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Ocidente acusa Irã de omitir usina nuclear
Em tom duro, líderes de EUA, França e Reino Unido dizem que Teerã escondeu da AIEA nova planta para enriquecer urânio
Para Obama, "esta usina não condiz com um programa nuclear pacífico'; Sarkozy dá três meses para Irã cooperar sob pena de renovar sanções
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH
EUA, França e Reino Unido
acusaram ontem o Irã de construir secretamente uma segunda usina de enriquecimento de
urânio, sob uma montanha na
cidade sagrada xiita de Qom
(sul de Teerã), e de esconder
por anos o projeto das inspeções nucleares internacionais.
Ante a revelação, as potências ocidentais exortaram Teerã a expor em detalhes o seu
programa nuclear, sobre o qual
recai a suspeita de visar a bomba atômica -o que o Irã nega.
Ao lado do premiê britânico,
Gordon Brown, e do presidente
francês, Nicolas Sarkozy, o presidente dos EUA, Barack Obama, interrompeu pela manhã o
início da reunião de cúpula do
G20, em Pittsburgh, para soltar
um comunicado fazendo a revelação e incitando o Irã a "assumir suas obrigações" perante
a comunidade internacional.
"O tamanho e a configuração
desta usina não são consistentes com um programa pacífico", disse Obama. "O Irã está
quebrando regras que todos os
países deveriam seguir, ameaçando diretamente o regime de
não proliferação e negando ao
seu próprio povo acesso às
oportunidades que merece."
O Irã é alvo de sanções da
ONU por se recusar a suspender seu programa de enriquecimento de urânio e por negar o
acesso à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)
às suas instalações nucleares.
Teerã opera há anos uma usina, em Natanz, com cerca de
4.500 centrífugas para enriquecer urânio (sua existência
foi descoberta em 2002). A nova unidade, segundo os EUA,
teria capacidade para outras
3.000 centrífugas e estaria localizada a 150 km da capital.
O Irã alega que o seu programa nuclear é pacífico e destinado à geração de energia elétrica
-o que tem direito sob o Tratado de Não Proliferação, porém
em cooperação com a AIEA.
"Se até dezembro não houver
mudança profunda entre líderes iranianos, novas sanções serão adotadas. Tudo deve ser colocado na mesa", disse Sarkozy.
"Não há precedentes sobre o
que aconteceu hoje, com todos
os países envolvidos nessas negociações condenando o Irã",
disse Obama, que não descartou usar a força contra o país.
"Não vou descartar nenhuma
opção quando os interesses do
povo americano estiverem em
jogo. A minha preferência é resolver essa questão pela via diplomática. [Mas] isso quem vai
decidir é o Irã", disse Obama.
Na semana que vem, o Irã e o
P5+1 -grupo que reúne EUA,
Reino Unido, França, China e
Rússia (membros permanentes
do Conselho de Segurança da
ONU) e a Alemanha- terão,
em Genebra, o primeiro encontro desde o ano passado para
discutir seu programa nuclear.
Obama disse que o Irã deve ir
"limpo" para a reunião e "terá a
chance de abandonar o seu desejo de ter armas atômicas".
Para Brown, "o nível de enganação do governo iraniano e a
escala do que nós acreditamos
que seja uma quebra de seus
compromissos internacionais
serão um choque e revoltarão a
comunidade internacional".
O presidente russo, Dmitri
Medvedev, disse por sua vez
que "se pode contar com o fato
de que o Irã dará resposta convincente" na reunião. A Rússia,
ao lado da China, é o país mais
reticente a novas sanções contra Teerã, embora tenha dado
sinais de que pode endurecer.
Segundo a AIEA, o Irã comunicou a existência da usina em
carta enviada na segunda passada à agência ligada à ONU.
O documento teria sido enviado após o Irã tomar conhecimento de que os EUA e outros
países já sabiam da existência
da usina. Ao saber da carta à
AIEA, EUA, França e Reino
Unido enviaram à agência todas as informações que vinham
levantando "há algum tempo".
A AIEA disse ontem que o Irã
descreveu a usina como "nova
unidade de enriquecimento em
construção". A agência disse
que pediu formalmente novas
informações sobre a unidade e
uma inspeção o quanto antes.
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, não disse
nada sobre a existência desta
segunda usina em sua visita
nesta semana à ONU. Na ocasião, ele disse que seu governo
já colaborou com inspetores da
AIEA e que são falsas as afirmações de que o programa nuclear
do país serve a fins militares.
O governo dos EUA declarou
que a nova usina está sendo
construída em área fortemente
protegida e pode ficar pronta
"nos próximos meses com capacidade para produzir uma ou
duas bombas atômicas ao ano".
Anteontem, o Irã já sofrera
um revés ao ver aprovadas no
CS da ONU e no G8 medidas
que apertam o cerco a que seu
programa nuclear seja adequado às normas internacionais.
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