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Candidatos fazem beija-mão a Brasil e EUA
Na campanha do Haiti, embaixada brasileira vira ponto de parada obrigatório; país comanda tropas da ONU
Embaixador brasileiro admite "influência" no processo, mas nega ter preferência por algum candidato específico
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE (HAITI)
Na campanha para eleger
o presidente do Haiti, no domingo, os principais candidatos reservaram tempo na
agenda para duas visitas estratégicas: uma, à poderosa
diáspora haitiana vivendo
nos EUA e no Canadá.
A segunda, à Embaixada
do Brasil em Porto Príncipe.
É algo sintomático de um
país onde o núcleo de poder
não está no Estado, mas em
grande parte na Minustah, a
missão da ONU que está no
país desde 2004.
O Brasil tem o comando e o
maior contingente da força.
Também são importantes
as ONGs, que têm nos emigrantes para os EUA uma
fonte de financiamento.
Na mais recente visita do
chanceler brasileiro, Celso
Amorim, ao Haiti, em setembro, o ministro encontrou
cinco dos 19 candidatos a
presidente -a pedido deles.
Anteontem, o embaixador
brasileiro em Porto Príncipe,
Igor Kipman, jantou com
Charles Baker, veterano candidato e um dos principais
industriais do pais. Baker
aparece em quarto lugar nas
pesquisas.
INFLUÊNCIA
Kipman considera natural
a movimentação em torno do
Brasil, fiador da missão da
ONU. Rejeita a palavra ingerência, mas admite "influência" no processo.
Michel Soukar, o mais influente jornalista e analista
político do pais, critica tanto
os EUA como o Brasil pelo
que ele considera tolerância
com o frágil esquema de controle eleitoral.
"Estão preparando já a
fraude. O presidente René
Préval não está se preparando para deixar o poder".
Ao ser questionado se avaliava que o Brasil tinha preferências na corrida, ele respondeu com uma provocação: "O Brasil é mais parceiro
de Préval do que do Haiti".
Em 2006, Préval foi instalado na Presidência, com
apoio decisivo do Brasil,
mesmo sem ter tido maioria
absoluta dos votos no primeiro turno. O argumento
para se cancelar a segunda
etapa foi o de que poderia haver violência.
Desde então, o presidente
tem no governo brasileiro
forte base de apoio político.
Já os EUA enviaram 10 mil
militares na emergência pós-terremoto de janeiro.
Também passaram a controlar o porto e o aeroporto,
centrais para o recebimento
da ajuda humanitária.
Dez meses depois, a presença americana retrocedeu
aos níveis pré-catástrofe.
O Brasil, que sempre foi o
maior contingente da Minustah, aumentou sua presença.
O país enviou um novo batalhão de paz, e o contingente
total passou de 1.300 a 2.200
homens.
Mas se o assunto ainda é
comércio e negócios, a influência americana é, de longe, a mais importante.
São filiais americanas as
maquiladoras que integram
o mínimo conjunto industrial
presente no país.
Em termos de importação,
a maioria dos produtos brasileiros chega indiretamente,
via República Dominicana.
Das grandes empresas
brasileiras, por ora, somente
a construtora OAS está no
país, porque ganhou uma licitação para construir uma
estrada antes do terremoto.
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