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IRAQUE OCUPADO
Para David Kay, corrupção inviabilizou o plano de armas iraquiano; Casa Branca vai rever informações
CIA exagerou sobre arsenal, diz ex-inspetor
DA REDAÇÃO
A principal justificativa citada
pelos EUA e pelo Reino Unido para a Guerra do Iraque teve como
base um grave erro de informação, afirmou o ex-chefe da equipe
americana de busca de armas, David Kay, segundo quem Bagdá
não possuía o arsenal proibido
que Washington e Londres o acusavam de manter.
Com a credibilidade em xeque,
o governo de George W. Bush
anunciou a revisão das informações que o levaram a decidir pela
guerra. "Queremos comparar a
inteligência obtida antes da guerra com o que o Grupo de Pesquisa
do Iraque [liderado por Kay] obteve em campo", disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. Diferentemente do que vinha
dizendo até então, ele não reiterou que o arsenal seria achado.
Dois membros graduados do
governo -o vice-presidente,
Dick Cheney, e o secretário da
Justiça, John Ashcroft- saíram
em defesa da decisão, afirmando
que a guerra se justifica por ter livrado o país do ex-ditador Saddam Hussein.
Em entrevista ao jornal "The
New York Times", Kay isentou o
governo Bush, dizendo que não
houve pressão sobre a CIA nem
sobre o grupo que ele dirigiu para
que confirmassem a posição da
Casa Branca sobre a ameaça iraquiana. "A única coisa que eu ouvi do presidente Bush foi para
descobrir a verdade", afirmou.
Saddam longe da realidade
O inspetor, que deixou o cargo
na última sexta-feira após sete
meses de trabalho, afirmou que a
CIA (serviço secreto dos EUA) errou ao concluir que o Iraque possuía um arsenal químico e biológico, sem perceber que qualquer
pretensão que Saddam tivesse de
formá-lo foi inviabilizada pela
corrupção dos cientistas do país.
Para ele, os erros de avaliação
das informações coletadas pelas
agências de inteligência americanas sobre o Iraque são tão graves
que elas deveriam rever todo o
seu procedimento.
Kay reafirmou para o "Times"
não crer que o Iraque mantivesse
armas proibidas. "Acho que eles
reduziram o arsenal gradualmente nos anos 90 e, em dado momento, no meio da década, eliminaram totalmente o que restava."
Se algo eventualmente sobrou,
afirmou Kay, foi destruído pelo
bombardeio americano em 1998.
Desde então, não teria mais havido produção porque os cientistas
envolvidos nos projetos desviaram os recursos recebidos.
"A coisa toda se transformou de
programas dirigidos em um processo corrupto", declarou. "O regime não estava mais no controle.
Saddam dirigia sozinho projetos
que não passavam pelo voto de
mais ninguém, e os cientistas conseguiam falsificar programas."
Segundo o especialista, entrevistas com cientistas iraquianos e
ex-membros do regime de Saddam o levaram a crer que o ex-ditador, nos dois últimos anos de
governo, estivesse cada vez mais
alienado da realidade. Com os
programas de armas diretamente
submetidos a ele, tornou-se fácil
para os cientistas enganá-lo, apresentando projetos grandiosos que
recebiam financiamento, mas
nunca saíam do papel.
Quando tudo isso acontecia, a
CIA, sem condições de enviar
agentes próprios ao país, avaliava
informações obtidas de dissidentes iraquianos e fontes terciárias.
A situação piorou quando os inspetores da ONU deixaram o país,
em 1998, e a inteligência americana se apoiou sobre informações
precárias e duvidosas.
Justificativa
Questionado sobre as armas iraquianas durante uma visita que
faz à Itália, o vice-presidente dos
EUA, Dick Cheney, disse apenas
que a captura de Saddam justifica
a guerra. "Hoje o ex-ditador está
preso, não pode mais abrigar e
apoiar terroristas, e seus esforços
para obter armas de destruição
em massa chegaram ao fim."
A observação de Ashcroft foi semelhante: "Creio ter ficado claro
que Saddam Hussein continuasse
a representar uma ameaça".
O grupo de defesa dos direitos
humanos Human Rights Watch
(HRW) afirmou em seu relatório
anual que a deposição de Saddam
e o fim de seu violento regime não
justificam a Guerra do Iraque,
pois as atrocidades haviam deixado de ocorrer nos últimos anos.
"Tais intervenções devem se limitar a interromper carnificinas
iminentes ou em curso", diz o documento divulgado ontem. "As
ações do governo [dos EUA]
mostram a crença perigosa em
que na luta contra o terrorismo o
Executivo esteja acima da lei."
Com agências internacionais
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