São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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Candidatos fazem beija-mão a Brasil e EUA

Na campanha do Haiti, embaixada brasileira vira ponto de parada obrigatório; país comanda tropas da ONU

Embaixador brasileiro admite "influência" no processo, mas nega ter preferência por algum candidato específico

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE (HAITI)

Na campanha para eleger o presidente do Haiti, no domingo, os principais candidatos reservaram tempo na agenda para duas visitas estratégicas: uma, à poderosa diáspora haitiana vivendo nos EUA e no Canadá.
A segunda, à Embaixada do Brasil em Porto Príncipe.
É algo sintomático de um país onde o núcleo de poder não está no Estado, mas em grande parte na Minustah, a missão da ONU que está no país desde 2004.
O Brasil tem o comando e o maior contingente da força.
Também são importantes as ONGs, que têm nos emigrantes para os EUA uma fonte de financiamento.
Na mais recente visita do chanceler brasileiro, Celso Amorim, ao Haiti, em setembro, o ministro encontrou cinco dos 19 candidatos a presidente -a pedido deles.
Anteontem, o embaixador brasileiro em Porto Príncipe, Igor Kipman, jantou com Charles Baker, veterano candidato e um dos principais industriais do pais. Baker aparece em quarto lugar nas pesquisas.

INFLUÊNCIA
Kipman considera natural a movimentação em torno do Brasil, fiador da missão da ONU. Rejeita a palavra ingerência, mas admite "influência" no processo.
Michel Soukar, o mais influente jornalista e analista político do pais, critica tanto os EUA como o Brasil pelo que ele considera tolerância com o frágil esquema de controle eleitoral.
"Estão preparando já a fraude. O presidente René Préval não está se preparando para deixar o poder".
Ao ser questionado se avaliava que o Brasil tinha preferências na corrida, ele respondeu com uma provocação: "O Brasil é mais parceiro de Préval do que do Haiti".
Em 2006, Préval foi instalado na Presidência, com apoio decisivo do Brasil, mesmo sem ter tido maioria absoluta dos votos no primeiro turno. O argumento para se cancelar a segunda etapa foi o de que poderia haver violência.
Desde então, o presidente tem no governo brasileiro forte base de apoio político.
Já os EUA enviaram 10 mil militares na emergência pós-terremoto de janeiro.
Também passaram a controlar o porto e o aeroporto, centrais para o recebimento da ajuda humanitária.
Dez meses depois, a presença americana retrocedeu aos níveis pré-catástrofe.
O Brasil, que sempre foi o maior contingente da Minustah, aumentou sua presença. O país enviou um novo batalhão de paz, e o contingente total passou de 1.300 a 2.200 homens.
Mas se o assunto ainda é comércio e negócios, a influência americana é, de longe, a mais importante.
São filiais americanas as maquiladoras que integram o mínimo conjunto industrial presente no país.
Em termos de importação, a maioria dos produtos brasileiros chega indiretamente, via República Dominicana.
Das grandes empresas brasileiras, por ora, somente a construtora OAS está no país, porque ganhou uma licitação para construir uma estrada antes do terremoto.


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