São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 2002

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AMÉRICA LATINA

O direitista Alvaro Uribe obtém 53% dos votos com promessa de ação militar mais forte contra a guerrilha

Linha-dura é eleito presidente da Colômbia

France Presse
Veículo blindado da polícia patrulha centro de votação na cidade de Medellín (região oeste da Colômbia), durante eleição de ontem


ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA

O direitista Alvaro Uribe Vélez, 49, foi eleito ontem presidente da Colômbia. Com 95,7% dos votos apurados, até as 19h (21h de Brasília), Uribe tinha 53% dos votos, suficiente para vencer já no primeiro turno. Seu principal adversário, o liberal Horacio Serpa (centro), 59, tinha 31,7%.
Às 18h30, antes mesmo do fim da apuração, a embaixadora dos EUA na Colômbia, Anne Patterson, compareceu à sede da campanha de Uribe para cumprimentá-lo pela vitória.
Para os analistas, a vitória de Uribe indica a opção dos colombianos por uma ação militar mais dura contra os grupos guerrilheiros, principal bandeira de campanha de Uribe.
Há quatro anos, o atual presidente, Andrés Pastrana, havia derrotado Horacio Serpa no segundo turno da eleição presidencial prometendo a paz. Mas o fracasso do diálogo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal grupo guerrilheiro do país, rompido em fevereiro deste ano, provocou a mudança na opinião pública. O rompimento do processo provocou um agravamento no conflito, que já dura quatro décadas e deixa cerca de 3.500 mortos por ano.
Uribe prometeu em sua campanha dobrar o efetivo do Exército e da Polícia Nacional e aumentar em US$ 1 bilhão o orçamento para a Defesa. Ele também se disse favorável a uma maior participação dos EUA no conflito. O governo americano é o principal financiador do Plano Colômbia, de combate ao narcotráfico, com US$ 1,3 bilhão, e estuda permitir que os recursos possam ser utilizados também no combate aos grupos armados ilegais.
Outra das propostas polêmicas apresentadas por Uribe durante a campanha foi a formação de um batalhão de 1 milhão de civis para ajudar a Força Pública no combate à guerrilha. Acusado por Serpa de incentivar o paramilitarismo, Uribe afirmou que os civis não serão armados e que trabalharão apenas como informantes.
Por conta de seu discurso belicista, Uribe foi alvo de ameaças das Farc durante a campanha. Em abril, ele saiu ileso de um atentado a bomba contra sua comitiva em Barranquilla (norte), no qual quatro pessoas morreram. Para garantir sua segurança, o organismo eleitoral fez uma concessão e habilitou ontem cinco locais diferentes para que Uribe pudesse votar. Ele votou às 15h, uma hora antes do fechamento das urnas, na praça Bolívar (centro).
Além de Uribe e Serpa, outros nove candidatos disputavam o voto dos colombianos. O esquerdista Luis Eduardo Garzón, 51, aparecia em terceiro lugar, com 6,3% dos votos. A ex-chanceler Noemí Sanín, 53, tinha 5,9%. A ex-senadora Ingrid Betancourt, 40, sequestrada há três meses sequestrada pelas Farc, tinha 0,5%.
A eleição de ontem aconteceu em meio a um clima de alta tensão. Cerca de 210 mil homens do Exército e da Polícia Nacional foram destacados para fazer a segurança da votação. Nos dias que antecederam a eleição, as Farc empreenderam uma forte ofensiva contra a infra-estrutura do país e pressionaram eleitores em zonas rurais para que não comparecessem às urnas.
Ao mesmo tempo, observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos) advertiram que grupos paramilitares de direita pressionaram eleitores em sua base de atuação para que votassem em Uribe. As pressões obrigaram a transferência de pelo menos mil das 60.294 mesas eleitorais instaladas, de zonas rurais para cidades, onde a pressão dos grupos armados era menor.
Em pelo menos oito dos 1.098 municípios do país a eleição foi cancelada, porque guerrilheiros das Farc destruíram o material de votação. Cinco Departamentos (Estados) do país estavam sem luz ontem por causa da derrubada de torres de transmissão de energia pela guerrilha.


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