São Paulo, quarta, 26 de agosto de 1998

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CERCO AO KREMLIN
A fim de driblar enfraquecimento de Ieltsin, analistas políticos propõem antecipar pleito marcado para o ano 2000
Rússia discute eleições antecipadas

das agências internacionais

A grave crise econômica e a última manobra do presidente russo, Boris Ieltsin -que trouxe de volta ao comando do governo o ex-premiê Viktor Tchernomirdin- aumentaram as pressões por eleições antecipadas no país.
Analistas políticos, como o ex-assessor de Ieltsin Gueorgui Satarov, afirmam que "as eleições presidenciais antecipadas se tornaram um imperativo econômico com a nomeação de Tchernomirdin".
Para Satarov -assessor de Ieltsin entre março de 94 e setembro de 97-, a crise econômica torna inevitável uma política impopular de austeridade, que só poderia ser conduzida por um governo despreocupado com as eleições.
O premiê interino Tchernomirdin já revelou o desejo de concorrer à Presidência no ano 2000. "Ele não poderá levar adiante o plano com apenas um ano e meio pela frente", diz Satarov.
O analista político Andrei Ilarionov disse, em entrevista ao principal jornal do país, o "Izvestia", que uma "união entre Tchernomirdin, os principais empresários e a oposição" deve pressionar Ieltsin a convocar eleições presidenciais ainda neste ano.
Em conversa telefônica, Ieltsin disse ontem ao presidente dos EUA, Bill Clinton, que a estabilização da economia é sua prioridade.
O presidente russo pediu aos ministros do governo demitido que continuem trabalhando até a constituição de um novo gabinete.
A indicação de Tchernomirdin ainda precisa ser submetida à Duma (câmara baixa do Parlamento). Se o nome não for aprovado em três votações, Ieltsin pode dissolver a atual Duma e convocar novas eleições legislativas.
Tchernomirdin negocia a formação do gabinete com a oposição neocomunista, que tem a maior bancada na Duma.
Os deputados oposicionistas fazem exigências, entre as quais a diminuição do poder de intervenção de Ieltsin nas decisões do governo.
"O governo terá de ser uma coalizão, caso eles queiram resgatar juntos o país da crise", disse ontem o presidente da Duma, o neocomunista Gennadi Selezniov.
O líder do Partido Comunista, Guennadi Ziuganov, afirmou que Ieltsin deve renunciar dentro de pouco tempo "por problemas de saúde". "Sua saída é uma questão de semanas."
Segundo a Constituição russa, em caso de "incapacidade permanente" do presidente para governar, o poder deve ser passado ao primeiro-ministro, que teria de convocar eleições em um prazo máximo de três meses.
Ontem, Boris Ieltsin, 67, disse que sua saúde está em boas condições. Em cerimônia no Kremlin, ele culpou os fotógrafos russos, dizendo que eles o fariam parecer mais velho.
Ieltsin já passou por cirurgias no coração e crises de pneumonia, e esteve ausente do Kremlin diversas vezes para fazer tratamentos.



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