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DIREITOS HUMANOS
Relatório diz que guerra ao terror tem efeito equivalente ao de atentados; para ONG, crise é a pior em 50 anos
Anistia compara EUA a grupos terroristas
FABIO ZANINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
Violações de direitos humanos
em 2003 foram cometidas com a
mesma intensidade por grupos
terroristas como a Al Qaeda e por
vários governos, principalmente
o dos EUA, que liderou a invasão
ao Iraque e conduz a guerra ao
terrorismo. A conclusão consta
do relatório anual divulgado ontem em Londres pela Anistia Internacional, um dos principais
grupos de defesa dos direitos humanos do mundo.
"Milhões de pessoas estão pagando um preço alto por uma
guerra aos valores, padrões e instituições globais, uma guerra promovida com igual vigor por governos e grupos armados, cada
um alimentando o outro em um
círculo vicioso", disse a secretária-geral da Anistia, Irene Khan.
Segundo Khan, não é um exagero dizer que a situação dos direitos humanos hoje é a pior dos últimos 50 anos. "Existe uma cultura de desrespeito espalhada pelo
mundo."
A maior parte das críticas da
Anistia, no entanto, foi claramente dirigida ao governo dos EUA,
que tem levado adiante uma
"guerra ao terrorismo desprovida
de visão e princípios". "Ao sacrificar direitos humanos em nome da
segurança nacional, ao ignorar
abusos e utilizar força preventivamente quando e onde os poderosos escolhem, a guerra ao terrorismo prejudicou a justiça e a liberdade e tornou o mundo um lugar
mais perigoso e dividido", afirmou a secretária-geral.
Praticamente metade do discurso de apresentação do relatório
foi dedicada a criticar a ação dos
EUA no Iraque e no Afeganistão e
na prisão de supostos terroristas
sem acusação em Guantánamo
(Cuba), o que, para Khan, é um
"edema na face da humanidade".
Como resultado, "os EUA perderam sua proeminência moral e
sua capacidade de liderar esforços
pela paz e pelos direitos humanos
em lugares como Israel", afirmou.
O relatório critica Israel por ter
matado 600 palestinos em 2003,
cem deles crianças, a maioria "ilegalmente". Apenas um parágrafo
do texto contém críticas a grupos
terroristas. "Condenamos os ataques cruéis, criminosos e insensíveis de grupos armados, sejam as
Farc [Colômbia], o Hamas [palestino] ou a Al Qaeda -nos termos
mais fortes possíveis, como crimes contra a humanidade."
Acusando os americanos de
"obsessão" em desarmar o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein,
a secretária-geral da Anistia, uma
organização com escritórios em
150 países e orçamento anual
equivalente a R$ 150 milhões, disse que as "verdadeiras armas de
destruição em massa" foram ignoradas no processo. Ela citou a
epidemia de Aids, o racismo, o
tráfico de armas e a violência contra mulheres.
Khan disse que as torturas na
prisão iraquiana de Abu Ghraib
são o resultado da política de
Bush de colocar-se fora do alcance das leis internacionais. "Parece
que a responsabilidade em Washington só é gerada pela Kodak",
disse, ironicamente, em referência às fotos que obrigaram o governo americano a abrir uma nova investigação.
Ao comentar o tom crítico aos
EUA, Khan justificou dizendo
que "são os governos, principalmente, que têm a responsabilidade de mudar a atual situação".
A secretária-geral divulgou ainda algumas tendências "positivas" no mundo, como a intenção
da Suprema Corte dos EUA de
examinar alguns dos casos de detidos na guerra contra o terrorismo, o crescente respeito aos direitos das mulheres no mundo árabe
e o crescimento da sociedade civil
organizada.
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