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OPINIÃO
Ao dar legitimidade a Ahmadinejad, Lula envergonha o Brasil
Quem fortalece regime tirânico do Irã e acoberta sua pretensão nuclear terá de responder ao povo iraniano
NADA É MAIS FEIO QUE DEMOCRATAS TRAINDO OUTROS DEMOCRATAS EM PROL DE QUEM NEGA HOLOCAUSTO
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THOMAS L. FRIEDMAN
DO "NEW YORK TIMES"
Quando vi a foto de 17 de
maio do presidente iraniano,
Mahmoud Ahmadinejad, de
braços erguidos com seu colega brasileiro, Luiz Inácio
Lula da Silva, e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan
-depois de assinarem um
acordo para neutralizar a crise em torno do programa nuclear iraniano-, tudo em que
consegui pensar foi:
Será que existe algo mais
feio que ver democratas
traindo outros democratas
em benefício de um bandido
iraniano que nega o Holocausto e roubou votos, simplesmente para desafiar os
EUA e mostrar que também
eles são capazes de jogar na
mesa dos poderosos?
Não, mais feio que isso é
impossível.
Tanto a Turquia quanto o
Brasil são democracias nascentes que superaram seus
próprios históricos de governo militar. É vergonhoso que
seus líderes abracem e fortaleçam um presidente que usa
sua polícia para esmagar e
matar democratas iranianos.
"Lula é um gigante político, mas moralmente ele tem
sido uma decepção profunda", disse Moisés Naím, ex-editor-chefe da revista "Foreign Policy".
CHÁVEZ E FIDEL
Lula, observou Naím,
"vem apoiando a frustração
da democracia na América
Latina". Ele regularmente
elogia Hugo Chávez e Fidel
Castro -e, agora, Ahmadinejad-, ao mesmo tempo em
que critica a Colômbia, uma
das grandes histórias de sucesso democrático.
"Lula vem sendo ótimo para o Brasil, mas terrível para
seus vizinhos democráticos", disse Naím.
É claro que, se Brasil e Turquia tivessem de fato persuadido os iranianos a encerrar
todo o seu suspeito programa nuclear, os EUA o teriam
endossado. Mas não foi isso o
que aconteceu.
Hoje o Irã possui cerca de
2.200 quilos de urânio de baixo grau de enriquecimento.
Sob o acordo fechado em 17
de maio, o país concordou
em enviar à Turquia cerca de
1.200 quilos de seu estoque.
Mas isso ainda deixará o
Irã com um estoque de aproximadamente mil quilos de
urânio, que o país ainda se
recusa a submeter à inspeção
internacional e está livre para aumentar e continuar a reprocessar para os níveis necessários para uma bomba.
"REVOLUÇÃO VERDE"
Portanto, o que esse acordo realmente faz é o que o Irã
queria que fizesse: enfraquece a pressão global sobre o
Irã para abrir suas instalações nucleares aos inspetores da ONU e legitima Ahmadinejad no aniversário de seu
esmagamento do movimento
democrático iraniano que
exigia a recontagem dos votos das eleições iranianas
maculadas de junho de 2009.
A meu ver, a "Revolução
Verde" do Irã é o movimento
democrático autóctone mais
importante a ter surgido no
Oriente Médio em décadas.
Ela foi reprimida, mas não
vai desaparecer. Gastamos
tempo e energia de menos
alimentando essa tendência
democrática e muito tempo
tentando um pacto nuclear.
Como me disse Abbas Milani, especialista no Irã na
Universidade Stanford: "A
única solução de longo prazo
ao impasse é a chegada de
um regime mais democrático, responsável e transparente em Teerã".
Eu preferiria que o Irã nunca conseguisse uma bomba.
O mundo seria muito mais
seguro sem mais armas nucleares no Oriente Médio.
Mas, se o Irã de fato se nuclearizar, fará uma diferença
enorme se um regime iraniano democrático ou a atual ditadura teocrática assassina
tiver o dedo no gatilho.
Qualquer pessoa que trabalha para adiar isso e para
fomentar a democracia real
no Irã está do lado dos anjos.
Qualquer pessoa que legitima esse regime tirânico e
acoberta suas pretensões nucleares terá que responder ao
povo iraniano um dia.
Questão de direitos
humanos no Irã é tão
urgente quanto a nuclear,
diz Anistia Internacional
folha.com.br/1014617
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