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DIREITOS CIVIS
Ao se recusar a ceder seu lugar no ônibus a um branco, em 1955, costureira negra desencadeou protestos no Sul
Parks, ícone da luta contra a segregação, morre nos EUA
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
Morreu anteontem, aos 92 anos,
Rosa Parks, a costureira negra
que catalisou o movimento de direitos civis nos Estados Unidos ao
se recusar, em 1955, em Montgomery (Alabama), a ceder sua cadeira no ônibus a um homem
branco, conforme ditava a lei de
segregação racial da época.
Depois de presa, condenada e
multada, o incidente se transformou no mito necessário para que
jovens líderes negros, entre eles
Martin Luther King Jr., mobilizassem o boicote de mais de um ano
dos ônibus de Montgomery e derrubassem a lei. Parks virou ícone
da desobediência civil.
Com a saúde mental já deteriorada e com dificuldades financeiras, Parks morreu de causas naturais em sua casa em Detroit (Michigan). Ontem, ela foi amplamente homenageada por personalidades em todo o país. O presidente George W. Bush a declarou
"uma das mulheres mais inspiradoras do século 20". "Seu desafio
foi um ato de coragem que mexeu
com milhões de pessoas."
"Ela foi uma mulher de grande
coragem e dignidade", declarou o
ex-presidente Bill Clinton. O prefeito de Montgomery, Bobby
Bright, lamentou que Parks morreu semanas antes do 50º aniversário do evento do ônibus, que será celebrado na cidade.
Cidadã condecorada pela Casa
Branca e pelo Congresso, Parks
participava de eventos políticos,
mas, discreta, evitava discursar.
O incidente ganhou versões variadas: Rosa Parks seria uma militante agressiva que premeditou o
incidente, uma empregada cansada que teve um arroubo etc.
Militante do NAACP, já vinha
evitando o ônibus por causa de lei
que obrigava negros a entrar pela
porta traseira do ônibus e só ocupar as cadeiras centrais se não
houvesse passageiros brancos.
Parks já tinha sido expulsa de um
ônibus mais de dez anos antes.
Naquele dia, decidiu que não tinha de se levantar.
Após o anúncio da morte de
Parks, o reverendo Jesse Jackson
resumiu o simbolismo da história: "Ela ficou sentada para que
outros pudessem se levantar".
Porém ela não havia sido a primeira a fazer essa recusa. Foi apenas a primeira com o "perfil adequado" porque poderia suportar
o escrutínio da imprensa e da sociedade, segundo militantes.
"Ela realmente foi uma heroína
para nós. Para mim, era uma possibilidade e um aviso de que não
seria fácil, mas valeria à pena no
final", disse Minnijean Brown
Trickey, sobre a morte de Parks.
Trickey protagonizou outro
momento importante na luta por
direitos civis em 1957, em Arkansas. Depois do fim da segregação
escolar (1954), fez parte do grupo
de nove alunos negros que precisaram de proteção policial e militar para comparecer às aulas na
Little Rock Central High School.
Depois do julgamento de Parks,
foi criada a Montgomery Improvement Association, chefiada pelo jovem Martin Luther King Jr.
Depois da famosa greve de 381
dias na qual os negros se recusaram a usar o ônibus, Parks não
conseguiu trabalho, se desentendeu com King Jr. e se mudou para
Detroit. A partir de 1965, trabalhou para o deputado John Conyers e se aposentou em 1988.
"Ela era muito humilde e gentil.
Mas tinha por dentro um determinação bastante agressiva," disse Conyers.
Com agências internacionais
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