UOL


São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fracasso no Iraque faz presidente ter imagem de perdedor, diz analista

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Mais importante que a ausência de armas de destruição em massa no Iraque é a percepção popular, nos EUA, de que a reconstrução do país é um fracasso, o que torna o presidente George W. Bush um perdedor aos olhos do eleitorado.
A análise é de Michael Bailey, doutor em ciência política, especialista em eleições e professor de administração pública na Universidade de Georgetown (EUA).
 

Folha - Como a possível admissão de que não há armas de destruição em massa no Iraque afetará a já minada popularidade de Bush?
Michael Bailey -
É claro que isso prejudicará ainda mais sua credibilidade. Mas creio que a maior parte da população já tenha percebido que Bush exagerou a ameaça representada pelo Iraque.
O índice de aprovação de sua administração vem caindo desde que a reconstrução do Iraque se tornou um fracasso. No passado, mesmo com a grande oposição internacional ao conflito, Bush ainda era visto como um vencedor. Agora ele é considerado um perdedor. Imagens do fracasso estão sendo associadas a ele.
A ausência das armas de destruição em massa no Iraque não é tão grave quanto o fato de que Bush não mais é visto como um vencedor pela população. Se a situação no Iraque estivesse excelente, não estaríamos falando sobre a popularidade de Bush agora.

Folha - Qual é a influência de questões econômicas sobre a queda de popularidade de Bush?
Bailey -
As dificuldades econômicas, que afetam boa parte da população das classes menos abastadas, também são um problema para Bush. Creio, todavia, que haja uma relação estreita entre a economia e a crise iraquiana.
Afinal, as pessoas não sabem exatamente por que a economia não vai bem, no entanto vêem uma quantidade enorme de dinheiro ser gasta na reconstrução do Iraque e associam um fato ao outro. Nas ruas, a percepção geral é que a fortuna despendida no Iraque deveria ser gasta nos EUA.
Os americanos ligam o preço da reconstrução à morosidade econômica, ao aumento dos impostos estaduais e à falta de uma resposta adequada aos problemas energéticos que o país enfrenta.

Folha - Atualmente, os americanos dão mais atenção à política externa que no passado?
Bailey -
Não. No início, as pessoas achavam interessante assistir à guerra na TV, mas agora percebem que o conflito terá graves consequências domésticas. A população está menos preocupada com a essência da política externa dos EUA que com o impacto que ela terá sobre sua segurança econômica. Esse elo entre o Iraque a economia é perigoso para Bush.
Ademais, desde a semana passada, os democratas parecem ter ganhado novo alento, e pesquisas de intenção de voto já mostram que o general Wesley Clark poderá impedir Bush de reeleger-se.
Parte significativa do eleitorado está descontente com o presidente. Clark encarna a vontade popular de mudança e não parece ser tão fraco quanto os outros pré-candidatos democratas. É cedo para especular sobre a eleição presidencial, porém é inegável que Clark tem chance de vencê-la.


Texto Anterior: Popularidade de Bush chega ao nível mais baixo, revela pesquisa
Próximo Texto: Todos os homens
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.