Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Metade do país está descontente, diz líder opositor
DO ENVIADO A LA PAZ
Para o empresário Branko
Marinkovic, presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz,
que reúne a elite econômica da
região mais rica do país, a vitória do "não" em quatro departamentos do leste do país tira a legitimidade da nova Constituição nesses lugares. Leia, a seguir, a entrevista concedida à
Folha, por telefone
(FM):
FOLHA - Qual é a sua leitura do resultado?
BRANKO MARINKOVIC - O resultado indica que metade do país
não está contente com essa
Constituição e reflete as duas
visões de país que há neste momento na Bolívia. Uma visão
que quer autonomia nesta região do país, que representa
70% da economia boliviana. O
ocidente quer o sistema chavista, socialista, nosso respeito a
eles, mas devemos encontrar
um pacto para que esta Bolívia
possa conviver em paz com as
visões que tem.
FOLHA - A leitura eleitoral não deveria ser feita a partir dos resultados
nacionais?
MARINKOVIC - São quatro departamentos que disseram de forma contundente que não. E talvez o "não" ainda vença em
Chuquisaca. Seriam 5 de 9 departamentos. Uma Constituição de um país tem de ser aprovada em todas as regiões de forma contundente para que todos possam dizer que "esta é a
nossa Constituição". Das 36 nações [indígenas] que propõe
Morales, 34 estão no oriente e
disseram não à Constituição.
São dados muito importantes,
não se pode passar por cima.
Essa Constituição não pode
ser imposta nessa parte do país,
é necessário haver um grande
pacto. Uma Constituição deveria obter pelo menos 80%, para
ter a legitimidade necessária.
FOLHA - A Constituição precisa ser
regulamentada, incluindo a autonomia departamental. Qual é a sua
proposta para esse processo?
MARINKOVIC - O governo não
pode impor o que vai de encontro ao voto cidadão destes departamentos. Está nas mãos do
presidente decidir se haverá ou
não um pacto para a Bolívia, e
daí em diante poderemos fazer
as propostas específicas. De nada adianta fazer propostas se o
presidente não aceitar esse
pacto.
FOLHA - Também foi aprovado um
limite de 5.000 hectares em novas
propriedades rurais. Isso terá impacto na economia de Santa Cruz?
MARINKOVIC - Não apenas Santa
Cruz, mas também Beni. O tema da terra nunca deveria passar pelo tamanho ou função social, mas pelo quanto contribui
positivamente nos municípios
onde se encontra. É uma proposta feita pelo Comitê Pró-Santa Cruz e que vamos continuar fazendo com mais veemência ainda.
FOLHA - No estatuto autonômico
aprovado por Santa Cruz em 2008, a
política agrária é incumbência departamental. Como resolver esse
conflito com a Constituição?
MARINKOVIC - Há muitas coisas
que são um choque. Por isso,
volto a dizer que é preciso conviver com as duas visões.
Texto Anterior: Texto veda arbitragem internacional Próximo Texto: Frase Índice
|