São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

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DIPLOMACIA

Secretário dos EUA diz que situação é preocupante

Powell critica falta de democracia na Rússia, mas saúda boas relações

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, afirmou ontem que o estado da democracia russa tem provocado preocupação nos EUA, no que constituiu a crítica mais veemente de um alto funcionário americano à centralização do poder, na Rússia, nas mãos do presidente Vladimir Putin.
Num artigo publicado na primeira página do diário russo "Izvestia" -no dia em que começava sua visita à Rússia-, Powell disse que a política russa nem sempre é regida pelas normas do Estado de Direito e deixou claro que os laços russo-americanos só poderão continuar a ser desenvolvidos se os dois países compartilharem os mesmos valores.
Mais tarde, em reunião com Putin (que deverá obter a reeleição em março, pois tem 78% das intenções de voto), todavia, Powell foi bem mais diplomático, ressaltando a importância da amizade e da cooperação entre ambos os países. De acordo com Andrew Bennett, especialista em Rússia da Universidade de Georgetown (EUA), essa ambigüidade de Washington não é uma surpresa.
"Os EUA demoraram a expressar claramente uma posição contrária às arbitrariedades existentes na Rússia atualmente. Até pouco antes do 11 de Setembro, Washington não deixava de criticar Moscou por seus abusos na Tchetchênia. Depois dos atentados terroristas, os americanos passaram a ter outras prioridades, e a colaboração da Rússia na guerra ao terrorismo tornou-se mais importante que "questões internas'", explicou Bennett à Folha.
"Com isso, as autoridades russas acreditaram que ninguém, além de organizações de defesa dos direitos humanos, fosse ingerir em seus assuntos e passaram a agir de modo cada vez mais autoritário. Hoje praticamente não há mais imprensa livre na Rússia, e grandes empresários que ameaçam a posição do Kremlin são encarcerados por razões políticas."
"Assim, os EUA se viram compelidos a tomar uma posição. Contudo Washington ainda precisa da ajuda de Moscou em várias questões geopolíticas de peso, como a Coréia do Norte, o Irã e a guerra ao terrorismo nas ex-repúblicas soviéticas, não podendo, portanto, bater de frente com as autoridades russas", acrescentou.
Em seu artigo, Powell expressou preocupação com a falta de liberdade de imprensa na Rússia e com a influência do Executivo no Legislativo e no Judiciário. Ele criticou a política russa na Tchetchênia e, sem citar nenhum país, o modo como Moscou interfere em países próximos, provavelmente aludindo à presença de forças russas na Moldova e na Geórgia.
Ademais, para Bennett, os EUA vêm sendo "pressionados a ter uma posição mais equilibrada na cena internacional". "Não se pode exigir só dos inimigos certas atitudes. A falta de transparência na Rússia vem fomentando protestos em parte do mundo islâmico, já que os russos cometem abusos contra muçulmanos", analisou.


Com agências internacionais


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