do enviado especial a Moscou

Se conseguir uma votação superior a 30%, o neocomunista Gennadi Ziuganov terá cumprido sua missão na eleição presidencial de forma surpreendente.
Os dados iniciais da apuração na madrugada de hoje na Rússia (Moscou está sete horas à frente do horário de Brasília) mostravam Ziuganov com quase 31% dos votos.
Mas os números eram relativos às regiões e Repúblicas do extremo oriente da Federação, mais refratários às políticas de Moscou, lar dos "novos russos", a classe mais endinheirada, que não é exatamente bem-vista no resto do país.
Em Kamchakta, primeira região a votar, Ziuganov teve 28% dos votos, contra 48% de Putin. A TV russa mostrou entrevistas com eleitores dizendo ter votado nos neocomunistas como forma de protesto pela dureza da vida após uma década de capitalismo caótico.
De todo modo, uma vitória de Ziuganov na improvável ocorrência de um segundo turno seria muito difícil. O secretário-geral do Partido Comunista da Rússia é uma figura em decadência.
Desde 1996, quando perdeu o segundo turno para Boris Ieltsin, sobretudo pelo apoio dado ao então presidente pelo terceiro colocado, Alexander Lebed, Ziuganov viu seu partido ser alvo das mais variadas denúncias.
Como diz o cientista político Boris Kagarlitski, da Academia de Ciências, o PC é hoje uma agremiação de políticos preocupados com seus Audi com motoristas, que vota com o governo em qualquer situação se o ocupante do Kremlin for forte politicamente.
Mesmo em uma hipotética situação na qual todos os votos dos outros candidatos migrassem para Ziuganov, Putin ainda deveria ganhar.
O eleitor do liberal Grigori Iavlinski, porém, poderia até anular o voto, mas dificilmente votaria nos neocomunistas.

Tuleiev
A apuração inicial nas regiões orientais russas confirmaram o poder local de Aman Tuleiev, o governador da região de Kemerovo, na Sibéria.
Com 47% dos votos apurados, Tuleiev tinha 4,19%, atrás de Iavlinski, com 5,58%.
Os números certamente irão se modificar com a contagem de votos rumando para oeste, mas mostram mesmo assim que as análises que colocavam Tuleiev como uma figura de influência crescente na política russa estavam corretas.
Ele já declarou que considera Putin o melhor candidato e que iria votar nele num possível segundo turno. Tuleiev é um esquerdista rompido com os neocomunistas.
Em 96, ainda no PC, abandonou a pré-candidatura a presidente em favor de Ziuganov. Na sequência, abandonou o partido e buscou carreira independente.
Foi eleito deputado em dezembro, mas preferiu ficar em Keremovo até o final do mandato, em 2001. (IG)




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