CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Chega às livrarias dos EUA na próxima quinta-feira a biografia mais aguardada e, desde já, a mais discutida do ano: de Ronald Reagan, por Edmund Morris.
Levou 14 anos para ser completada, valeu ao autor US$ 3 milhões de adiantamento, tem tiragem inicial de 300 mil cópias.
O principal fator de confusão antecipada é o fato de Morris ter feito de si próprio um personagem fictício, que acompanha a vida de Reagan desde a juventude.
O Morris verdadeiro tem 59 anos, nasceu no Quênia, filho de um piloto de avião e uma dona-de-casa, e se encontrou com Reagan pela primeira vez em meados da década de 80.
O Morris do livro tem 87 anos, nasceu no Meio-Oeste dos EUA, filho de um milionário e uma cantora de ópera, e foi colega de Reagan desde o colegial.
A explicação do biógrafo para o recurso é que, em 1992, ele teve uma epifania: depois de ter vivido sete anos em contato direto e intenso com Reagan e sua história, sentiu-se fisicamente como um seu contemporâneo íntimo.
Mas Morris afirma não ter inventado nada - fatos, declarações, datas - além de si mesmo.
A técnica literária, no entanto, é o suficiente para despertar suspeitas. Historiadores, jornalistas e assessores de Reagan o condenam de antemão. Dizem que o livro deveria ser classificado como um romance, não uma biografia.
Alguns trechos conhecidos garantem mais confusão, como cenas em que Reagan demonstra desprezo total por seu vice e sucessor, George Bush, pai do líder nas pesquisas de intenção de voto para o pleito presidencial de 2000.
Entre os poucos que já leram "Dutch: A Memoir of Ronald Reagan" ("dutch", alemão na gíria dos EUA, era o apelido de Reagan na escola), muitos acham que o truque do falso Morris foi usado pelo real a fim de emprestar alguma vida interior inteligente ao personagem principal.
Em entrevista, o autor, que teve acesso quase completo a Reagan entre 1985 (terceiro dos oito anos de sua Presidência) e 1990, disse do objeto de seu livro: "Dutch permanece um mistério para mim; ele é um cabeça de vento".
A mistura de fantasia e realidade pode estar chocando muita gente. Mas haverá quem a considere natural, já que o próprio Reagan, quando presidente, dizia que às vezes não era capaz de distinguir o que vivera nos filmes, como ator, do que vivera de fato.
Reagan, 88, paciente do mal de Alzheimer (que provoca perda de memória) e sua mulher, Nancy, disseram por um porta-voz que não leram o livro por não terem ainda recebido uma cópia, mas estão ansiosos por conhecê-lo.


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