São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Lugar serviria de armazém para munição química; tropas dos EUA substituem espanhóis e entram em Najaf

Explosão de depósito mata 2 americanos

DA REDAÇÃO

Autoridades iraquianas reivindicaram soberania total do país a partir de 30 de junho, data marcada para sua restituição, em resposta ao plano dos EUA para limitá-la. "É muito importante que o povo iraquiano receba sua soberania completa. As decisões em âmbito local devem ser tomadas pelo povo iraquiano, e as decisões nacionais, pelo governo", disse ontem Nesreen Berwari, membro do Conselho de Governo Iraquiano e ministra dos Serviços Públicos, em discurso na ONU.
Segundo ela, o país precisa de ajuda em segurança e na construção de instituições democráticas, mas deve ser responsável por seu Orçamento e seu rumo político, incluindo a criação de leis.
Os EUA propõem que o governo interino que assumirá em junho não possa criar leis nem comandar as forças de segurança.
Ontem, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, voltou a defender o plano, dizendo que a nova autoridade iraquiana deveria aceitar os limites. "Parte dessa soberania terá de ser devolvida [aos EUA], com a ciência de que é importante que uma força multinacional opere com comando próprio", disse.
O enviado da ONU ao Iraque, Lakhdar Brahimi, depõe hoje no Conselho de Segurança sobre a formação do governo interino a ser empossado após a transferência de poder. Os EUA, pressionados pela comunidade internacional, aceitaram o plano de Brahimi para a formação do governo.

Violência
As tensões estão recrudescendo no Iraque a menos de dez semanas da transição. Ontem, dois soldados americanos morreram e cinco foram feridos quando um armazém que supostamente servia de depósito para munição química em Bagdá foi quase totalmente destruído por uma explosão, no momento em que era inspecionado pelos militares.
Entretanto, após o incidente, a área não foi isolada -precaução comum no caso de explosões envolvendo produtos químicos tóxicos. Testemunhas encontraram no local crachás e documentos do Grupo de Pesquisa Iraquiano, a equipe de especialistas criada em junho passado para buscar o suposto arsenal proibido do ex-ditador Saddam Hussein.
Após o incidente, iraquianos saquearam o que restou dos quatro veículos militares atingidos.
Nas cercanias de Najaf (sul), insurgentes dispararam foguetes contra um posto americano. Os EUA reagiram com helicópteros e forças em terra. À noite, foram ouvidas mais explosões. O impasse na cidade, considerada sagrada pelos xiitas, começou com um levante no início do mês liderado pelo clérigo xiita radical Moqtada al Sadr. Os EUA, que prometeram prendê-lo ou matá-lo, entraram ontem na cidade.
Embora os comandantes militares tenham reafirmado que não entrarão nos santuários para capturar Al Sadr, temendo disseminar uma revolta xiita, o porta-voz da coalizão, Dan Senor, declarou que escolas, mesquitas e templos seriam alvos legítimos a partir do momento em que forem usados para esconder armas, como a coalizão acredita estar acontecendo.
Cerca de 200 militares dos EUA ocuparam uma base que até então era usada por espanhóis a apenas 6 km dos templos mais importantes da cidade. A Espanha começou a retirar seus soldados do Iraque na semana passada por ordem do novo premiê, José Luís Rodríguez Zapatero. Seu antecessor, José María Aznar, publicou ontem um artigo em que chama a retirada de "condescendência".
Ao sul de Najaf, na também xiita Diwaniyah, um embate entre tropas remanescentes espanholas e insurgentes resultou na morte de seis iraquianos. Em Karbala, foram disparados tiros contra a comitiva do presidente búlgaro, Georgi Parvanov, que visitava suas tropas. Ninguém foi ferido.


Com agências internacionais

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