São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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HAITI

Opositores exigem renúncia de Aristide, que rejeita deixar o poder; Brasil poderá enviar avião da FAB para resgatar brasileiros

Ataque à capital haitiana é iminente, afirmam rebeldes

DA REDAÇÃO

Os rebeldes haitianos que se opõem ao presidente Jean-Bertrand Aristide disseram ontem que um ataque contra a capital, Porto Príncipe, para derrubar o governo é iminente. Ontem, Cayes, a terceira maior cidade do país, com 125 mil habitantes, caiu sob controle dos opositores do presidente, de acordo com a agência de notícias France Presse.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou ontem a ida de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) com um destacamento de fuzileiros navais e dois diplomatas para retirar brasileiros e sul-americanos da capital haitiana.
Segundo o Itamaraty, 28 brasileiros vivem no país, entre eles 19 freiras que trabalham em projetos humanitários. A missão também vai reforçar a segurança da Embaixada do Brasil em Porto Príncipe. O Itamaraty não informou quando o avião irá ao Haiti.
Também ontem, o secretário de Estado americano, Colin Powell, admitiu a hipótese de renúncia de Aristide: "Ele é o presidente eleito democraticamente, mas tem tido dificuldades e creio que [...] deve examinar se pode continuar efetivamente seu mandato".
Segundo Powell, Aristide deve decidir "cuidadosamente considerando o que é melhor para o povo do Haiti". O secretário de Estado disse que os EUA podem vir a participar de uma força internacional autorizada pela ONU.
No Conselho de Segurança da ONU, a Caricom (comunidade dos países do Caribe) pediu o envio urgente de uma força internacional. Mas tanto a ONU quanto os EUA condicionam o envio de uma força a um acordo entre Aristide e a oposição.
Ontem, o secretário-geral da ONU designou o diplomata Reginald Dumas, de Trinidad e Tobago, como seu enviado ao país. Uma de suas missões será auxilar na busca de uma solução pacífica.
Anteontem, a França culpou Aristide pelo caos no Haiti e deu indicações de que é favorável à renúncia do presidente.
A Guarda Costeira dos EUA anunciou ter sob custódia cerca de 500 haitianos apreendidos em embarcações com destino à Flórida. Anteontem, um barco que levava ao menos 21 haitianos foi interceptado a 11 km de Miami. O Haiti está a 970 km da costa da Flórida.
Uma possível fuga em massa do Haiti poderia se transformar num problema para o governo americano em ano de eleição. Nos anos 90, milhares de haitianos deixaram o país durante outra crise envolvendo Aristide.

Exigência
"O ataque é iminente, e peço à população que permaneça em casa quando atacarmos Porto Príncipe", disse Guy Philippe, um dos líderes rebeldes, a uma rádio de Cabo Haitiano -a segunda maior cidade do país, também tomada pelos opositores. E acrescentou: "Aconselho o presidente Aristide a deixar o palácio nacional imediatamente ou atacaremos para capturá-lo."
Philippe foi chefe da polícia de Aristide antes de romper com o governo. Hoje faz parte do grupo heterogêneo de ex-militares e grupos armados que visam derrubar o presidente. O líder rebelde disse ainda que pretende comemorar o seu 36º aniversário em Porto Príncipe no domingo.
Aristide respondeu à ameaça afirmando, em entrevista à rede de TV CNN, que não deixará o poder. "Não [deixarei o governo]. O Haiti não pode ir de um golpe de Estado a outro golpe de Estado. É vital para o país que um presidente eleito dê lugar a outro eleito. Deixarei o palácio em 7 de fevereiro de 2006 [quando encerra o seu mandato], o que será bom para a democracia", afirmou.
Mais de 60 pessoas morreram no Haiti em confrontos envolvendo rebeldes e a polícia desde 5 de fevereiro. O país não tem Exército, e a polícia haitiana é composta por cerca de 5.000 homens mal treinados. Muitos desertaram.
Lojas e escolas permaneceram fechadas em Porto Príncipe. Militares americanos escoltaram funcionários da ONU e seus familiares até o aeroporto, onde se temia o cancelamento de vôos.

Brasil envia resgate
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a ida de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) com um destacamento de fuzileiros navais e dois diplomatas para retirar brasileiros e sul-americanos. A missão também vai reforçar a segurança da Embaixada do Brasil em Porto Príncipe. O Itamaraty não informou quando o avião irá ao Haiti.


Com agências internacionais Colaborou a Sucursal de Brasília

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