São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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Xiitas aceitam adiar eleições por 6 meses, mas pedem garantia da ONU

DA REDAÇÃO

Principal porta-voz da demanda xiita por eleições diretas ainda neste semestre, o aiatolá Ali al Sistani concordou ontem com o adiamento da votação popular em seis meses e aceitou que o governo que assumir interinamente em junho seja eleito por voto indireto. Mas o clérigo exigiu garantias da ONU para que o novo prazo seja cumprido.
O recuo aconteceu após a entidade, que enviou uma missão ao país no início do mês, constatar que não havia condições para organizar o pleito até 30 de junho, data fixada pelos EUA para devolver a soberania aos iraquianos.
"O período durante o qual um governo não eleito controlará este país deve ser curto, de apenas alguns meses", afirmou Al Sistani em um comunicado que pede "garantias claras, como uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, para que os iraquianos tenham certeza de que não haverá mais adiamentos".
Os EUA sugeriram um complicado sistema de convenções regionais para escolher um governo interino que assumiria o poder até haver condições para organizar eleições diretas, possivelmente no fim de 2005. Mas o prazo para as diretas e o modelo de votação foram rechaçados pelos xiitas.
Convidada a desfazer o impasse, a ONU endossou a posição americana sobre diretas a curto prazo -antes da votação, é preciso recadastrar o eleitorado e promulgar uma nova Constituição. Mas, no mesmo relatório, a entidade sugeriu mudanças na proposta de criação do governo interino, alegando não haver apoio ao modelo defendido pelos EUA.
Majoritários, os xiitas, que passaram toda a ditadura de Saddam Hussein (1979-2003) reprimidos em prol da minoria sunita, vêem nas diretas um meio de conquistar a hegemonia política. Sem seu apoio -eles perfazem mais de 60% da população-, um governo dificilmente teria legitimidade.
Embora a data exigida por Al Sistani esteja mais próxima do que a sugerida pelos EUA, ela é um ponto mais equilibrado entre as duas propostas e mostra que, sob a batuta da ONU, o impasse eleitoral iraquiano caminha para ser resolvido.
Segundo a ONU, há possibilidade de o pleito ocorrer neste ano, contanto que os iraquianos formem imediatamente uma comissão eleitoral independente e obtenham rapidamente um consenso político -duas condições improváveis. O mais plausível seria tentar organizar o pleito no início de 2005, como propôs o chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, o americano Paul Bremer.

Falta de segurança
O enviado especial da ONU ao Iraque para assuntos humanitários, Ross Mountain, chegou em Bagdá para uma missão de avaliação. Sua primeira observação foi dizer que a situação de segurança no país piorou desde julho.
A ONU retirou todos os seus funcionários estrangeiros do país após sua sede bagdali ser alvo de dois atentados, que ao todo mataram 24 pessoas.
Ontem, uma pessoa morreu em um ataque com granadas-foguetes à sede da União Patriótica do Curdistão, em Kirkuk (norte).


Com agências internacionais

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