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EUA e Rússia fecham acordo para reduzir arsenal nuclear
Pelo novo tratado, cada país poderá manter no máximo 1.550 ogivas de longo alcance
Pacto, a ser assinado em abril, substitui Start-1, que expirou em dezembro, e faz parte da recomposição de relações entre as potências
Charles Dharapak/Associated Press
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Obama anuncia acordo ao lado de Mike Mullen, chefe do Estado-Maior-Conjunto, e dos secretários Hillary Clinton e Robert Gates
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Os governos de EUA e Rússia
anunciaram ontem que foi
acertado um novo tratado de
redução de armas nucleares para substituir o Start-1 (Tratado
de Redução de Armas Estratégicas), que venceu em dezembro. O novo tratado reduz em
74% os limites do anterior, mas
ainda permite até 1.550 ogivas
estratégicas a cada país -o suficiente para destruir o mundo
várias vezes.
Os detalhes do plano foram
finalizados em um telefonema
entre os governos russo e americano ontem pela manhã, e o
acordo deverá ser assinado no
próximo dia 8, em Praga. "Desde que assumi, estive empenhado em recomeçar nossa relação com a Rússia. Armas nucleares representam os piores
dias da Guerra Fria e as mais inquietantes ameaças da nossa
era", afirmou Obama ontem.
"O novo tratado marca um
nível mais alto de cooperação
entre a Rússia e os EUA no desenvolvimento de uma nova relação estratégica", disse o
Kremlin em comunicado.
O prazo do novo tratado é de
dez anos, prorrogáveis por mais
cinco, e ele depende de ratificação em ambos os Parlamentos.
O momento da assinatura foi
escolhido para anteceder a cúpula nuclear mundial que Obama, que já declarou a intenção
de "livrar o mundo das armas
nucleares", fará em Washington em abril e da revisão do
Tratado de Não Proliferação
Nuclear (TNP), que ocorrerá
em Nova York em maio.
O limite de 1.550 ogivas estratégicas (de longo alcance,
decisivas em uma guerra) inclui as destacadas em mísseis
balísticos intercontinentais
(ICBM) e mísseis balísticos
submarinos (SLBM). Cada
bombardeiro destacado com
capacidade de levar armamento nuclear também conta como
uma ogiva. Ainda serão permitidos um total de 800 lançadores de mísseis balísticos intercontinentais, lançadores de
mísseis submarinos e bombardeiros equipados para armamento nuclear destacados e
não destacados. É menos da
metade do previsto no Start-1
para os veículos que carregam
as ogivas.
Pelo Start-1, assinado em
1991, os arsenais estratégicos
podiam chegar a 1.600 mísseis
e 6.000 ogivas nucleares. O novo texto substituirá também o
Sort (tratado de redução ofensiva estratégica, na sigla em inglês). Assinado em maio de
2002, o Sort limita cada lado a
não mais de 1.700 a 2.200 ogivas nucleares estratégicas até
2012, mas não contém regras
para contagem e verificação.
A falta de regras de checagem, fundamentais para a aplicação dos tratados, tornou o
Sort obsoleto e manteve o
Start-1 como o mais importante tratado de redução de armas
nucleares entre EUA e Rússia.
Foram as dificuldades em definir novas regras (a Rússia já
considerava o Start-1 muito intrusivo) que levaram, em grande medida, ao atraso na conclusão das negociações atuais. Ao
final, os países concordaram
em incrementar métodos de
verificação mútua, incluindo
checagem em campo e troca de
dados de medições remotas.
Escudo
Não estão previstas no novo
acordo quaisquer restrições relativas a escudos antimísseis ou
mísseis convencionais (não nucleares) de longo alcance, que
fazem parte dos planos dos
EUA. "Essas reduções não vão
afetar a força de nosso [arsenal
estratégico] nem limitar planos
de proteger os EUA e nossos
aliados por meio do desenvolvimento de sistemas de defesa de
mísseis", disse o secretário da
Defesa dos EUA, Robert Gates.
O governo Obama pretende
adotar um sistema com foco na
intercepção de mísseis de curto
e médio alcance. Um interceptador deverá ser implantado na
Romênia, enquanto dois navios
com capacidade de interceptar
projéteis monitoram a costa
iraniana e baterias antimísseis
irão para países do golfo.
O acordo tampouco versa sobre arsenais nucleares táticos
(de alcance limitado). A Rússia
conta cada vez mais com um
grande arsenal nuclear tático
para suprir deficiências de suas
forças convencionais.
Para Michael O'Hanlon, analista de defesa do Instituto
Brookings, "o novo tratado será
útil por enquanto, mas não é
suficiente".
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