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ONDA DE REVOLTAS
Advogado líder de rebelião diz que ditador "já acabou"
Defensor das famílias de vítimas de massacre ordenado por
ditador é um dos chefes do comitê que controla Benghazi
"Eu contava com uma
revolução, mas não tão
rápida", diz Fathi Terbil;
ex-ministro da Justiça
assume governo rebelde
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BENGHAZI (LÍBIA)
Com um boné do time de
beisebol americano Yankees
e um lenço árabe enrolado
no pescoço, Fathi Terbil parece mais cantor de rap do
que líder revolucionário.
Mas o advogado de 39
anos, fã dos argentinos Lionel Messi e Diego Maradona,
é um dos cabeças do comitê
popular que controla Benghazi desde que a segunda
cidade do país foi tomada pelos rebelados.
Ontem, segundo a rede Al
Jazeera, o ex-ministro da Justiça líbio Mohamed Ajleil assumiu a chefia do governo interino baseado na cidade.
Em entrevista à Folha numa carona de caminhonete,
Terbil estimou que o ditador
líbio, Muammar Gaddafi,
perdeu 85% do país. "Gaddafi está acabado", disse Terbil,
enquanto a caminhonete
deixava o Tribunal de Justiça
de Benghazi e avançava lentamente no mar de gente que
celebrava a revolução.
A sede do Judiciário local
transformou-se no QG da
oposição, onde o governo
provisório coordena os próximos passos do levante com
outras partes do país.
Benghazi parou para se jogar na revolução contra Gaddafi desde o dia 15, início dos
protestos. Foi quando as forças do ditador invadiram a
casa de Terbil e prenderam o
advogado, tentando sufocar
as manifestações marcadas
para dois dias depois. O efeito, como se viu, foi o oposto.
Após quatro dias e sangrentos conflitos com centenas de mortos, Benghazi passou ao controle da oposição.
"Contava com uma revolução, mas não que ela seria
tão rápida", admite Terbil,
conhecido como defensor
das famílias das vítimas do
massacre de prisioneiros em
Abu Salim, Trípoli, em 1996.
Para o advogado, ainda é
cedo para pensar na Líbia
pós-Gaddafi. A prioridade,
diz ele, é concentrar esforços
na intifada (revolta) para
destruir "totalmente" o regime e manter a administração
das áreas libertadas.
Segundo Terbil, o comitê
inclui empresários, advogados, jornalistas, ativistas de
direitos humanos e militares,
escolhidos com base em três
critérios: lealdade à pátria,
credibilidade e qualificação.
Organizados num banco
de dados, centenas de voluntários assumiram as funções
antes desempenhadas pelo
regime. O comprometimento
se une ao improviso: há enfermeiros que viraram seguranças, engenheiros que
orientam o trânsito e empresários que tiram dinheiro do
bolso para que nada falte.
Escolas, repartições e a
maior parte do comércio continuam fechados, e a vida em
Benghazi está suspensa, à espera da queda de Gaddafi.
Ali Sham, 44, dono de escola primária, largou tudo e
passa os dias no tribunal,
ajudando a organizar o comitê. Ele levou mulher e três filhos pequenos (11, 6 e 5) para
os protestos desde o primeiro
dia. Foi atacado com ácido
por mercenários, pôs em risco a vida da família, mas diz
que não se arrepende.
O fim de 42 anos da ditadura de Gaddafi justifica qualquer sacrifício, diz ele: "Sentimos o gosto da liberdade, é
impossível voltar atrás".
Os muros de Benghazi estão cheios de pichações contra o ditador, muitas pedindo
sua execução. Mas Terbil é
contra. "Quero ver Gaddafi
julgado diante do mundo pelos crimes que cometeu".
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