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IRAQUE NA MIRA
Amorim telefona para Powell e expressa preocupação sobre as consequências econômicas do provável conflito
Brasil se queixa aos EUA do efeito da guerra
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O chanceler Celso Amorim
transmitiu ontem, por telefone, a
seu colega norte-americano, Colin Powell, a inquietação do governo brasileiro com os efeitos
econômicos de uma cada vez
mais provável guerra no Iraque.
A conversa ocorreu 24 horas depois de Amorim ter falado com
Dominique de Villepin, chanceler
da França, país transformado em
quase inimigo dos Estados Unidos, em razão das divergências
sobre o Iraque.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva também falou,
por telefone, com seu colega francês, Jacques Chirac.
Amorim disse a Powell que a
posição brasileira (idêntica à francesa, aliás) não é apenas de preocupação retórica e moral com a
hipótese de guerra, mas também
concreta e prática.
A economia brasileira tenta,
com imensas dificuldades, recuperar-se dos choques do ano passado e será certamente muito afetada com a guerra.
Amorim vê dois efeitos negativos: o primeiro é um aumento da
aversão ao risco por parte dos investidores, o que significa que, no
mínimo, continuarão hesitando
em colocar dinheiro em países como o Brasil.
Segundo efeito: aumento do
preço do petróleo.
Powell não pediu nada nem fez
comentários sobre as observações
do chanceler brasileiro. O telefonema foi resposta a uma frustrada
tentativa de Amorim de falar com
o secretário de Estado americano
dias atrás.
Pelo que a Folha apurou, a conversa tanto de Amorim como do
presidente Lula com as autoridades francesas girou em torno de
como tomar iniciativas concretas
para evitar a guerra, um passo
além da retórica contra ela adotada pelos dois países.
"A posição contra a guerra é
moralmente confortável, mas é
preciso discutir concretamente
como evitá-la", diz o chanceler.
Nem da parte francesa nem da
brasileira há respostas objetivas
para esse passo adiante.
Sabe-se como fazer na parte técnica: aumentar o número de inspetores no Iraque e dar a eles mais tempo para fazer o serviço.
Mas há o lado político: os Estados Unidos já têm 200 mil homens nas imediações do teatro de guerra e usam uma retórica belicista que aumenta de tom a cada
dia. Fazer a tropa voltar sem disparar um só tiro não será trivial.
Sem contar o fato de que há um
objetivo norte-americano que vai
além das resoluções das Nações
Unidas, sintetizado na expressão
"mudança de regime" (ou seja, depor Saddam Hussein, o ditador
iraquiano).
O mandato da ONU é apenas para desarmar o Iraque, não para
mudar o seu governo.
O que torna um recuo norte-americano mais complicado é
que a expressão "mudança de regime" não foi inventada, ao contrário do que geralmente se supõe, pelo governo George W.
Bush, tido como ultrabelicista.
Madeleine Albright, secretária
de Estado na segunda fase do governo Bill Clinton, já havia defendido a mesma tese, quando da
aprovação do "Iraq Liberation
Act", norma que, como o nome
denuncia, indica a decisão de
substituir Saddam.
Outro tema que apareceu não
apenas nas conversas com os
franceses, mas também com os
alemães, é o que governos europeus consideram o risco de um
mundo unipolar.
O Brasil, potência regional, é tido, em Chancelarias européias,
como parceiro importante para a
construção eventual de um mundo mais multipolar.
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