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Moção sobre Tríplice Fronteira provoca mal-estar nos EUA
Senadores se manifestam a favor do Brasil; texto pede a Bush criação de força-tarefa contra terrorismo na região
Documento proposto por
republicana conservadora
ainda irá à votação no Senado norte-americano, mas não tem força de lei
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Desde que a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou
moção que tem como alvo supostas atividades terroristas na
Tríplice Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai), conforme
revelou a Folha na semana
passada, diversos congressistas
que discordam dos termos do
pedido se manifestaram a favor
do governo brasileiro.
Um deles, o republicano Richard G. Lugar, presidente do
Comitê de Relações Exteriores
do Senado dos EUA, chegou a
enviar carta à Embaixada do
Brasil em Washington em que
diz que o país é um "amigo valioso e um parceiro vital dos
EUA" e destaca a "ativa participação e liderança" do Brasil no
programa de segurança do grupo 3+1, formado pelos três países da região mais os EUA.
A reação do político, revelada
por seu gabinete, foi causada
pelo mal-estar gerado entre
congressistas a partir da aprovação da moção, cuja autora é a
representante (o equivalente
norte-americano a deputada
federal) Ileana Ros-Lehtinen,
da Flórida, republicana ultraconservadora de origem cubana. Na defesa da moção, conforme registros a que a Folha
teve acesso, a congressista diz:
"Antes de Abu Musab al Zarqawi ter sido eliminado como
uma ameaça, há relatos de que
ele tenha instruído membros
da Al Qaeda no Iraque a ir ao
Brasil, com o objetivo de entrar
nos EUA pelo México e aqui cometer atos de terror".
Não há qualquer registro oficial de que tal instrução tenha
ocorrido. Procurada pela Folha para explicar a origem de
sua declaração, Ros-Lehtinen
não quis dar entrevista.
Entre as manifestações a favor do Brasil, um senador que
prefere não ser identificado escreveu: "Linhas abertas de comunicação são vitais para garantir que todas as declarações
oficiais sejam justas e precisas
em suas afirmações". Desde
que a moção foi aprovada, em
junho último, o embaixador do
Brasil nos EUA, Roberto Abdenur, mandou cartas de protesto
aos signatários do documento.
Agora, a moção espera decisão do Senado. Pode passar para a responsabilidade do Comitê de Relações Exteriores, que
modificaria seus termos, conforme deixa a entender Lugar
em sua carta, ou ir direto ao
plenário, onde pode ser aprovada com ou sem modificações.
Seja como for, mesmo que rejeitado pelo Senado, o texto já
foi aprovado pela Câmara dos
Representantes -pelas regras
internas, ambas as Casas podem aprovar moções separadamente. Não tem força de lei,
apenas de pedido dirigido ao
presidente norte-americano.
Paraguai
Consultada sobre a moção da
Câmara, a Chancelaria paraguaia afirmou que uma eventual força-tarefa na área "não é
necessária", já que existe um
grupo específico para tratar do
tema do qual fazem parte os
três países limítrofes mais os
EUA (3+1). Lembrou que, na
instância, os norte-americanos
não apresentaram evidências
da existência de células terroristas na região e repetiram que
o país rechaça intervenção na
Tríplice Fronteira.
A divulgação da moção no
Paraguai levou a embaixada
americana no país a disponibilizar cópias do pedido e enfatizar que o texto, além de não ser
uma iniciativa do governo americano, não faz menção a uma
força militar propriamente dita. É que a presença militar dos
EUA no Paraguai é um tema
delicado. O Congresso deu autorização para que oficiais
americanos façam "exercícios
militares" em território paraguaio até dezembro deste ano.
Colaborou FLÁVIA MARREIRO, de Buenos Aires
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