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RELIGIÃO
Igreja Católica tenta justificar interpretação de que Maria anunciou, em 1917, atentado sofrido pelo papa em 1981
Vaticano divulga íntegra do 3º segredo
Editoria de Arte/Folha Imagem
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Fac-símile da mensagem escrita por Lúcia de Jesus, com o terceiro segredo de Fátima |
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
O Vaticano divulgou ontem a
íntegra do terceiro segredo de Fátima e um documento de apoio a
sua interpretação de que a visão
de 1917 se referia ao atentado sofrido pelo papa João Paulo 2º em
1981 e à perseguição comunista
contra o cristianismo.
O cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano,
anunciou o teor do segredo ante
cerca de 800 mil pessoas no santuário de Fátima (a 140 km de Lisboa) no dia 13 de maio. Na ocasião, disse que o texto completo
seria divulgado após uma preparação "apropriada".
Os irmãos pastores Francisco e
Jacinta Marto teriam visto Maria
em Fátima entre maio e outubro
de 1917. As crianças, à época da visão com 9 e 7 anos, morreram de
pneumonia pouco depois (em
1918 e 1919). Uma terceira visionária e prima deles, Lúcia de Jesus,
93, uma das poucas pessoas que
conheciam o teor do sigilo, sempre se manifestou contrária à divulgação do terceiro segredo, afirmando que, se o papa decidisse
desvendá-lo, deveria agir "com
muita prudência".
"Depois dos acontecimentos
dramáticos e cruéis do século 20,
um dos mais tormentosos da história do homem, com o ponto
culminante no cruento atentado
ao "doce Cristo na Terra" (o papa),
abre-se assim o véu...", diz a Igreja
Católica, que reforça a importância de seu líder, João Paulo 2º.
O fato de o sigilo dizer respeito a
um acontecimento da vida do papa foi objeto de críticas de diversos teólogos. O porta-voz da ortodoxia católica, o cardeal Joseph
Ratzinger, chefe da Congregação
para a Doutrina da Fé, insistiu no
caráter simbólico da visão, para
reagir à decepção de expectativas
acumuladas por católicos durante
mais de 80 anos.
"O sangue de Cristo e o sangue
dos mártires são vistos aqui juntos... Tal como nasceu a igreja da
morte de Cristo, do seu lado aberto, assim a morte das testemunhas é fecunda para a vida futura
da igreja", diz o Vaticano, que
enaltece a figura do papa/mártir.
"Tivemos o pressentimento de
que era o Santo Padre", disse Lúcia de Jesus sobre a imagem de
um bispo vestido de branco.
Para o especialista italiano em
Vaticano Giancarlo Zizola, a conclusão de que a visão se tratava do
ato extremista "é mais um dos
mistérios do Vaticano". Zizola defende que a revelação visa facilitar
uma eventual viagem do papa à
Rússia, país majoritariamente ortodoxo.
Maria teria dito às crianças pastoras que a Rússia, que (em 1917)
estava prestes a se transformar em
União Soviética, espalharia seus
erros pelo mundo e que o papa
sofreria muito. O texto do Vaticano fala no "prenúncio dos danos
imensos que a Rússia, com a sua
defecção da fé cristã e adesão ao
totalitarismo comunista, haveria
de causar à humanidade".
O texto incentiva a devoção à
mãe de Jesus Cristo, que teria salvado o papa do atentado de Ali
Agca. "A Virgem de Fátima desviou com suas mãos as balas",
afirmou o papa.
No documento, o Vaticano responde aos que se frustraram com
a ausência de uma visão profética
na revelação. "O sentido da visão
não é, portanto, o de mostrar um
filme sobre o futuro, já fixo irremediavelmente, mas exatamente
o contrário: o sentido é mobilizar
as forças da mudança em bem."
O terceiro segredo foi objeto de
numerosas "pseudo-revelações".
Anunciaram-se diversas catástrofes, ante a ausência de um "arrependimento sincero da humanidade" pedido por Maria.
"Um grande castigo cairá sobre
a raça humana. Haverá uma grande guerra, chamas cairão do céu,
as águas do oceano vão evaporar e
tudo desaparecerá." Esse seria o
conteúdo da mensagem, segundo
parte dos católicos.
Os segredos de Fátima chegaram a inspirar, em 1981, um sequestro de avião por um extremista que exigia a revelação do sigilo pelo Vaticano.
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