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"Não cogitamos tocar na embaixada"
Presidente golpista nega ataque com gás à missão brasileira e diz que os próprios zelaystas cortaram a luz
Em entrevista à Folha, Roberto Micheletti diz ter fé de que, após as eleições, países mudarão de ideia e
reconhecerão novo governo
DO ENVIADO A TEGUCIGALPA
O presidente golpista de
Honduras, Roberto Micheletti,
disse que as eleições presidencias de novembro serão a solução da crise e pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
que proíba Manuel Zelaya de
"incitar atos de vandalismo" a
partir da embaixada brasileira.
Leia, a seguir, a entrevista exclusiva concedida à Folha:
(FM)
FOLHA - O seu governo divulgou
um comunicado muito duro contra
o governo brasileiro, afirmando que
tinha conhecimento prévio da entrada de Zelaya à embaixada. O sr.
acha realmente que o Brasil teve
participação na volta de Zelaya?
ROBERTO MICHELETTI - Eu quero
crer no presidente Lula, porque
ele disse que não havia nada
preparado. No entanto, o sr. Zelaya, em declarações públicas,
disse que tinha a aprovação de
Lula para entrar na embaixada.
FOLHA - O comunicado era muito
duro.
MICHELETTI - É que ele [Lula] começou a insistir em que nós estávamos procurando entrar na
embaixada. Começou a exigir o
direito internacional, as convenções. Mas nós, em nenhum
momento, pretendemos tocar
na embaixada brasileira. Somos respeitosos, o Brasil tem
sido um país amigo. Até com
países que não têm sido [amigos]. A Venezuela tem sido
agressiva, nos tem agredido
verbalmente, mas não chegamos a fechar as portas ou tentar
obrigar os representantes da
Venezuela a deixar o país. Mas
temos sido respeitosos e continuaremos sendo. Não tenho a
menor dúvida de que a polícia e
o Exército escutarão das ordens da Chancelaria de não se
atrever a infringir a lei.
FOLHA - Houve um incidente hoje
[ontem]. Zelaya acusou o senhor de
atacar a embaixada com gás, e um
funcionário brasileiro teve mal-estares. Houve algum tipo de ação?
MICHELETTI - Não. Nós, quando
desalojamos essas pessoas que
estavam lá, atiraramos bombas
lacrimogêneas. O que fizemos
depois foi resguardar, proteger
a embaixada e a vida dos cidadãos que estão lá dentro. O governo não tem a menor intenção [de fazer essas ações]. Fomos acusados de cortar a luz. A
luz foi cortada pelos próprios
manifestantes, e a água se foi
precisamente porque, ao não
haver luz, as cisternas não funcionam. Mas nós ordenamos de
imediato à empresa elétrica
que reinstalasse a luz.
Outra coisa que disse a Lula:
que, da mesma forma que nos
pedia para assegurar os bens da
embaixada, que ele ordenasse
seu hóspede a não incitar, dos
balcões da embaixada, o povo a
movimentos grosseiros. Porque disso decorreu todo tipo de
vandalismo. Todo mundo o viu
no balcão da embaixada exortando as pessoas a cometer atos
de vandalismo.
FOLHA - Mas o telefone da embaixada continua cortado.
MICHELETTI - Eu não tenho como explicar, mas não acredito
que esteja cortado. Todos os celulares estão funcionando. Zelaya disse ontem [anteontem]
que todos os celulares estavam
cortados, e [Hugo] Chávez está
dizendo que falou por três horas com ele.
Todos os que estão dentro da
embaixada recebem e fazem
chamadas telefônicas. É inaudito que estejam acusando o
governo desse tipo de coisa.
O que temos entendido é que
Zelaya está planejando sair da
embaixada para um hospital
para depois tentar tomar a Casa
Presidencial.
FOLHA - O sr. enviou o dirigente
político Arturo Corrales para falar
com Zelaya. Qual foi a mensagem,
do que se tratou a conversar?
MICHELETTI - Iniciar as conversas, escutar o que eles estavam
pretendendo, buscar uma fórmula para que o diálogo resulte
em algo positivo. Eles o trataram bem, mas não houve nenhum resultado. Não tivemos
uma resposta que realmente
nos tenha agradado.
Quero dizer aos irmãos do
Brasil que há um interesse absoluto de Honduras, ter eleições em 29 de novembro, eleições programadas em 2008.
FOLHA - É possível fazer uma campanha eleitoral com Zelaya na embaixada brasileira?
MICHELETTI - A campanha eleitoral não parou, isso depende
dos partidos políticos, da ação
que tomem os candidatos para
a propaganda. Nenhum candidato parou. Em novembro, teremos um novo presidente
eleito. Estou convencido de
que, passadas as eleições, os
países amigos, com quem temos sido irmãos, reverão a decisão [de não reconhecer as
eleições] porque vão negociar
com um homem eleito pela
maioria do povo. Temos muita
fé de que os outros governos
entendam que não fizemos um
golpe de Estado, não fizemos
nada ilegal, estamos atuando
dentro da Constituição.
FOLHA - O presidente da Costa Rica, Óscar Arias, disse que as eleições
de novembro podem dar fim à crise
política. Como poderia ser a solução
neste ambiente tumultuado, sem
reconhecimento de organismos como ONU e OEA?
MICHELETTI - Acreditamos que a
eleição seja a via para conseguir
a tranquilidade. A pergunta que
faço é: e o Brasil não veio de um
governo militar a um governo
democrático? O Chile, a Argentina e a Guatemala, da mesma
forma. Neste caso, não cometemos um golpe de Estado, porque os militares tomam o poder. Aqui, os militares estão
apoiando a democracia.
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