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Rigorosas sanções unilaterais dos EUA afetariam o Brasil
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Uma nova lei de sanções unilaterais que o Congresso dos
EUA prepara contra o Irã deverá ter efeito devastador para
empresários de vários países,
inclusive do Brasil. A lei está
em processo de harmonização
das versões já aprovadas na Câmara e no Senado e poderá barrar negócios nos EUA até a
quem faz parte de grupos no exterior indiretamente ligados a
setores energéticos iranianos.
As novas sanções atingem
qualquer grupo ou empresa
que fornecer "bens, serviços,
tecnologia, informação ou
apoio" que poderiam facilitar a
exportação, importação, manutenção ou expansão de produtos ligados ao setor energético. Aí estão incluídas "construção, modernização ou reparo"
de instalações.
As atividades na mira das
sanções vão além das ligadas ao
petróleo: chegam a recursos de
gás natural, navios petroleiros
e de transporte de gás natural e
produtos para construir ou
manter oleodutos e gasodutos.
Quem financia ou garante a
venda, o aluguel ou a oferta geral de tais bens e serviços, seja
por parte de matrizes, subsidiárias ou afiliadas, pode ser alvo
das punições. Até agências de
crédito à exportação são vulneráveis. A maior parte das sanções incide sobre transações
acima de US$ 200 mil.
Dependendo da interpretação da lei, há margem para sancionar uma empresa que, por
exemplo, participar de terraplanagem de área por onde passe um gasoduto, ou venda medidores de pressão usados em
tubulações do setor
A Câmara de Comércio dos
EUA e vários outros grupos
empresariais enviaram carta a
congressistas no último dia 30
criticando a legislação. Calculam-se em US$ 25 bilhões as
perdas anuais mínimas em exportações americanas e em 210
mil a eliminação de empregos,
se as sanções forem aprovadas.
Isso porque quem for sancionado será virtualmente cortado
das relações econômicas dos
EUA: ficará impedido de fazer
transações comerciais em moeda estrangeira com o país e de
transferir créditos e pagamentos por meio de qualquer instituição financeira americana.
Questionado pela Folha, o
chanceler Celso Amorim disse
desconhecer efeitos para brasileiros. Mas afirmou que "sanção unilateral é mais contraproducente ainda [do que sanções multilaterais]". "Além de
ineficazes, acabam criando resistências aos EUA. Espero que
isso não ocorra, mas é um problema interno dos EUA."
Fontes ligadas ao meio empresarial brasileiro consultadas pela Folha afirmaram que,
se exportadores do país ainda
não estão alarmados, deveriam
estar. As sanções deverão impactar o comércio de eletroeletrônicos, ferramentas, máquinas e equipamentos, produtos
siderúrgicos e químicos, serviços financeiros, tecnologia da
informação, telecomunicações,
transporte marítimo e outros.
Neste mês, o Ministério do
Desenvolvimento levou ao Irã
representantes de setores como construção civil, máquinas
e equipamentos (inclusive para
exploração mineral), veículos,
infraestrutura e aeronáutica.
A Petrobras, frequentemente associada ao Irã, poderá ter
de atentar para as novas leis.
Na semana passada, a empresa
apareceu em lista do governo
dos EUA de 41 empresas estrangeiras com atividades no
setor energético do Irã nos últimos cinco anos. A estatal afirma, porém, já ter encerrado
sua atuação no Irã.
A harmonização das leis da
Câmara e do Senado deverá ser
concluída em cerca de um mês,
quando o texto final será enviado para a Casa Branca.
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