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SAIBA MAIS
Kiev deu início tanto à Ucrânia quanto à Rússia
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A história da Ucrânia e a da
Rússia se misturam em vários
momentos desde a criação dos
dois Estados. Para os russos,
Kiev é o berço da Rússia moderna. Para os ucranianos, porém, a Rus de Kiev, Estado criado no século 9º, é, sem dúvida,
a mãe da Rússia moderna, mas
não se confunde com ela.
Ela se tornou cristã numa
época em que Moscou nem
existia. Em 988, o príncipe Volodymir deixou o paganismo e
adotou o cristianismo. Ao mesmo tempo, levou para as terras
eslavas uma cultura milenar influenciada pelos bizantinos.
"Por séculos, o Principado de
Kiev foi o centro religioso e cultural da Rússia. Isso acabou no
século 13, quando as invasões
mongóis o destruíram", disse à
Folha Arnaud Dubien, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Paris).
"A presença da Rússia czarista na Ucrânia data, contudo, de
1654, quando também começaram movimentos populacionais muito importantes entre
os dois países. Estes se seguiram durante séculos, e os últimos fortes fluxos migratórios
russos em direção à Ucrânia
ocorreram durante os governos de [Nikita] Kruchev [1958-64] e de [Leonid] Brejnev
[1964-82], que, paradoxalmente, eram de origem ucraniana."
Durante séculos e até o final
da Revolução Russa (1917), a
Ucrânia foi disputada e, em diferentes fases, dividida entre o
Império Austro-Húngaro (oeste do país), a Rússia (leste e sul)
e a Polônia (noroeste). "Embora haja grande proximidade
cultural e lingüística entre os
ucranianos e os russos, a história criou profundas divisões na
Ucrânia", analisou Dubien.
O leste do país, que foi controlado pelo Império Austro-Húngaro, é mais aberto à Europa, embora mantenha fortes
traços nacionalistas. Estes surgiram, na história recente ucraniana, após a anexação do país
pelas forças bolcheviques, em
1920, que pôs fim a um período
de três anos de independência.
O movimento nacionalista
ganhou força no leste e no centro da Ucrânia nos anos 20 e 30,
quando Josef Stálin ordenou
uma campanha de coletivização forçada das terras e expurgos para pôr fim às "veleidades
nacionalistas" (em que milhões
de ucranianos foram mortos).
"Os métodos do ditador soviético ficaram marcados no
inconsciente coletivo da Ucrânia, e parte de sua população
acolheu bem, ao menos inicialmente, a chegada dos nazistas.
Isso foi depois usado por Stálin
para punir os ucranianos", avaliou Asbed Kotchikian, da Universidade de Boston (EUA).
Após algum tempo de invasão, a guerrilha do leste ucraniano passou a combater as
forças nazistas e, no início da
década de 50, as soviéticas.
"Há duas tradições bem distintas no leste e no oeste da
Ucrânia. Passado, história e religião são diferentes, pois o leste sempre teve maior influência
russa", afirmou Dubien.
Com efeito, boa parte do oeste é católica grega (uniata),
aceitando a supremacia do papa, enquanto o oeste é majoritariamente cristão ortodoxo, ligado ao patriarcado russo.
As línguas, ademais, também
não são iguais, embora apresentem fortes similaridades.
Uma pesquisa recente mostrou, todavia, que, mesmo no
leste da Ucrânia, o ucraniano é
considerado a língua materna
pela maioria das pessoas que
não são de origem russa (cerca
de 30% da população local).
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