São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 2000


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TRAGÉDIA NA FRANÇA
Avião da Air France, que ia a Nova York, pegou fogo pouco após decolar e atingiu um restaurante
Queda de Concorde mata 113 perto de Paris

France Presse
Vista aérea do local onde caiu o Concorde da Air France, em Gonesse


RONALDO SOARES
DE PARIS

Pelo menos 113 pessoas morreram ontem no primeiro grave acidente aéreo com um Concorde, em Gonesse, cidade a 21 quilômetros de Paris.
A aeronave, um Concorde da Air France com cem passageiros e nove tripulantes, decolou às 16h45 (11h45 em Brasília) do aeroporto Charles de Gaulle indo para Nova York, e caiu dois minutos depois sobre um campo de milho e trigo em Gonesse, atingindo ainda um restaurante à beira da rodovia N17.
Tanto a Air France quanto a British Airways, as duas únicas empresas que usam o Concorde, anunciaram que todos os seus vôos com a aeronave estão suspensos até segunda ordem.
Além de todas as pessoas a bordo do vôo AF 4590, entre as quais havia três crianças, morreram três funcionários do restaurante atingido e um cliente do estabelecimento. Cinco pessoas ficaram feridas.
Entre os passageiros do vôo, que tinha sido fretado pela operadora de turismo alemã Deilmann, havia 96 alemães, dois dinamarqueses, um austríaco e um norte-americano. De Nova York, embarcariam em um cruzeiro rumo ao Equador.
O cliente do restaurante atingido na queda era um britânico, segundo as autoridades francesas.
O impacto do acidente foi tão violento que restou apenas um entulho de fuselagem e terra. As equipes de socorro tiveram dificuldades para resgatar os corpos das vítimas carbonizadas.
A Air France montou um esquema especial para transportar as famílias das vítimas até a França para o reconhecimento dos corpos.
De acordo com testemunhas, o Concorde pegou fogo antes de cair. O fogo teria atingido o motor esquerdo do avião.
A informação foi confirmada por técnicos do Ministério do Interior da França e pela torre de comando do aeroporto, cujos controladores chegaram a avistar as chamas quando o avião estava decolando e ainda tentaram avisar o piloto, mas não tiveram tempo para interromper a operação.
De acordo com testemunhas, o avião saiu de sua rota pouco depois de decolar e fez uma meia-volta quando sobrevoava Gonesse. A manobra teria sido uma tentativa do piloto de reconduzir a aeronave ao aeroporto.
Segundo funcionários da Air France que trabalham no aeroporto, o Concorde decolou fazendo mais barulho do que o normal.

Inquérito
As autoridades francesas anunciaram a abertura de inquérito para investigar as causas do acidente. As duas caixas-pretas da aeronave foram encontradas na noite de ontem. "Elas serão analisadas agora", disse uma porta-voz do Ministério dos Transportes da França. "Ainda temos de ver em que condições elas se encontram."
O presidente da Air France, Jean-Cyril Spinetta, afirmou que o acidente se deu por problemas no motor da aeronave. Ele descartou que a tragédia tenha sido causada por fissuras nos Concordes da British Airways e da Air France, anunciadas na véspera do acidente.
"Não existe nenhuma ligação possível entre o motor e essas fissuras", afirmou Spinetta.
Segundo ele, o aparelho estava a serviço da companhia havia 20 anos, mas fora submetido a revisão quatro dias antes da tragédia.
O primeiro-ministro da França, Lionel Jospin, visitou o local do acidente e prestou condolências aos alemães mortos na tragédia. "Entrei em contato com Gerard Schroeder (chanceler alemão) para comunicar-lhe nosso pesar", afirmou Jospin.
Schroeder suspendeu todos os seus compromissos e determinou que o ministro dos Transportes da Alemanha, Reinhard Klimmt, viajasse imediatamente a Paris.
A Embaixada da Alemanha em Paris colocou um serviço telefônico especial à disposição das famílias das vítimas, para informações sobre o acidente.
O presidente da França, Jacques Chirac, que voltava de uma viagem ao Japão, desembarcou no aeroporto Charles de Gaulle pouco antes de o Concorde levantar vôo.
Esse foi o primeiro acidente grave com um Concorde desde seu lançamento, em março de 1969. Dos 12 Concordes ainda existentes após o acidente de ontem, sete pertencem à British Airways, e cinco, à Air France.


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