São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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Bush tenta recuperar votos antiguerra

Premiê iraquiano nega concordar com o prazo, anunciado pelo embaixador dos EUA, para assumir segurança do país

Presidente diz que paciência americana tem limites, mas defende ação no Iraque e tenta reverter favoritismo dos democratas nas urnas

DA REDAÇÃO

O presidente americano, George W. Bush, afirmou ontem, com relação ao Iraque, que "a paciência dos Estados Unidos tem limites". Mas se disse confiante no apoio que o eleitor americano dará ao engajamento do país no conflito, "enquanto estiver enxergando o caminho da vitória".
Bush se recusou a fixar um prazo para a retirada de seus 141 mil militares, afirmando que seu objetivo é vencer a guerra e que "uma retirada baseada num cronograma artificial significaria uma derrota".
Sua longa entrevista ocorreu em meio a um contexto confuso. Na terça-feira, o embaixador americano em Bagdá, Zalmay Khalilzad, disse que o governo iraquiano estava de acordo com a fixação de um prazo de 12 a 18 meses para que suas forças de segurança assumissem o controle de todas as 18 províncias locais.
Mas essa suposta concordância foi duramente negada pelo primeiro-ministro, Nuri al Maliki, em entrevista em Bagdá.
"Afirmo que este governo representa a vontade do povo e que ninguém tem o direito de nos impor cronogramas", disse.
Também afirmou acreditar que a questão não era discutida em Washington como uma decisão estratégica sobre o Iraque. Trata-se, a seu ver, "de um produto da eleição americana".

Contra-senso
Há em tudo isso um paradoxo. O premiê apresenta como prova de sua soberania política a preservação da segurança interna de seu país nas mãos de militares estrangeiros. E ainda, mesmo com outras palavras, acusa de eleitoreira a fixação de um prazo para que esses militares sejam repatriados.
A entrevista dele precedeu em algumas horas a de Bush. O presidente americano respondeu com ao menos uma alfinetada. Disse ter "superestimado a capacidade" do governo de Bagdá em estabelecer os serviços públicos de base, numa menção indireta também à segurança interna. Pesando as palavras, Bush disse que não exerceria pressão excessiva sobre o premiê. Afirmou que "Maliki é o homem certo para o Iraque enquanto ele continuar a tomar decisões enérgicas".
O presidente não comentou outra clara insinuação do premiê, que disse não ter autorizado que soldados americanos convocassem o Exército iraquiano para uma operação num subúrbio xiita de Bagdá, que ontem terminou com quatro mortos e 20 feridos. Maliki pertence à maioria xiita.
Mas Bush, em sua entrevista, estava de olho no público interno e procurava reverter a tendência favorável à oposição democrata, que, com o desapontamento com o Iraque, poderá fazer no próximo dia 7 a maioria na Câmara e no Senado.
"Sei que os americanos não estão satisfeitos com a situação no Iraque. Eu também não estou. E é por isso que estamos implementando medidas para a segurança de Bagdá e adaptando nossa tática em função das novas ameaças", disse ele.
O presidente afirmou que os eleitores votarão no partido que for capaz de dar maior proteção aos Estados Unidos. Disse ainda que uma democracia estável naquele país do Oriente Médio é essencial e que os soldados americanos lá ficariam "até que o trabalho esteja concluído".


Com agências internacionais


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