São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Após cirurgia, o ex-presidente entra na campanha, diz que seu sucessor assusta o país e afirma que a economia, no seu tempo, ia melhor

Clinton sobe no palanque e acusa Bush

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL À FILADÉLFIA

Muito mais magro e pálido, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) subiu ontem no palanque com o democrata John Kerry para acusar o presidente George W. Bush de assustar o país e lembrar os eleitores de que, no seu governo, a economia ia bem melhor.
Diante das cerca de 15 mil pessoas que lotaram o Love Park, na Filadélfia, Clinton disse estar "orgulhoso" do desempenho de Kerry e minimizou sua própria condição cardíaca. Há sete semanas, uma cirurgia o tirou da campanha, e o comício de ontem foi sua primeira aparição pública desde então. "Se isso aqui não é bom para o meu coração, então não sei o que é", disse.
Apesar da evidente perda de peso, Clinton falou ao público entusiasmadamente por quase dez minutos. Com sua presença na Filadélfia, a cidade mais populosa da Pensilvânia, os democratas esperam consolidar uma vantagem recém obtida por Kerry aqui. À noite, o ex-presidente participaria de um evento na Flórida, outro Estado decisivo.
"Clinton é um superstar. Ele motiva as pessoas", disse à Folha a lojista Linda Tabas. "É disso que precisamos agora."
Com a corrida acirrada e a expectativa de um número recorde de votos, a estratégia para a reta final é focar os Estados onde o pleito ainda não está definido, buscando não só conquistar os indecisos mas convencer mais eleitores a ir às urnas num país onde o voto não é obrigatório.
Nesse aspecto, a presença de Clinton no palanque de Kerry é um trunfo. O ex-presidente conta com uma sólida base de apoio entre os negros e as mulheres, dois grupos que tradicionalmente votam nos democratas mas que receberam a candidatura de Kerry com apatia. No evento de ontem, os dois grupos representavam não só uma parcela significativa da platéia mas também a maioria dos oradores que precederam as duas estrelas do dia.
Clinton e Kerry subiram juntos ao palanque, abraçados. O ex-presidente falou primeiro. "Eles [os republicanos] estão tentando assustar os eleitores indecisos sobre John Kerry e assustar os eleitores decididos para longe das urnas", disse. "Daqui a oito dias, esse país vai mudar."
Em entrevista ao "Good Morning America", um dos mais populares programas matutinos dos EUA, Bush disse estar preocupado com a possibilidade de o país sofrer um novo ataque terrorista às vésperas da eleição: "Deveríamos ficar preocupados. Não tenho provas, mas moveremos céus e terras para evitá-lo".
"As pessoas conhecem Clinton e se identificam com ele mais do que com Kerry. Tê-lo no palanque nessa última semana vai ajudar muito", disse a contadora Phyllis Brownley. Chip Finney, de malas prontas para visitar o Brasil, perguntava se a multidão reunida no Love Park era maior do que a atraída pelo presidente Lula em grandes cidades na campanha de 2002. Diante da resposta negativa, ele respondeu que, "em termos de Filadélfia", o evento ali era "gigantesco". "É a maior multidão que eu já vi em um comício. Depois dessa, as pessoas terão motivação para levar adiante o que seus corações dizem."
Kerry fez um discurso centrado em política doméstica -o sistema de saúde tem sido um de seus tópicos favoritos nestes últimos dias. Mas enfatizou o que vê como erros de Bush na política externa.
"Hoje [ontem], ficamos sabendo que 350 toneladas de explosivos desapareceram no Iraque. Esse governo fracassou até em guardar armas não-nucleares", afirmou.
Recebendo mais palmas do que um dos ex-presidentes mais populares da história dos EUA, ficou claro que Kerry ganhou maior empatia do eleitorado nas últimas semanas. A dúvida é se ela será suficiente para levar mais democratas às urnas.
"Acho que teremos muito mais gente votando neste ano. Eu vivo na Filadélfia há muitos anos, e desta vez há placas em quase todas as casas", disse Linda Tabas. "Só não entendo quem vota em Bush. Não quero um presidente com quem eu possa tomar uma cerveja junto. Eu quero um presidente que eu possa respeitar", afirmou ela.


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