São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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Mais de 200 candidatos estão na disputa para chegar à Casa Branca

DA REDAÇÃO

Além de George W. Bush, John Kerry e Ralph Nader, a eleição presidencial dos EUA deste ano vai ter pelo menos outros 201 candidatos. O número exato de postulantes à Presidência nem a Comissão Eleitoral Federal sabe qual é: as leis eleitorais permitem que os candidatos inscrevam-se em nível estadual e só exigem o registro federal se ele receber ou gastar mais de US$ 5.000 na campanha.
As exigências para alguém se candidatar não são muitas: ter nascido nos EUA, ter vivido mais de 14 anos no país e ter mais de 35 anos. Mesmo assim, há partidos que ignoram esses requisitos. O Partido dos Trabalhadores Socialistas escolheu como candidato o jornalista Róger Calero, que nasceu na Nicarágua e já enfrentou um processo de deportação.
"Acho que sou mais representativo da composição da classe trabalhadora nos EUA hoje do que qualquer um dos dois milionários que estão correndo pelo país, fingindo falar em nome dos trabalhadores. Defendemos o direito de qualquer um que trabalha e vive neste país de participar da política", afirma Calero.
Apesar de ser candidato, Calero não tem ilusões de vitória. A campanha é um instrumento para divulgar a causa socialista. "Nada do que foi conquistado neste país, da Seguridade Social até a saída dos EUA do Vietnã, a luta contra o racismo e o direito das mulheres ao aborto, veio através de eleições. Foram precisos movimentos sociais para fazer essas mudanças."
Gene Amondson, do Partido da Lei Seca, também não se permite sonhar morando na Casa Branca. Ele pretende apenas chamar atenção sobre o que diz ser o "problema número 1" dos EUA: o álcool.
"Os jornais e o rádio precisam do dinheiro da propaganda do álcool e por isso jamais contam a verdade sobre a Lei Seca. Quando olhamos para esse período [1919-33] vemos que nossas prisões se esvaziaram, as instituições mentais se esvaziaram e os níveis de cirrose caíram pela metade, de 15% para 7%", afirma.
Apesar de ter sido fundado em 1868, o Partido da Lei Seca tem somente "entre 30 e 40" membros, segundo Amondson. Por menor que seja o número de integrantes, isso não impediu que o partido rachasse e lançasse dois candidatos. "Temos duas facções. Temos a turma velha, com 70 anos, e a turma jovem, como eu, que tem 60. É chato que estejamos divididos agora, mas ainda temos que trabalhar juntos porque temos um inimigo maior, que é a indústria da bebida", diz Amondson.
Ao lado de partidos "históricos" também competem partidos virtuais, como o Partido X. "Ele não está registrado, não tem membros, não tem líderes oficiais, não tem posição sobre temas e não aceita ou gasta dinheiro", diz o candidato Darren Karr. Sua plataforma defende o fim da cobrança do imposto de renda e do politicamente correto. "Precisamos de tolerância e não de politicamente correto", afirma.
David Cobb, do Partido Verde, diz que não teme ser chamado de doido por ousar competir contra Bush e Kerry: "Através da história, pessoas foram chamadas de loucas por lutar por justiça social. Pessoas que queriam acabar com a escravidão e dar o direito de votar às mulheres foram chamadas de loucas. Sinto-me confortável na companhia desses patriotas".
Cobb não vê chances de um partido menor vencer as eleições enquanto as regras não forem mudadas. Ele defende a adoção de um sistema chamado "instant runoff voting" (segundo turno instantâneo). "É o método usado para eleger o presidente da Irlanda, o prefeito de Londres e várias autoridades na Austrália", diz.
Nesse sistema, o eleitor classifica os candidatos por ordem de preferência. O vencedor é escolhido num processo que vai eliminando sucessivamente o último colocado e transferindo os votos que este recebeu para o que aparece como opção seguinte do eleitor até que um obtenha a maioria.
O fato de mais de 200 pessoas se anunciarem como candidatas a presidente, contudo, não quer dizer que a cédula (ou a tela do computador, nos locais onde houver urna eletrônica) irá apresentar o nome de todas elas.
A verdadeira barreira (esquecendo-se a financeira) que separa os candidatos dos partidos Republicano e Democrata dos demais são as condições que os candidatos nanicos devem satisfazer para ganhar o direito de aparecer na cédula. De maneira geral, os Estados exigem que os candidatos apresentem listas com o endosso de milhares de eleitores.
"Os EUA provavelmente têm as restrições mais reacionárias à participação de partidos independentes nas eleições. Fomos forçados a coletar mais de 60 mil assinaturas para que as cédulas tenham nossos nomes em 14 Estados", diz Calero.

Candidatos "write-in"
Os que não se qualificam tornam-se candidatos "write-in" -o eleitor tem que escrever (ou digitar) o nome do escolhido.
"Na última eleição houve 17 diferentes partidos representados por candidatos que receberam votos -embora alguns tenham recebido apenas algumas centenas. Houve também cerca de 20 mil votos para candidatos write-in", afirma Kelly Huff, da assessoria de imprensa da Comissão Eleitoral Federal. (VP)


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