São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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DIREITOS CIVIS

Ao se recusar a ceder seu lugar no ônibus a um branco, em 1955, costureira negra desencadeou protestos no Sul

Parks, ícone da luta contra a segregação, morre nos EUA

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

Morreu anteontem, aos 92 anos, Rosa Parks, a costureira negra que catalisou o movimento de direitos civis nos Estados Unidos ao se recusar, em 1955, em Montgomery (Alabama), a ceder sua cadeira no ônibus a um homem branco, conforme ditava a lei de segregação racial da época.
Depois de presa, condenada e multada, o incidente se transformou no mito necessário para que jovens líderes negros, entre eles Martin Luther King Jr., mobilizassem o boicote de mais de um ano dos ônibus de Montgomery e derrubassem a lei. Parks virou ícone da desobediência civil.
Com a saúde mental já deteriorada e com dificuldades financeiras, Parks morreu de causas naturais em sua casa em Detroit (Michigan). Ontem, ela foi amplamente homenageada por personalidades em todo o país. O presidente George W. Bush a declarou "uma das mulheres mais inspiradoras do século 20". "Seu desafio foi um ato de coragem que mexeu com milhões de pessoas."
"Ela foi uma mulher de grande coragem e dignidade", declarou o ex-presidente Bill Clinton. O prefeito de Montgomery, Bobby Bright, lamentou que Parks morreu semanas antes do 50º aniversário do evento do ônibus, que será celebrado na cidade.
Cidadã condecorada pela Casa Branca e pelo Congresso, Parks participava de eventos políticos, mas, discreta, evitava discursar.
O incidente ganhou versões variadas: Rosa Parks seria uma militante agressiva que premeditou o incidente, uma empregada cansada que teve um arroubo etc.
Militante do NAACP, já vinha evitando o ônibus por causa de lei que obrigava negros a entrar pela porta traseira do ônibus e só ocupar as cadeiras centrais se não houvesse passageiros brancos. Parks já tinha sido expulsa de um ônibus mais de dez anos antes. Naquele dia, decidiu que não tinha de se levantar.
Após o anúncio da morte de Parks, o reverendo Jesse Jackson resumiu o simbolismo da história: "Ela ficou sentada para que outros pudessem se levantar".
Porém ela não havia sido a primeira a fazer essa recusa. Foi apenas a primeira com o "perfil adequado" porque poderia suportar o escrutínio da imprensa e da sociedade, segundo militantes.
"Ela realmente foi uma heroína para nós. Para mim, era uma possibilidade e um aviso de que não seria fácil, mas valeria à pena no final", disse Minnijean Brown Trickey, sobre a morte de Parks.
Trickey protagonizou outro momento importante na luta por direitos civis em 1957, em Arkansas. Depois do fim da segregação escolar (1954), fez parte do grupo de nove alunos negros que precisaram de proteção policial e militar para comparecer às aulas na Little Rock Central High School.
Depois do julgamento de Parks, foi criada a Montgomery Improvement Association, chefiada pelo jovem Martin Luther King Jr. Depois da famosa greve de 381 dias na qual os negros se recusaram a usar o ônibus, Parks não conseguiu trabalho, se desentendeu com King Jr. e se mudou para Detroit. A partir de 1965, trabalhou para o deputado John Conyers e se aposentou em 1988.
"Ela era muito humilde e gentil. Mas tinha por dentro um determinação bastante agressiva," disse Conyers.


Com agências internacionais

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