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IRAQUE OCUPADO
Segundo Clare Short, conversas do secretário-geral da ONU antes da guerra foram gravadas; Blair não nega
Londres grampeou Annan, diz ex-ministra
DA REDAÇÃO
A ex-ministra britânica do Desenvolvimento Internacional Clare Short disse ontem que o governo de seu país instalou equipamentos de escuta no gabinete do
secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, no período anterior à invasão do Iraque. O premiê Tony
Blair não rejeitou a acusação de
espionagem, preferindo criticar a
atitude de sua ex-subordinada.
Fred Eckhard, porta-voz de Annan, afirmou que, se de fato ocorreu, a escuta é ilegal, mas que a
ONU não tomará nenhuma medida contra o Reino Unido.
Short, que renunciou a seu cargo no governo de Blair em 2003
por não concordar com a decisão
de invadir o Iraque, fez suas declarações à Rádio 4 da BBC: "No caso
do gabinete de Kofi, [a espionagem] foi feita por algum tempo.
Eu li algumas transcrições em relatórios de suas conversas".
Em entrevista coletiva, Blair
afirmou que os serviços secretos
agiram "dentro das leis britânicas
e internacionais". "Não vou comentar sobre o trabalho dos serviços de segurança. Nenhum primeiro-ministro comentou. Não
tomem isso como uma indicação
de que as alegações são verdadeiras. O fato de essas afirmações terem sido feitas (...) é profundamente irresponsável." Blair ainda
atacou mais Short: "Não tenho
respeito por quem põe [os agentes secretos] na linha de fogo".
O porta-voz Eckhard disse que a
ONU não "está em posição para
determinar se [a acusação] é verdadeira ou não", mas, se for o caso, o Reino Unido deve "parar
com isso".
Para afirmar a ilegalidade da escuta, Eckhard citou a Convenção
dos Privilégios e Imunidades das
Nações Unidas, de 1946, que é ratificada pelo Reino Unido. A convenção afirma que as propriedades e os bens da ONU "não estão
sujeitos a serem investigados,
confiscados e expropriados".
"O Secretariado-Geral [da
ONU] rotineiramente adota medidas de defesa contra tais invasões de privacidade, e agora esses
esforços serão intensificados",
disse Eckhard. O porta-voz informou que a ONU não tomará medidas jurídicas. "Não vamos além
de reafirmar o princípio da inviolabilidade e de instar os países a
respeitar seus compromissos."
O diplomata espanhol Innocencio Arias resumiu o sentimento
predominante na ONU, de resignação e pouco espanto: "Todo
mundo espiona todo mundo".
O incidente é mais um que pode
afetar a credibilidade de Blair
dentro do Reino Unido. As pesquisas de opinião mostram uma
queda na confiança da população
no premiê, mas ele continua com
apoio suficiente para conquistar
um terceiro mandato em 2005.
No entanto, se a eleição fosse
hoje, a maioria trabalhista no Parlamento se reduziria de 161 cadeiras para cerca da metade.
Segredos expostos
Blair também negou que tenha
tido participação na decisão, revelada anteontem por promotores
públicos, de arquivar, por falta de
provas, as acusações contra Katharine Gun. A ex-funcionária do
governo divulgou e-mail confidencial em que o serviço secreto
dos EUA pede a colaboração britânica para espionar países integrantes do Conselho de Segurança da ONU.
A oposição britânica acredita
que o caso tenha sido sepultado
por temor de que, se as investigações prosseguissem, segredos sobre a decisão de ir à guerra acabariam expostos.
Com agências internacionais
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