São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

Próximo Texto | Índice

GUERRA DE VOTOS

Para democrata, secretário da Defesa dos EUA falhou em seu dever de evitar maus-tratos em Abu Ghraib

Kerry pede que Rumsfeld saia do governo

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A cinco dias da convenção do Partido Republicano, em Nova York, o candidato democrata à eleição americana, John Kerry, pediu ontem a cabeça do secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, e intensificou os ataques contra seu adversário, o presidente George W. Bush.
Munido dos resultados das investigações independentes sobre os casos de maus-tratos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, e de uma carta de apoio de dez economistas vencedores do Prêmio Nobel, Kerry criticou Bush nos dois principais pilares dessa eleição: a segurança e a economia.
"Os americanos querem a verdade e punições. Estamos falando aqui de liderança e de apontar responsáveis", disse Kerry, em referência ao relatório sobre Abu Ghraib, divulgado um dia antes, que relatou "falha na cadeia de comando civil" dos EUA.
Além de pedir a demissão de Rumsfeld por "falhar no que ele deveria ter feito", Kerry afirmou, sem citar Bush, que o escândalo de Abu Ghraib fazia "parte do fracasso" que envolveu "cálculos e previsões erradas" no Iraque.
Em maio, Kerry já havia pedido a renúncia de Rumsfeld. Na ocasião, Bush afirmou que seu secretário vinha desempenhando sua função de maneira "soberba".

Pressão sobre subordinados
Um novo relatório sobre os maus-tratos em Abu Ghraib foi divulgado ontem. A investigação, feita por militares, revelou que pelo menos 23 integrantes do serviço de inteligência militar dos EUA e quatro pessoas contratadas por empresas trabalhando com eles "requisitaram, encorajaram ou solicitaram que se cometessem abusos" contra prisioneiros.
Essas 27 pessoas foram citadas pelo general de duas estrelas George Fay, um dos líderes da investigação. Fay responsabilizou pelo ocorrido o general de três estrelas Ricardo Sánchez, ex-chefe de operações militares no Iraque.
O general Paul Kern, encarregado da comissão que investigou a participação de militares da inteligência nos maus-tratos, disse que "Sánchez pressionou muito seus subordinados para que conseguissem rapidamente informações sobre um inimigo sem rosto que atacava os americanos".
Kerry promoveu um contra-ataque intenso contra um grupo de veteranos de guerra que o vem acusando, em anúncios na TV, de mentir sobre sua atuação, considerada heróica, no Vietnã. Um dos principais advogados da campanha de Bush pediu demissão ontem após revelar-se que teve relações esses veteranos.
Na seqüência, o democrata despachou dois veteranos ligados à sua campanha, um deles em cadeira de rodas, ao rancho de Bush no Texas para pressionar o presidente a condenar os anúncios na TV. Bush ignorou o pedido.
Na Filadélfia, Kerry acusou Bush de criar empregos que ""não geram salários suficientes para pagar contas e manter filhos na universidade". O democrata também apresentou carta assinada por dez vencedores do Nobel de Economia que acusa Bush de "embarcar num curso irresponsável que ameaça a saúde econômica dos EUA no longo prazo".
Kerry também obteve o apoio de uma série de estrelas de Hollywood, entre elas Matt Damon e Martin Sheen, que vão participar de anúncios de campanha produzidos pela organização MoveOn -a mesma que está organizando uma turnê pró-Kerry liderada pelo cantor Bruce Springsteen.


Próximo Texto: Principal líder xiita volta ao país para tentar conter crise em Najaf
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.