São Paulo, sexta-feira, 27 de março de 2009

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Manifestantes contra o G20 convocam queima de bancos

Londres se prepara para onda de protestos durante cúpula da próxima semana

Com a crise varrendo a Europa, banqueiros que receberam ajuda pública viram alvo número um de ativistas antiglobalização

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O G20, o grupo das maiores economias do planeta, reúne-se na próxima quinta-feira em Londres para discutir principalmente como sair do esfriamento econômico global.
Os adversários do G20 têm uma sugestão de humor negro para aquecer se não a economia, pelo menos o ambiente: "Queime um banco", proclama folheto de Guerra de Classes, um dos grupos que prometem fazer de Londres um inferno ao menos para os banqueiros, transformados nos últimos tempos em inimigos públicos número um do planeta.
"Queime um banco" não é apenas linguagem figurada. Para começar, não chegaram a queimar um, mas já atacaram a casa de um banqueiro, Fred Goodwin, o executivo do RBS, o portentoso banco britânico que só não faliu porque o governo entrou com um caminhão de dinheiro para ampará-lo.
Parte desse dinheiro acabou nos bolsos de "sir" Goodwin, graças ao acordo que lhe dá uma aposentadoria generosa, mesmo depois de ter levado a sua instituição à quebra.
Para continuar, os ativistas - cuja coalizão leva o nome de "G20 Meltdown" ou derretimento do G20- pretendem sitiar na terça-feira a City londrina, segundo maior centro financeiro do mundo e o mais importante da Europa, onde a crise derruba governos e provoca protestos (veja quadro).
Com os nomes de cavaleiros do Apocalipse, quatro marchas partem de quatro estações do metrô e convergem para o prédio do Banco da Inglaterra, o BC inglês, diante do qual fazem o que estão chamando de "carnaval", com música ao vivo, teatro de rua e, claro, o enforcamento de efígies de banqueiros.
De lá, uma das marchas, a de uma coalizão contra a guerra (do Iraque e do Afeganistão), parte para a que era, antes dos banqueiros, a inimiga número um dos movimentos antiglobalização, a Embaixada dos EUA, hoje um bunker a três quadras da embaixada brasileira, onde, em tese, estará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia seguinte, o dia do encontro do G20, as manifestações tentarão chegar ao ExCel, centro de convenções afastado da City e que a polícia promete tornar inexpugnável para a segurança dos chefes de governo.
Os protestos começam no sábado, mas é um dia em tese tranquilo, porque se trata da marcha oficialmente autorizada. Há dias as ruas centrais já exibem, bem britanicamente, os cartazes avisando que serão interditadas amanhã por causa de manifestação que se dirigirá ao Hyde Park, uma das atrações principais da cidade.

Como em Seattle
A marcha será precedida de uma missa ecumênica, na catedral de Westminster, oficiada pelo bispo de Londres.
Mas as bênçãos das diferentes igrejas podem não bastar para dar ao protesto o caráter pacífico pretendido pelos organizadores: o Bloco Anarquista, usualmente violento, pretende aproveitar a manifestação no Hyde Park para angariar adeptos para os atos do dia 1º.
Se depender do entusiasmo dos jovens que difundem a programação de protestos via Twitter, será a volta dos grandes protestos de rua que se tornaram famosos há dez anos, quando grupos similares impediram a abertura da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio em Seattle (EUA). Conseguiram a rara proeza de impedir uma secretária de Estado, no caso Madeleine Albright, de discursar em solo americano.
Depois, protestos espetaculares acompanharam todos os grandes eventos internacionais até o 11 de setembro de 2001. Para evitar serem acusados de terroristas, os manifestantes se encolheram, mas não desapareceram. Sem contar o fato de que muitas cúpulas foram transferidas para locais inacessíveis, como as do G8.
Mas a City londrina é o mais acessível dos locais agora que o protesto ganhou um novo alvo, os bancos e os banqueiros.


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