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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL
Após cirurgia, o ex-presidente entra na campanha, diz que seu sucessor assusta o país e afirma que a economia, no seu tempo, ia melhor
Clinton sobe no palanque e acusa Bush
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL À FILADÉLFIA
Muito mais magro e pálido, o
ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) subiu ontem no palanque
com o democrata John Kerry para
acusar o presidente George W.
Bush de assustar o país e lembrar
os eleitores de que, no seu governo, a economia ia bem melhor.
Diante das cerca de 15 mil pessoas que lotaram o Love Park, na
Filadélfia, Clinton disse estar "orgulhoso" do desempenho de
Kerry e minimizou sua própria
condição cardíaca. Há sete semanas, uma cirurgia o tirou da campanha, e o comício de ontem foi
sua primeira aparição pública
desde então. "Se isso aqui não é
bom para o meu coração, então
não sei o que é", disse.
Apesar da evidente perda de peso, Clinton falou ao público entusiasmadamente por quase dez
minutos. Com sua presença na Filadélfia, a cidade mais populosa
da Pensilvânia, os democratas esperam consolidar uma vantagem
recém obtida por Kerry aqui. À
noite, o ex-presidente participaria
de um evento na Flórida, outro
Estado decisivo.
"Clinton é um superstar. Ele
motiva as pessoas", disse à Folha
a lojista Linda Tabas. "É disso que
precisamos agora."
Com a corrida acirrada e a expectativa de um número recorde
de votos, a estratégia para a reta final é focar os Estados onde o pleito ainda não está definido, buscando não só conquistar os indecisos mas convencer mais eleitores a ir às urnas num país onde o
voto não é obrigatório.
Nesse aspecto, a presença de
Clinton no palanque de Kerry é
um trunfo. O ex-presidente conta
com uma sólida base de apoio entre os negros e as mulheres, dois
grupos que tradicionalmente votam nos democratas mas que receberam a candidatura de Kerry
com apatia. No evento de ontem,
os dois grupos representavam
não só uma parcela significativa
da platéia mas também a maioria
dos oradores que precederam as
duas estrelas do dia.
Clinton e Kerry subiram juntos
ao palanque, abraçados. O ex-presidente falou primeiro. "Eles
[os republicanos] estão tentando
assustar os eleitores indecisos sobre John Kerry e assustar os eleitores decididos para longe das urnas", disse. "Daqui a oito dias, esse país vai mudar."
Em entrevista ao "Good Morning America", um dos mais populares programas matutinos dos
EUA, Bush disse estar preocupado com a possibilidade de o país
sofrer um novo ataque terrorista
às vésperas da eleição: "Deveríamos ficar preocupados. Não tenho provas, mas moveremos céus
e terras para evitá-lo".
"As pessoas conhecem Clinton
e se identificam com ele mais do
que com Kerry. Tê-lo no palanque nessa última semana vai ajudar muito", disse a contadora
Phyllis Brownley. Chip Finney, de
malas prontas para visitar o Brasil, perguntava se a multidão reunida no Love Park era maior do
que a atraída pelo presidente Lula
em grandes cidades na campanha
de 2002. Diante da resposta negativa, ele respondeu que, "em termos de Filadélfia", o evento ali era
"gigantesco". "É a maior multidão que eu já vi em um comício.
Depois dessa, as pessoas terão
motivação para levar adiante o
que seus corações dizem."
Kerry fez um discurso centrado
em política doméstica -o sistema de saúde tem sido um de seus
tópicos favoritos nestes últimos
dias. Mas enfatizou o que vê como
erros de Bush na política externa.
"Hoje [ontem], ficamos sabendo que 350 toneladas de explosivos desapareceram no Iraque. Esse governo fracassou até em guardar armas não-nucleares", afirmou.
Recebendo mais palmas do que
um dos ex-presidentes mais populares da história dos EUA, ficou
claro que Kerry ganhou maior
empatia do eleitorado nas últimas
semanas. A dúvida é se ela será
suficiente para levar mais democratas às urnas.
"Acho que teremos muito mais
gente votando neste ano. Eu vivo
na Filadélfia há muitos anos, e
desta vez há placas em quase todas as casas", disse Linda Tabas.
"Só não entendo quem vota em
Bush. Não quero um presidente
com quem eu possa tomar uma
cerveja junto. Eu quero um presidente que eu possa respeitar",
afirmou ela.
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