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Fracasso no Iraque faz presidente
ter imagem de perdedor, diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Mais importante que a ausência
de armas de destruição em massa
no Iraque é a percepção popular,
nos EUA, de que a reconstrução
do país é um fracasso, o que torna
o presidente George W. Bush um
perdedor aos olhos do eleitorado.
A análise é de Michael Bailey,
doutor em ciência política, especialista em eleições e professor de
administração pública na Universidade de Georgetown (EUA).
Folha - Como a possível admissão
de que não há armas de destruição
em massa no Iraque afetará a já minada popularidade de Bush?
Michael Bailey - É claro que isso
prejudicará ainda mais sua credibilidade. Mas creio que a maior
parte da população já tenha percebido que Bush exagerou a
ameaça representada pelo Iraque.
O índice de aprovação de sua
administração vem caindo desde
que a reconstrução do Iraque se
tornou um fracasso. No passado,
mesmo com a grande oposição
internacional ao conflito, Bush
ainda era visto como um vencedor. Agora ele é considerado um
perdedor. Imagens do fracasso
estão sendo associadas a ele.
A ausência das armas de destruição em massa no Iraque não é
tão grave quanto o fato de que
Bush não mais é visto como um
vencedor pela população. Se a situação no Iraque estivesse excelente, não estaríamos falando sobre a popularidade de Bush agora.
Folha - Qual é a influência de
questões econômicas sobre a queda de popularidade de Bush?
Bailey - As dificuldades econômicas, que afetam boa parte da
população das classes menos
abastadas, também são um problema para Bush. Creio, todavia,
que haja uma relação estreita entre a economia e a crise iraquiana.
Afinal, as pessoas não sabem
exatamente por que a economia
não vai bem, no entanto vêem
uma quantidade enorme de dinheiro ser gasta na reconstrução
do Iraque e associam um fato ao
outro. Nas ruas, a percepção geral
é que a fortuna despendida no
Iraque deveria ser gasta nos EUA.
Os americanos ligam o preço da
reconstrução à morosidade econômica, ao aumento dos impostos estaduais e à falta de uma resposta adequada aos problemas
energéticos que o país enfrenta.
Folha - Atualmente, os americanos dão mais atenção à política externa que no passado?
Bailey - Não. No início, as pessoas achavam interessante assistir
à guerra na TV, mas agora percebem que o conflito terá graves
consequências domésticas. A população está menos preocupada
com a essência da política externa
dos EUA que com o impacto que
ela terá sobre sua segurança econômica. Esse elo entre o Iraque a
economia é perigoso para Bush.
Ademais, desde a semana passada, os democratas parecem ter
ganhado novo alento, e pesquisas
de intenção de voto já mostram
que o general Wesley Clark poderá impedir Bush de reeleger-se.
Parte significativa do eleitorado
está descontente com o presidente. Clark encarna a vontade popular de mudança e não parece ser
tão fraco quanto os outros pré-candidatos democratas. É cedo
para especular sobre a eleição presidencial, porém é inegável que
Clark tem chance de vencê-la.
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