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Justiça manda confiscar bens da RCTV
Com militares na rua, presidente venezuelano reitera que não renovará concessão para emissora, que sai do ar amanhã
Chávez diz que "não há país no mundo com tanta liberdade de expressão"; para sindicato da imprensa, Judiciário está cooptado
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O Supremo Tribunal de Justiça, órgão máximo do Judiciário venezuelano, determinou
ontem à noite o confisco de instalações da RCTV para uso do
novo canal governista, Tves,
que substituirá a emissora oposicionista a partir de segunda-feira. A sentença também ordena o Ministério da Defesa a
"custodiar, controlar e vigiar"
os equipamentos. A decisão
ocorre em meio à crescente
tensão no país à medida que se
aproxima o prazo final para o
fim das transmissões da RCTV,
às 23h59 de amanhã.
"A Sala Constitucional do
Tribunal Supremo de Justiça
admitiu duas demandas por interesses difusos e coletivos, interpostas por diversos grupos
de usuários que solicitaram
medidas técnicas imprescindíveis para fazer efetiva a continuidade na prestação do serviço público de televisão aberta
em freqüência VHF designado
no canal 2", diz a decisão.
Com isso, ficarão a serviço do
novo canal estatal "microondas, teleportos, transmissores,
equipamentos auxiliares de televisão, equipamentos auxiliares de energia e clima, torres,
antenas, cassetes de transmissão, cassetes industriais, cerca
perimetral e rede elétrica" pertencentes à RCTV em 41 localidades por todo o país.
A decisão, segundo a sentença, ocorre "sem que isso implique a redução dos direitos de
propriedade que possam corresponder à Rádio Caracas de
Televisão sobre a infra-estrutura ou os equipamentos, com
exceção daqueles que legal ou
convencionalmente sejam propriedade da República".
"Como a RCTV não aceitou
comprar a proposta de vender
os equipamentos, eles estão
usando a via legal para se apropriar deles . É uma atrocidade",
disse à Folha Gregório Salazar,
secretário-geral do Sindicato
Nacional dos Trabalhadores de
Imprensa da Venezuela. "O
STJ mostra de novo que é um
apêndice do governo."
Rotina
Mais cedo, Chávez disse que
o fim da concessão da RCTV é
um "simples fato rotineiro".
Para o líder venezuelano, "dificilmente" há um país com "tanta liberdade de expressão".
O discurso, realizado durante
evento militar na cidade de
Barcelona (310 km a leste de
Caracas), foi transmitido em
cadeia nacional de rádio e TV.
Mais tarde, usou o mesmo recurso para mostrar a inauguração de um estádio de futebol da
Copa América, Táchira.
Ontem, Chávez colocou centenas de militares para patrulhar as ruas da capital. Mesmo
assim, não evitaram um ataque
de supostos supostos militantes chavistas contra a sede do
canal de notícias Globovisión,
crítico do governo. Segundo a
emissora, funcionários foram
agredidos e a sede foi pichada.
Também ontem, militantes
chavistas invadiram três faculdades da Universidade Central
da Venezuela, em resposta a
um protesto de estudantes contra o fechamento da RCTV.
Nas imediações da sede da
RCTV, na região de Caracas,
chavistas construíram um palco para comemorar o fim das
atividades do canal, na madrugada de amanhã para domingo.
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