdel Aziz Dweik, um membro do Hamas educado em universidades dos EUA, enviou carta a Abbas propondo exatamente isso. Não foi o primeiro esforço da ala pragmática do Hamas para quebrar o gesso em que o isolamento internacional colocou as instituições palestinas. Uma união com o Fatah poderia reabrir o canal com a comunidade internacional e, o que é mais urgente, os cofres dos principais doadores.
Abbas aceitou a idéia "em princípio", mas suas condições já estavam impostas: a retomada do plano de paz, a redefinição da partilha do poder palestino entre Fatah e Hamas e a entrada do grupo islâmico como membro da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), guarda-chuva histórico do movimento nacionalista.
Essa é também a base do documento de 18 pontos acertado entre chefões do Fatah e do Hamas presos em Israel, que Abbas agora adota como termo de conciliação e ameaça submeter a plebiscito. No momento em que o isolamento do Hamas aprofunda as dificuldades econômicas nos territórios palestinos, uma consulta popular constitui uma arma que encostará o grupo islâmico ainda mais na parede.
O ultimato de Abbas é uma jogada de alto risco. Se der certo, produzirá um Hamas mais moderado, o que interessa não só às potências internacionais e a Israel como aos palestinos, ansiosos pelo fim da asfixia. Mas se o efeito for o de agravar as divisões a ponto de implodir o governo, a situação voltará não à estaca zero do impasse, mas a um estágio anterior e mais volátil. Com o Hamas direcionando suas armas contra Israel e os rivais palestinos, a guerra civil deixará de ser apenas um risco iminente.


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