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RÚSSIA
Putin vence eleição no primeiro turno
Com 69% dos votos apurados, presidente em exercício bate neocomunista e ameaça de abstenção alta
Reuters
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Vladimir Putin, após votar, ontem, em Moscou |
IGOR GIELOW
enviado especial a Moscou
Vladimir Vladimirovich Putin,
47, é o presidente eleito da Rússia.
Quase dez anos após o fim do comunismo no país, esse ex-espião
formado nos quadros do serviço
secreto da ex-União Soviética assume o poder com a promessa de
instalar a "ditadura da lei".
Presidente em exercício desde
janeiro, Putin (pronuncia-se Pútin), com 69,4% dos votos apurados, tinha 51,1% dos votos. Em
entrevista coletiva, ele evitou se
declarar vencedor, mas o curso da
votação era inevitável. "Trabalho
normalmente amanhã."
O líder neocomunista Gennadi
Ziuganov, 56, vinha em segundo,
com 30,3%. Ele prometeu acompanhar a apuração até o fim e disse que havia fraude no pleito.
Havia dúvidas se Putin conseguiria ganhar no primeiro turno
devido aos resultados iniciais da
apuração nas áreas orientais da
Federação Russa, que encerraram
a votação mais cedo -o país tem
11 fusos horários.
A incerteza se dissipou no início
da madrugada de hoje (início da
noite de ontem no Brasil), quando ficou claro que ele teria os 50%
dos votos mais um necessários.
Em terceiro lugar, vinha o liberal Grigori Iavlinski, 47, com
5,7%. O governador da região de
Kemerovo, Aman Tuleiev, 56, tinha 3,4%. Outros sete candidatos
vinham na sequência.
"Putin terá de mostrar agora a
que veio", afirmou Oksana Antonenko, especialista russa do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, que monitora o pleito
com outros 980 observadores.
Putin ainda não deixou claro
qual é seu projeto para a Rússia.
Foi eleito basicamente por sua jovial imagem de "homem de ferro", que conhece o sistema por
dentro desde seus tempos de KGB
(serviço secreto da era soviética),
e pode assim acabar com o caos
institucional que assola o país
desde o final da União Soviética,
em 1991.
Apesar de seu passado, o novo
presidente, o segundo eleito da
história russa, trabalhou junto a
reformistas liberais após o fim do
comunismo. Até agora, tudo o
que se sabe das intenções de Putin
está em uma carta de intenções
publicada neste mês e em idéias
vagas transmitidas por discursos
e entrevistas. Ele fala em recolocar
a Rússia numa posição de destaque e limpar o país da corrupção e
do crime com a mesma energia
com que vem combatendo os separatistas da Tchetchênia.
É o último item que assusta o
Ocidente. Seu primeiro ato quando assumiu a Presidência, após a
renúncia de Boris Ieltsin em 31 de
dezembro, foi proteger o antecessor e sua família de investigações.
Sua luta contra a corrupção pode
ser seletiva. E a violência de sua
ação no Cáucaso traz temores sobre pendores totalitários.
De qualquer forma, a votação
de Putin é impressionante. Ao ser
apontado premiê por Ieltsin, em
agosto de 1999, era desconhecido
do grande público e tinha menos
de 2% das intenções de voto.
Sua guerra na Tchetchênia é
muito popular, mas era apenas o
quarto tema mais importante para o eleitorado, segundo apontou
pesquisa recente. A explosão de
um carro-bomba no vizinho Daguestão, logo após a vitória de Putin parecer inevitável, mostra que
o tema seguirá no noticiário russo
por algum tempo.
Um dos principais temores de
seu time de campanha foi vencido
já no encerramento da votação.
Foi apurado um comparecimento
mínimo de 66%, entre 108 milhões de eleitores registrados.
Se fosse inferior a 50%, o pleito
seria invalidado. O Kremlin levou
a sério o risco. Alto-falantes convocavam os russos a votar ontem.
Ieltsin reapareceu ontem, ao votar em Moscou, e fez a primeira
declaração política desde que renunciou: "Estou confiante que
Vladimir Putin será um grande
presidente. Eu lhe desejo boa sorte", afirmou Ieltsin, cuja ausência
durante a campanha foi vista como uma forma de desvincular sua
imagem impopular da de Putin.
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