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Praga, arbusto simboliza a queda agrícola em Cuba
Marabu, proveniente da Europa no século 19, ocupa 18% das terras agricultáveis da ilha e entristece lavradores
Decadência tem origem na queda soviética, que deixou o regime cubano sem compradores para boa parte da produção
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA (CUBA)
"Aqui antes era um grande
pomar. Tinha manga, banana, papaia, toronjas, abacaxis. Hoje, é só essa maldição
do marabu", lamenta-se o
agricultor Pedro S., 64, morador de Candelária, cidade a
84 km de Havana.
O marabu, Dichrostachys
cinerea, um arbusto espinhoso proveniente da Europa, é o
maior símbolo da crise atual
da agricultura cubana.
Não se sabe como o Dichrostachys cinerea entrou na
ilha, apenas que isso ocorreu
já no final do século 19.
Hoje, epidêmico, o vegetal
contamina 10% de Cuba, ou
18% das terras agricultáveis
-uma enormidade equivalente à área de um milhão de
campos de futebol.
"Onde o marabu invade,
não se consegue plantar
mais nada, a menos que entrem em ação tratores com
braços capazes de arrancar
as duras e profundas raízes
do solo", diz o agrônomo Carlos F. "Mas os poucos tratores não dão conta."
No domingo passado, em
Candelária, em um bairro de
200 famílias, a barraca de
António R. exibia apenas
uma peça de perna de porco.
"Não se traz mais porque não
se vende mesmo", disse o
açougueiro, expondo a peça
sem refrigeração às moscas,
na porta de sua casa.
Segundo ele, além dos tratores para arrancar o marabu, falta o combustível.
"Desde a queda do campo
socialista, o acesso a tais insumos ficou muito restrito",
diz. O resultado é desastroso
para a economia agrícola,
com o consequente abandono dos campos -e o inchaço
das cidades, onde apesar de
tudo ainda floresce o turismo
incentivado pelo governo.
ASCENSÃO E QUEDA
Até a queda do Muro de
Berlim, em 1989, e a derrocada da ex-União Soviética, a
economia cubana ancorava-se na agricultura voltada para a exportação.
Nos anos de 1969-70, por
exemplo, o Partido Comunista Cubano lançou o chamado
"Esforço Decisivo", mobilização à escala nacional com
o objetivo de elevar a produção de açúcar na ilha à marca
das 10 milhões de toneladas.
A meta não foi atingida,
mas bateu-se o recorde mundial. Cuba tornou-se o principal produtor da commodity.
O objetivo era usar a mercadoria para financiar construção civil, aquisição de indústrias e de todos os demais
bens de que o país necessitava. Por 30 anos, funcionou.
O colapso da União Soviética e ao mesmo tempo a manutenção do embargo econômico iniciado pelos EUA em
1962, porém, fizeram com
que, no início dos anos 1990,
a produção agrícola cubana
ficasse sem compradores.
"A primeira providência,
então, foi liberalizar a economia agrícola", diz Ramón H.,
docente da Universidade de
Havana. "Foi a forma encontrada para dividir com empreendedores privados e
cooperativas de agricultores
os imensos deficits do setor."
Hoje, se 95% da economia
cubana em geral está em
mãos do Estado, no setor
agrícola, o grau de estatismo
cai para 61%, segundo dados
do próprio governo.
Cuba ainda produz cana
(apenas uma fração dos recordes passados), tabaco e
café, mas importa verduras,
frutas e proteína animal até
para a própria subsistência.
"Sem investimento, sem
mão de obra, sem máquinas
e equipamentos, o campo
transformou-se em território
livre para o marabu", resume
o professor Ramón H..
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