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Anticoncepcional falhou, diz mãe de suposto filho de Lugo
À Folha, Damiana Morán afirma que usava DIU na relação com presidente do Paraguai, ex-bispo; ela vê sinal de complô e cenário político cada dia mais difícil de lidar
MAURÍCIO MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um ano após sua posse, um
filho assumido e dois por reconhecer, o ex-bispo Fernando
Lugo, 58, presidente do Paraguai, enfrenta a pior crise de
seu governo. A história envolve
sexo, religião e, claro, política.
Mãe de um dos supostos filhos
do presidente, Damiana Morán, 39, falou com exclusividade à Folha por telefone.
Lugo, diz, "sabia" que ela
usaria um DIU (dispositivo intrauterino) durante o relacionamento -o uso de anticoncepcional viola a doutrina católica. "Por isso estávamos tranquilos", afirma. Mas o método
falhou e nasceu Juan Pablo, 16
meses, batizado em homenagem ao papa anterior.
Damiana enfatiza que não
contou para o então candidato
que engravidara dele, em 2007,
para não atrapalhar sua campanha. Diz que o filho é "fruto
de amor incondicional". "E a
vida segue nesse tom. Eu gosto
muito dele [Lugo] e o valorizo."
Militante política e líder de
uma pastoral católica em San
Lorenzo, no centro do país, ela
não processou o presidente como fez Viviana Carrillo, 26, cujo filho de dois anos foi reconhecido pelo mandatário. Outra a demandar a paternidade é
Benigna Leguizamón, 27.
Desde que revelou o caso,
sua vida mudou radicalmente:
"Agora tenho resguardo policial e não posso me deslocar
com tranquilidade."
Damiana diz que falou com
Lugo há uma semana e o vê
"muito atingido". "Arma-se um
cenário que a cada dia lhe é
mais difícil administrar", diz.
Um senador do Partido Liberal Radical Autêntico (partido
da coalizão governista) pediu a
renúncia de Lugo. A presidente
do Partido Colorado (cuja hegemonia de 61 anos foi rompida por Lugo), senadora Lilian
Samaniego, pediu que a Promotoria investigue o presidente por estupro (Vivana Carrillo
diz que começou a se relacionar com Lugo aos 17).
"Nossa sociedade é muito
machista. Por isso, a oposição
acertou [na meta de usar politicamente o caso]", diz Damiana.
Ela ainda aponta um complô
"multinacional" para desestabilizar o governo. Mas, apesar
do contencioso entre o governo
Lugo e o Brasil sobre a usina binacional de Itaipu, não cita países na sua tese conspiratória.
"Eu recebi, há dois meses, a
informação de pessoas ligadas
à Suprema Corte [paraguaia]
de que haveria um documento
com meu nome, dizendo que
eu estaria demandando uma
ação contra o presidente. Fiquei muito surpresa, porque
não autorizei ninguém a entrar
com o processo", conta.
Ela alega que uma investigação informal, feita por "pessoas
capacitadas e de confiança", teria apontado a participação de
"estrangeiros" no complô, destinado a divulgar a história dos
supostos filhos de Lugo.
"Vida a dois"
A despeito da crise, Damiana
crê que Lugo está feliz com a
ideia de ter um filho dela. À imprensa, "Lugo prometeu ser
bom pai. Isso me emocionou
bastante, porque eu já havia colocado que não estou pedindo
um sobrenome, tampouco recursos", diz. Ela rechaça especulações de que criaria uma comissão de ex-mulheres do ex-bispo. "Me entenderam mal."
Damiana diz que Lugo sempre soube que ela usava DIU e
nunca se incomodou. Eles se
relacionaram, afirma, quando o
então bispo já anunciara a disposição de renunciar ao episcopado. Mas a Igreja Católica ainda não o havia liberado das funções clericais -o que só aconteceu às vésperas de assumir a
Presidência, em agosto último.
Diferentemente da primeira
mulher, Viviana, que sumiu
após o início do escândalo, e da
segunda, Benigna, que já falou
desaforos ao presidente num
programa sensacionalista, Damiana fala quase diplomaticamente, empenhada em resguardar a figura de Lugo.
Indagada se gostaria de ser
primeira-dama, ela hesita e responde: "Ai [risos], não quero
por essa questão". "O que posso
dizer é que quando começamos
nossa relação havia uma intenção de viver uma vida a dois."
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