São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

Parceria com Itália vai de armas a mulheres

Tratado firmado em 2008 ampliou as relações com a Líbia de Gaddafi

Relação se estende ao plano pessoal entre Berlusconi e o ditador líbio, amigos e parceiros de festas controversas


GINA MARQUES

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ROMA

Armas, mulheres e petróleo compõem a parceria da Líbia de Muammar Gaddafi com a Itália de Silvio Berlusconi, a mais sólida entre a ditadura árabe e o Ocidente -ao menos até o início do levante contra o ditador.
A Itália é um dos principais parceiros comerciais da Líbia e o maior exportador europeu de armas ao regime de Gaddafi, desde que a União Europeia (UE) revogou o embargo total aos líbios, em 2004.
No biênio 2008-2009, a Itália enviou à Líbia 205 milhões em armamentos, 34,5% das exportações de armas europeias, segundo a ONG italiana Unimondo, citando dados da UE.
Seguem-se França ( 143 milhões), Malta ( 80 milhões), Alemanha ( 57 milhões) e Reino Unido ( 53 milhões).
A liderança da Itália nas vendas militares à Líbia foi reforçada pelo Tratado de Amizade, Parceria e Cooperação firmado em 2008 em Benghazi -epicentro da revolta-, onde Berlusconi chegou a pedir publicamente desculpas pela ocupação colonial italiana de 1911 a 1943.
A suspensão do tratado bilateral foi anunciada ontem pelo governo italiano.
À época, o premiê anunciou ainda que a Itália indenizará a Líbia em 3,4 bilhões em 20 anos, o equivalente a 170 milhões anuais em investimentos e projetos.
Berlusconi disse que estava orgulhoso da sua amizade com o coronel líbio, e para comemorar o aniversário de dois anos do acordo bilateral, em agosto passado recebeu o ditador com honras militares em Roma.
Como homenagem, foram contratadas 500 garotas italianas para ouvir o discurso de Gaddafi, que, no quintal do Vaticano, defendeu a islamização da Europa.

BUNGA BUNGA
O tratado de 2008 norteia megainvestimentos de empresas italianas na Líbia, entre elas a petroleira Eni.
O pacto prevê ainda ampla parceria na área militar, além de cooperação estreita entre Forças Armadas.
O acordo pavimentou a exportação italiana de helicópteros da Agusta Westland, aviões de combate da Alenia Aermacchi, mísseis da Mbda e armas da Beretta.
O tratado delineou também a luta contra a imigração ilegal. A partir de então, os clandestinos que conseguiam chegar à Itália foram enviados de volta à Líbia, sob protestos das organizações humanitárias, que acusam Gaddafi de não respeitar convenção de direitos humanos.
Apesar da grave crise líbia, o ministro da defesa italiano, Ignazio La Russa, disse: "Não temos motivos para duvidar que o tratado vai permanecer em vigor. O problema é a sua aplicação."
El afirmou que "neste momento a Itália não está fornecendo armas à Líbia."
A Líbia também figura no escândalo sexual que ameaça derrubar Berlusconi.
Segundo a jovem marroquina Karima el Mahroug -a prostituta com quem o premiê italiano teria se relacionado sexualmente enquanto ela era menor de idade-, foi Gaddafi quem ensinou ao premiê italiano os segredos do "bunga bunga". Na dança, moças tiram a roupa e fazem ousados gestos para divertir os homens.


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