São Paulo, sábado, 26 de dezembro de 2009

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China condena ativista a 11 anos de prisão

Liu Xiaobo coescreveu carta demandando reforma da Constituição, eleições livres e liberdade de expressão

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O professor de literatura chinês Liu Xiaobo, 54, foi condenado ontem a 11 anos de prisão por "incitar subversão". Ele está preso há um ano por ser coautor da Carta 08, manifesto que pede mais democracia na China.
É a maior pena desde que o crime de "incitar subversão" foi criado em 1997, na reforma da lei penal chinesa. Desde segunda-feira, a imprensa chinesa está proibida de noticiar o julgamento, por ordem do Departamento de Propaganda.
Cerca de 400 pessoas estavam do lado de fora do tribunal, em Pequim. Diplomatas de EUA, Alemanha, Suécia e República Tcheca pediram para ir ao julgamento como observadores, mas foram barrados.
"Devemos deixar de tratar palavras como crime" é uma das petições da Carta 08, documento lançado no ano passado que pede reforma da Constituição, eleições livres, permissão para a criação de outros partidos políticos e liberdade de expressão e religião.
Liu foi preso dias antes da divulgação do manifesto, em 8 de dezembro de 2008. Dos 300 signatários, ele foi o único preso, mas diversos receberam ameaças da polícia chinesa.
Não é a primeira vez que a China escolhe a época do Natal para condenar um dissidente. Há um ano, o blogueiro Hu Jia foi condenado a três anos e quatro meses às vésperas da festividade. Para ativistas, trata-se de aproveitar uma época do ano em que poucos jornalistas estrangeiros e diplomatas estão em Pequim -e reduzir a atenção ao caso no exterior.
Liu é um dos mais conhecidos dissidentes do país. Ficou preso 20 meses após o massacre contra o movimento estudantil na praça da Paz Celestial em 1989 e outros três anos, entre 1996 e 1999, fazendo trabalhos forçados por criticar o então presidente Jiang Zemin.
O professor, que tinha 33 anos em 1989, liderava o grupo moderado na praça da Paz Celestial, que pedia diálogo com o governo chinês. A líder do grupo radical na praça, a estudante Chai Ling, fugiu para os EUA e se tornou empresária do setor tecnológico.

Grossa interferência
O governo dos EUA e a União Europeia pressionaram pela imediata libertação do professor. Um abaixo-assinado com 300 escritores de todo o mundo demandou sua liberdade.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Jiang Yu afirmou que os pedidos dos governos estrangeiros pela liberdade de Liu são "uma grossa interferência nos assuntos internos da China".
Para a organização pró-direitos humanos Human Rights Watch, o veredicto é uma "demonstração de desafio" da China à comunidade internacional, "incluído o governo Obama", que tentou intermediar por sua libertação.
"É um alerta contra intelectuais, ativistas e a sociedade civil, de que o governo chinês irá punir severamente quem ameaçar o seu controle total de poder", diz Phelim Kine, especialista em Ásia da ONG.
Jornais de Hong Kong, a cidade semiautônoma que possui a única imprensa livre da China, publicaram editoriais ontem condenando a sentença.
No início do ano, a chanceler americana, Hillary Clinton, disse que a pressão por direitos humanos não deveria se sobrepor a negociações econômicas e ambientais com a China.


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