São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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Metade do país está descontente, diz líder opositor

DO ENVIADO A LA PAZ

Para o empresário Branko Marinkovic, presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, que reúne a elite econômica da região mais rica do país, a vitória do "não" em quatro departamentos do leste do país tira a legitimidade da nova Constituição nesses lugares. Leia, a seguir, a entrevista concedida à Folha, por telefone (FM):

 

FOLHA - Qual é a sua leitura do resultado?
BRANKO MARINKOVIC
- O resultado indica que metade do país não está contente com essa Constituição e reflete as duas visões de país que há neste momento na Bolívia. Uma visão que quer autonomia nesta região do país, que representa 70% da economia boliviana. O ocidente quer o sistema chavista, socialista, nosso respeito a eles, mas devemos encontrar um pacto para que esta Bolívia possa conviver em paz com as visões que tem.

FOLHA - A leitura eleitoral não deveria ser feita a partir dos resultados nacionais?
MARINKOVIC
- São quatro departamentos que disseram de forma contundente que não. E talvez o "não" ainda vença em Chuquisaca. Seriam 5 de 9 departamentos. Uma Constituição de um país tem de ser aprovada em todas as regiões de forma contundente para que todos possam dizer que "esta é a nossa Constituição". Das 36 nações [indígenas] que propõe Morales, 34 estão no oriente e disseram não à Constituição. São dados muito importantes, não se pode passar por cima. Essa Constituição não pode ser imposta nessa parte do país, é necessário haver um grande pacto. Uma Constituição deveria obter pelo menos 80%, para ter a legitimidade necessária.

FOLHA - A Constituição precisa ser regulamentada, incluindo a autonomia departamental. Qual é a sua proposta para esse processo?
MARINKOVIC
- O governo não pode impor o que vai de encontro ao voto cidadão destes departamentos. Está nas mãos do presidente decidir se haverá ou não um pacto para a Bolívia, e daí em diante poderemos fazer as propostas específicas. De nada adianta fazer propostas se o presidente não aceitar esse pacto.

FOLHA - Também foi aprovado um limite de 5.000 hectares em novas propriedades rurais. Isso terá impacto na economia de Santa Cruz?
MARINKOVIC
- Não apenas Santa Cruz, mas também Beni. O tema da terra nunca deveria passar pelo tamanho ou função social, mas pelo quanto contribui positivamente nos municípios onde se encontra. É uma proposta feita pelo Comitê Pró-Santa Cruz e que vamos continuar fazendo com mais veemência ainda.

FOLHA - No estatuto autonômico aprovado por Santa Cruz em 2008, a política agrária é incumbência departamental. Como resolver esse conflito com a Constituição?
MARINKOVIC
- Há muitas coisas que são um choque. Por isso, volto a dizer que é preciso conviver com as duas visões.


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