São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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Folha Transparência

Fidel mostrou "apreço" por Collor em crise política

Ditador veio à Eco-92 para prestigiar brasileiro, diz telegrama diplomático

Documentos obtidos pela Folha revelam intenso apoio político e econômico de Collor ao mandatário de Cuba

RUBENS VALENTE
FERNANDA ODILLA

DE BRASÍLIA

Em plena crise que levou ao impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, o então ditador cubano, Fidel Castro, enviou uma mensagem de apoio ao brasileiro, segundo telegramas confidenciais do Itamaraty obtidos pela Folha.
Os documentos fazem parte de uma leva de 636 telegramas inéditos trocados entre o Itamaraty e a Embaixada do Brasil em Havana e que desde ontem estão sendo divulgados na íntegra no Folha Transparência.
Em junho de 1992, Fidel chamou o embaixador brasileiro em Havana, Asdrúbal Ulyssea, durante uma recepção, e disse que "sente uma grande amizade pelo nosso país e tem grande apreço pelo presidente Collor".
Desde o mês anterior, o Brasil vivia grande efervescência política, desencadeada pelas acusações do irmão do presidente, Pedro Collor, que levaram ao afastamento de Collor, em outubro.
Em Brasília, horas antes do recado de Fidel, o ex-tesoureiro de Collor, Paulo César Farias, havia dito ao Congresso que a campanha do presidente gastou mais do que o declarado à Justiça Eleitoral.
Hoje senador, Collor é o relator do projeto que tramita no Senado sobre sigilo de informações -ele tem sido acusado de defender o sigilo eterno de documentos secretos.
Em sinal de prestígio a Collor, Fidel também veio à Eco-92, conferência que discutiu políticas para o meio ambiente, no Rio de Janeiro.
Para o embaixador em Havana, na decisão de Fidel de participar da conferência "pesaram os laços que o prendem ao Brasil e em particular ao presidente Collor".

DIPLOMACIA
Os papéis do Itamaraty revelam que Fidel Castro tinha motivos diplomáticos e econômicos para apreciar Collor.
Com a queda do Muro de Berlim (1989), a Rússia cancelou o programa de troca de petróleo por açúcar, dentre outros programas de cooperação, ampliando a crise econômica de Cuba e os efeitos do embargo impostos pelos Estados Unidos desde 1962.
Fidel passou a apostar no Brasil como parceiro comercial, trocando vacinas pelo abatimento da dívida com empresas e bancos do Brasil.
Mas o maior apoio do governo Collor a Fidel veio no campo diplomático, das pequenas às grandes questões.
Em março de 1990, o Itamaraty emitiu um comunicado curto e claro para seu embaixador em Havana.
Ele havia sido procurado para uma entrevista à "TV Martí", criada pelo governo dos EUA numa espécie de guerra psicológica contra Cuba. Brasília determinou: "Nas atuais circunstâncias, não é recomendável contato com a 'TV Martí'".
Os telegramas revelam inúmeras trocas de votos entre Brasil e Cuba para apoio a candidatos em organismos internacionais. Em abril de 1991, o Itamaraty orientou o embaixador em Havana a "confirmar o apoio do governo brasileiro à candidatura de Cuba" à CDH (Comissão de Direitos Humanos) da ONU.
A retirada de Cuba de um cargo da CDH era uma prioridade da política dos EUA em 1990, poucos dias antes da posse de Collor.
Os EUA procuraram diplomatas do Brasil para pedir que o país lançasse um candidato que pudesse impedir a eleição de Cuba. O Brasil não aceitou, embora Cuba já fosse alvo de denúncias de abusos contra dissidentes.
Ao mesmo tempo, o Brasil sempre apoiou resoluções da ONU contra o embargo comercial à ilha.


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