São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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EUA

Líder no Senado exige desculpas do presidente, para quem a oposição ignora a segurança do país por dificultar aval contra o Iraque

Democrata acusa Bush de politizar guerra

APTN/Associated Press
Imagem de TV mostra marines com um veículo anfíbio preparando-se para desembarcar no Kuait


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O presidente George W. Bush não está conseguindo converter seus altos índices de popularidade em apoio a uma eventual ação militar dos EUA contra o Iraque. Seguindo duro discurso do ex-presidente Al Gore anteontem, o líder da maioria democrata no Senado, Tom Daschle, voltou a bater no republicano ontem.
Em discurso no Capitólio, sede do Legislativo do país, o senador acusou o presidente de estar politizando o debate sobre a guerra contra o Iraque e exigiu que Bush peça desculpas por sugerir que os democratas não estão interessados na segurança da população.
"Isso é incorreto", disse Daschle. "Não podemos politizar essa guerra nem a retórica sobre a guerra, a vida e a morte. O senhor diz àqueles que lutaram no Vietnã e na Segunda Guerra Mundial que eles não estão interessados na segurança do povo americano porque são democratas. Isso é um ultraje. Ultraje."
Bush havia dito que o Senado "está mais interessado em Washington do que na segurança do povo americano". Ontem, o porta-voz da Casa Branca afirmou que as palavras do presidente haviam sido tiradas do contexto, mas reafirmou a crítica.
O discurso de Daschle foi feito simultaneamente à negociação que os líderes do Congresso conduzem com a Casa Branca em relação aos termos de uma resolução que autorizaria o presidente a usar a força para eliminar armas de destruição em massa do líder iraquiano, Saddam Hussein.
Democratas afirmam que o esboço de proposta que Bush enviou ao plenário na semana passada daria autoridade ilimitada ao presidente para usar a força militar contra o Iraque, mesmo unilateralmente. A Casa Branca responde que não é o caso.
Além dos interesses norte-americanos no Oriente Médio e no combate ao terrorismo internacional, há um motivo pedestre em jogo na briga entre o governo republicano e a oposição democrata: os americanos vão às urnas no dia 5 de novembro próximo para renovar parte do Congresso nacional e diversos governos estaduais e seus legislativos.
Ambas as partes se acusam de estar usando a eventual ação militar no Iraque com interesses eleitorais: democratas dizem que seus oponentes tentam desviar a atenção de questões internas mais importantes, como os escândalos contábeis e o desaquecimento da economia; republicanos devolvem acusando seus adversários de falta de patriotismo.

Maioria quer coalizão
Internamente, os democratas parecem os mais alinhados com o pensamento da população, pelo menos neste caso. Pesquisa divulgada ontem afirma que dois terços dos norte-americanos acreditam que os Estados Unidos não devam agir sozinhos numa ação militar contra o Iraque.
O levantamento, feito a pedido do departamento de jornalismo da emissora CBS, ouviu 900 adultos no país inteiro no domingo e na segunda-feira. Destes, 600 disseram que o país deve esperar pelo apoio de seus aliados antes de se lançar em qualquer ofensiva.
Segundo a pesquisa, o papel da Organização das Nações Unidas deve ser fortalecido. Assim, 51% dos ouvidos disseram que o Congresso norte-americano deve esperar a atuação da ONU antes de votar uma resolução que autorize ações militares contra o Iraque.
Ainda, 52% acreditam que a Casa Branca deve esperar igualmente a posição da entidade multinacional antes de agir por conta própria e 51% preferem que os EUA dêem mais tempo à ONU para conseguir o retorno dos inspetores de armas ao país árabe antes de agir militarmente.


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