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Rixa oculta dependência entre Índia e Paquistão, diz indiano
Duto com Irã em solo paquistanês pode ser solução energética indiana, segundo analista
Nayan Chanda, pesquisador de Yale, diz que Islamabad também precisa de mercado do país rival, mas disputa na Caxemira bloqueia relação
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
Rivais nucleares separados
pela religião em 1947, Índia e
Paquistão estão unidos por interesses de Estado, afirma Nayan Chanda, pesquisador da
Universidade Yale. Autor de
mais de dez livros sobre política na Ásia, ele crê que a resolução do problema energético,
principal desafio do "milagre
indiano", passa também pelo
Paquistão, rota entre o país e o
petróleo e gás iranianos.
A disputada região da Caxemira e a ação de minorias radicais muçulmanas e hindus escamoteiam as afinidades, disse
à Folha o indiano, que veio ao
Brasil para a Semana Yale na
Brazilian Business School. A
paz depende, mais uma vez, da
religião.
FOLHA - O sr. acredita que a redemocratização paquistanesa arrefecerá a desconfiança mútua entre o
país e a Índia?
NAYAN CHANDA - Há uma profunda afinidade entre os povos
da Índia e do Paquistão. Falam
a mesma língua, cantam as
mesmas músicas e assistem aos
mesmos filmes. Além disso, há
interesses mútuos de Estado. O
Paquistão se beneficiaria muito
do acesso ao gigantesco mercado indiano e o país tem também
um valor geopolítico crucial para a Índia. Se for construído um
duto de petróleo e gás entre Irã
e Índia, ele necessariamente
atravessará o Paquistão.
O principal obstáculo às relações bilaterais são os grupos extremistas, como o Taleban e a
Al Qaeda. Enquanto o Paquistão não conseguir controlar esses grupos, a relação com a Índia será sempre tensa.
FOLHA - A Índia vive também um
recrudescimento da violência religiosa. O nacionalismo hindu se
aproxima do extremismo islâmico?
CHANDA - O nacionalismo hindu vê na globalização uma
ameaça à cultura tradicional
indiana, em uma reação muito
parecida à que ocorre no islã.
Houve ataques recentes aos
cristãos, mas foram condenados amplamente pela sociedade -mesmo o BJP [partido
hindu de direita e principal legenda oposicionista] criticou
os aliados regionais envolvidos.
Muito mais perigoso que a
animosidade com os cristãos,
porém, é o sentimento antimuçulmano. Há 150 milhões de
muçulmanos na Índia. A maioria deles é secular; a comunidade convive há séculos com os
hindus. Mas há setores linha
dura muçulmanos que adotam
uma estratégia perversa. Promovem ataques a não-muçulmanos justamente para acirrar
a reação antiislâmica e obter
apoio da comunidade. Isso,
aliado ao fato de que a questão
da Caxemira continua mal resolvida, inflama conflitos.
FOLHA - Qual o impacto da crise
atual na Índia? O país está relativamente imune, como em 1997?
CHANDA - O impacto no sistema financeiro indiano foi pequeno. A economia ainda é relativamente fechada, a moeda
não é conversível. Além disso,
os bancos indianos foram cautelosos; apenas um tinha investimentos significativos em papéis podres. O governo diminuiu a exigência de depósito
compulsório, aumentando a
oferta de crédito. Então, o sistema bancário foi preservado. O
impacto da crise na indústria
leve indiana também é limitado, porque ela se volta sobretudo para o mercado interno, que
continua aquecido.
A crise afeta um dos principais produtos de exportação indiano, o setor de tecnologia da
informação, de softwares. Os
principais compradores são as
multinacionais e haverá uma
redução na demanda por esses
serviços.
Ao mesmo tempo, porém, a
crise acelera o processo de
reestruturação das empresas e
a Índia se torna ainda mais
atrativa pelo baixo custo.
FOLHA - Analistas prevêem que,
em poucas décadas, a economia indiana supere a de todos os países
europeus e fique atrás apenas da
China e dos EUA. Acima o sr. relacionou a questão energética e o Paquistão. A Índia terá energia suficiente
para sustentar o crescimento?
CHANDA - É o principal desafio
do "milagre" indiano. Atualmente, a Índia importa quase
toda a energia que consome.
O país tem um programa ambicioso de expansão das usinas
atômicas. O objetivo é que, até
2050, elas produzam entre 15%
e 20% da energia consumida.
Não acho que isso vá acontecer,
é uma meta ambiciosa demais.
Hoje as usinas produzem apenas 2%. A Índia também está
desenvolvendo biocombustíveis, a partir da jatropha [pinhão-manso], entre outras
frentes de pesquisa, como a eólica. Sem dúvida, a Índia terá
que responder à questão energética para continuar a crescer.
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