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Agência detalha recurso à Máfia para envenenar Fidel
DE WASHINGTON
Agosto de 1960. O ex-agente
da CIA Robert Maheu é contatado pela agência para realizar
uma "ação do tipo de gângsteres": coordenar o assassinato
de Fidel Castro. Ele sugere para
a missão um mafioso, John
"Handsome Johnny" Roselli,
que se recusa mas sugere outros dois mafiosos, Salvatore
"Momo" Giancana, considerado o sucessor de Al Capone, e
Santos Trafficante, chefe da
Máfia na Flórida.
Eles fariam, claro, e nem precisariam dos US$ 150 mil de
que a agência dispunha para a
operação, mas afirmam que
"um tipo de pílula potente" é
melhor que armas de fogo.
A agência fornece seis pílulas
de "alto poder letal". Durante a
operação, Giancana pergunta
se a CIA não pode colocar uma
escuta no quarto de sua namorada: o mafioso suspeitava que
ela o traísse. Quando tenta instalar a escuta, o técnico é preso,
e o então secretário da Justiça,
Robert Kennedy, irmão do presidente JFK, intervém para que
as acusações sejam retiradas.
Um primeiro cubano é contatado para o assassinato, mas
desiste. Um segundo reinicia a
ação, suspensa com a invasão
da Baía dos Porcos, em 1961.
O então diretor da CIA, Allen
Dulles, está sabendo de tudo.
Que a agência planejou o assassinato do ditador cubano é
fato conhecido já há alguns
anos. Que seu diretor não só sabia dos detalhes rocambolescos
da operação como a aprovou foi
confirmado pela primeira vez
ontem, pela própria CIA, ao liberar ao público 700 páginas de
documentos dos arquivos chamados "Jóias da Família".
O apelido designa todas as
operações conduzidas pelo órgão que são ou foram ilegais ou
possam causar constrangimento ao governo. Parte delas, referente aos anos 50 e 70, veio ao
público ontem, iniciativa do
atual diretor, general Michael
Hayden. Entre as revelações,
que foram parcialmente adiantadas na sexta passada, estão
episódios de escuta e vigilância
ilegais de estrangeiros, cidadãos norte-americanos e jornalistas críticos e tratamento desumano de um desertor russo.
Lumumba e Allende
Um dos memorandos, de 14
de fevereiro de 1971, é direto:
"Em novembro de 1962, o sr.
[nome oculto] disse ao sr.
Lyman Kirkpatrick [então inspetor-geral da CIA] que em certa ocasião o sr. Richard Bissell
[agente da CIA] pediu que ele
assumisse a responsabilidade
de um projeto envolvendo o assassinato de Patrice Lumumba,
então premiê da República do
Congo. De acordo com [nome
oculto], veneno seria o instrumento, pois ele mencionou ter
sido instruído a procurar o sr.
Sidney Gottlieb [psiquiatra militar da CIA] como procedimento para obter tal veiculo".
Uma reprodução de reportagem do jornal "Baltimore News
American" de 12 de abril de
1973 que fala sobre plano da
CIA para assassinar o presidente socialista Salvador Allende,
do Chile, traz um trecho sublinhado ("A CIA, usando uma
empresa de fachada, mandou
para Santo Domingo armas
usadas para matar o brutal ditador Trujillo), com as palavras
escritas à mão: "Colby! Verdade?" William Colby foi o diretor
da agência sob o presidente Richard Nixon; o envelope vem
com as siglas "WH", de "White
House" (Casa Branca).
Há ainda a Operação Mockingbird, que em 1962 e 1963
espionou dois jornalistas de
Washington para descobrir
suas fontes no governo, autorizada por Robert Kennedy e Robert McNamara, então secretário da Defesa de JFK. E o relatório do então diretor de segurança dando conta que, de abril
de 1964 a agosto de 1967, o russo Yuriy Ivanovich Nosenko foi
mantido numa cela improvisada "pouco maior do que um dedal" e interrogado repetidamente e de forma hostil para
saber se era um agente duplo.
Sobre os planos de assassinato de líderes como Fidel e Lumumba, em carta de fevereiro
de 1972, o então diretor da
agência responderia assim ao
editor de uma revista: "Posso
dizer, sob juramento se for preciso, que a CIA nunca conduziu
um assassinato político nem
induziu, empregou ou sugeriu
que alguém o fizesse".
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