São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

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FILOSOFIA DO MEDO

Delumeau falou em congresso no Rio

"Busca febril por segurança gera angústia", diz historiador francês

DA SUCURSAL DO RIO

Um dos destaques do Congresso Internacional do Medo, o historiador francês Jean Delumeau foi assustador na maior parte de sua palestra, realizada ontem na Maison de France, no Rio. Mas, na conclusão, ressaltou o perigo do excesso de temor.
"A busca febril por segurança gera angústia. Não devemos recair na utopia da segurança generalizada, da assepsia universal. O medo é necessário e saudável para prevermos os perigos reais que nos ameaçam, como o desastre ecológico que estamos precipitando", afirmou ele no final da conferência.
Antes, o susto. Delumeau disse que "a multiplicação dos atos de terrorismo e o aperfeiçoamento das armas" têm aumentado o número de vítimas civis no mundo e, em conseqüência, a sensação de insegurança. Com a globalização, segundo ele, o terrorismo passou a atuar em escala planetária. "Ninguém, em lugar nenhum do mundo, está a salvo hoje", assinalou o historiador.
Delumeau traçou na palestra uma espécie de história do medo, ressaltando momentos em que ele foi extremamente forte, como na peste que assolou a Europa no século 14 e nas guerras do século 20, "o mais criminoso e sangrento da história".
Ele ainda falou de símbolos do medo, como o mar e a noite, e diferenciou os medos naturais (terremotos, furacões etc.) dos culturais. Para Delumeau, a época atual está marcada por um terrível medo cultural: "É o medo do outro, da diferença, do próprio homem", afirmou.
Respondendo a uma pergunta da platéia, ela relativizou a xenofobia na França. "Existe essa tentação por parte de uma minoria, mas não é geral. Esperamos contê-la", disse.
Organizado pelo jornalista Adauto Novaes, o Congresso Internacional do Medo prossegue até 29 de agosto. Hoje, Delumeau, que é professor do Collège de France, repete a palestra "Medos de ontem e de hoje", que fez ontem no Rio, no Teatro Aliança Francesa em São Paulo.
Na próxima semana, o Congresso Internacional do Medo prossegue no Rio de Janeiro e em São Paulo com palestras de especialistas como Francis Wolff, com a conferência "Deve-se temer a morte?", e Nathalie Frogneux, que aborda "O Medo Como Virtude".


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