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China condena ativista a 11 anos de prisão
Liu Xiaobo coescreveu carta demandando reforma da Constituição, eleições livres e liberdade de expressão
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O professor de literatura chinês Liu Xiaobo, 54, foi condenado ontem a 11 anos de prisão
por "incitar subversão". Ele está preso há um ano por ser
coautor da Carta 08, manifesto
que pede mais democracia na
China.
É a maior pena desde que o
crime de "incitar subversão" foi
criado em 1997, na reforma da
lei penal chinesa. Desde segunda-feira, a imprensa chinesa está proibida de noticiar o julgamento, por ordem do Departamento de Propaganda.
Cerca de 400 pessoas estavam do lado de fora do tribunal,
em Pequim. Diplomatas de
EUA, Alemanha, Suécia e República Tcheca pediram para ir
ao julgamento como observadores, mas foram barrados.
"Devemos deixar de tratar
palavras como crime" é uma
das petições da Carta 08, documento lançado no ano passado
que pede reforma da Constituição, eleições livres, permissão
para a criação de outros partidos políticos e liberdade de expressão e religião.
Liu foi preso dias antes da divulgação do manifesto, em 8 de
dezembro de 2008. Dos 300
signatários, ele foi o único preso, mas diversos receberam
ameaças da polícia chinesa.
Não é a primeira vez que a
China escolhe a época do Natal
para condenar um dissidente.
Há um ano, o blogueiro Hu Jia
foi condenado a três anos e
quatro meses às vésperas da
festividade. Para ativistas, trata-se de aproveitar uma época
do ano em que poucos jornalistas estrangeiros e diplomatas
estão em Pequim -e reduzir a
atenção ao caso no exterior.
Liu é um dos mais conhecidos dissidentes do país. Ficou
preso 20 meses após o massacre contra o movimento estudantil na praça da Paz Celestial
em 1989 e outros três anos, entre 1996 e 1999, fazendo trabalhos forçados por criticar o então presidente Jiang Zemin.
O professor, que tinha 33
anos em 1989, liderava o grupo
moderado na praça da Paz Celestial, que pedia diálogo com o
governo chinês. A líder do grupo radical na praça, a estudante
Chai Ling, fugiu para os EUA e
se tornou empresária do setor
tecnológico.
Grossa interferência
O governo dos EUA e a União
Europeia pressionaram pela
imediata libertação do professor. Um abaixo-assinado com
300 escritores de todo o mundo
demandou sua liberdade.
A porta-voz do Ministério
das Relações Exteriores da China Jiang Yu afirmou que os pedidos dos governos estrangeiros pela liberdade de Liu são
"uma grossa interferência nos
assuntos internos da China".
Para a organização pró-direitos humanos Human Rights
Watch, o veredicto é uma "demonstração de desafio" da China à comunidade internacional, "incluído o governo Obama", que tentou intermediar
por sua libertação.
"É um alerta contra intelectuais, ativistas e a sociedade civil, de que o governo chinês irá
punir severamente quem
ameaçar o seu controle total de
poder", diz Phelim Kine, especialista em Ásia da ONG.
Jornais de Hong Kong, a cidade semiautônoma que possui
a única imprensa livre da China, publicaram editoriais ontem condenando a sentença.
No início do ano, a chanceler
americana, Hillary Clinton,
disse que a pressão por direitos
humanos não deveria se sobrepor a negociações econômicas e
ambientais com a China.
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