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Segundo analista, país deve viver recrudescimento da guerra civil
DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA
Com a vitória de Alvaro Uribe
na eleição de ontem, os colombianos devem esperar um recrudescimento da guerra civil e uma forte reação da guerrilha, com poder
para desestabilizar o Estado. A
análise é de Camilo González Posso, integrante do gabinete no governo César Gaviria (1990-1994) e
atual presidente do Indepaz (Instituto para o Desenvolvimento e
para a Paz).
"O programa que propôs Uribe
como candidato prevê uma negociação como algo posterior a uma
fase de confrontação militar",
afirma González. "Isso significa
mais vítimas e o empobrecimento
do país. É um caminho desnecessário, baseado em um cálculo puramente político", diz.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida por
González à Folha, em Bogotá.
(RW)
Folha - O que os colombianos podem esperar caso a vitória de Uribe
seja confirmada?
Camilo González Posso - O programa que propôs Uribe como
candidato à Presidência prevê
uma negociação como algo posterior a uma fase de confrontação
militar e a imposição de novas regras para a guerrilha.
Os condicionamentos dele são
muito mais exigentes, então o
conflito terá um recrudescimento. Sua proposta está toda baseada
na segurança, no fortalecimento
da força pública, nos grupos privados de segurança.
Folha - E o que isso significaria
em termos práticos?
González - Um aumento no número de vítimas e o empobrecimento do país. É um caminho
desnecessário, baseado em um
cálculo puramente político.
Folha - E as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia) teriam condições de ameaçar o Estado colombiano?
González - Se houver uma escalada de todos os componentes
militares, com a intervenção externa muito mais generalizada
com o apoio ao Plano Colômbia,
as Farc teriam capacidade de desestabilização e de passar a uma
guerra de sabotagem econômica,
de destruição da infra-estrutura e
de bens públicos, de ações de terror. Uma intensificação da confrontação levaria a uma reação da
guerrilha de maneira mais desestabilizadora.
Folha - Os paramilitares avançariam no governo Uribe?
González - Acho que não somente num governo de Uribe, mas
qualquer que seja o vencedor, se o
que houver for uma escalada da
guerra, sem diálogo, sem negociação, sem elementos de solução
política que possam diminuir a
intensidade do conflito, haverá
uma intensificação da ação paramilitar.
Neste momento, as principais
ações de combate que se desenvolvem contra a guerrilha são feitas pelos paramilitares. Que têm
como característica o total desrespeito às normas humanitárias de
proteção à população civil. Acho
que isso não depende de Uribe,
seria uma consequência de qualquer política que pusesse mais ênfase na solução militar.
Folha - Uribe foi acusado nas últimas semanas de campanha de ter
vínculos com paramilitares e com o
narcotráfico. Essas acusações poderiam provocar o mesmo tipo de
reação americana como a que houve quando o presidente Ernesto
Samper (1994-1998) foi acusado de
receber doações de narcotraficantes em sua campanha e teve negado visto de entrada nos EUA?
González - Acho que não. O fator
de direitos humanos e também o
fator do narcotráfico têm um peso
distinto hoje para a política externa dos EUA do que tinham na
época do governo Samper. Agora
o tema da segurança nacional e do
combate ao terrorismo têm uma
ênfase muito maior. Isso inclusive
significa uma flexibilização da política de direitos humanos na administração de George W. Bush.
Há aí uma margem maior de permissividade.
Folha - O atual presidente, Andrés Pastrana, falhou em suas duas
principais bandeiras -o combate
ao narcotráfico e o processo de paz.
Neste período de transição até o
próximo governo ele terá como reverter essa sensação de fracasso?
González - É muito pouco provável que o presidente Pastrana
retome nesse período de transição o caminho da solução negociada para o conflito. Porque ele
se meteu num túnel sem saída ao
adotar essa política de ruptura
dos diálogos, que gerou uma fase
de confrontação. Ele tentou antecipar o que seria uma das políticas
de Uribe. Fechou assim capacidade de manobra. Ele agora tem
muito poucas possibilidades de
mudar a dinâmica dos acontecimentos.
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