São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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Globalização leva à aceitação de travestis, afirma Florencia de la V

DE BUENOS AIRES

Florencia de la V, 28, veio ao mundo com nome de celebridade brasileira. Os pais batizaram de Roberto Carlos o então menino nascido na Província do Chaco. Mas Florencia, que se diz fã de Caetano Veloso, diz que seu nome original não tem nada a ver com o cantor brasileiro.
Ao iniciar sua carreia ainda adolescente em espetáculos de Teatro de Revista, adotou o nome de Florencia de la Vega. Por causa de um processo iniciado por uma autêntica de la Vega, teve de encurtar o sobrenome fantasia.
Há seis anos vive com Pablo Goycochea, dentista divorciado e pai de dois filhos, e o poodle Cayetano, cujo nome, segundo diz, também não tem nada a ver com seu ídolo brasileiro, mas é uma homenagem ao santo dos trabalhadores. Florencia falou com a Folha em seu camarim no Teatro Tita Merello, onde faz o espetáculo "Uma Revista Diferente". (CD)
 

Folha - Que mudança houve na sociedade argentina que permitiu tamanho sucesso a um travesti?
Florencia de la V -
Eu acho que a mudança foi na TV, e não na sociedade. Acho que a mudança tem a ver com a globalização. Sai um programa americano e logo estão passando aqui e isso ajuda a mudar a cabeça das pessoas.
Sinto que minha inserção na TV teve muito a ver com minha forma relaxada de falar de todos os temas, sobretudo sobre minha condição sexual. Acho que reivindiquei o travestismo não só como prostituição ou como forma de vida marginal, mas como qualquer outro ser humano que pode ter uma profissão, escolher uma carreira e viver dignamente.

Folha - Buenos Aires foi a primeira cidade da América Latina a permitir a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Os argentinos estão mais aberto ao tema?
Florencia -
A união civil foi um avanço, sem dúvida. Mas a sociedade argentina é muito hipócrita. A aprovação da união civil foi um momento, aprovaram e não se falou mais nisso. Acho que a personagem Laisa deu uma outra perspectiva ao tema porque o trata como uma problemática social.
Aqui a TV sempre mostrou a família tradicional argentina. Mas os Roldáns são uma família simples que poderia estar em qualquer lugar do mundo. Quem não tem um gay na família? É uma novela que mostra a vida como ela é.
Passá-la no horário nobre também é um avanço. Aqui sempre que se tocava no tema homossexualismo depois das dez da noite e de uma perspectiva marginal. Mas as pessoas aceitaram muito bem o personagem. Eu até recebo desenho das crianças.

Folha - Agora que é quase uma, o que acha da mulher argentina?
Florencia -
Acho que elas têm muito a aprender com as brasileiras, mais naturais. As argentinas são muito artificiais. Os homens, sim, são boa mercadoria. Os melhores do mercado, eu acho.


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