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FUTURO PAÍS
Território escolhe Constituinte em meio a críticas à administração das Nações Unidas
Eleição em Timor é teste para ONU
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após colher fiascos em Ruanda,
Serra Leoa e nos Bálcãs, a ONU
(Organização das Nações Unidas)
terá a chance de restituir ao menos em parte sua credibilidade na
resolução de conflitos.
Na próxima quinta-feira, a organização promove as primeiras
eleições livres em Timor Leste,
território que administra desde
1999. Na época, um plebiscito
aprovou a independência da ex-colônia portuguesa, invadida em
1975 pela Indonésia. Em 2002, haverá eleições presidenciais no território. Xanana Gusmão, 55, principal artífice da independência de
Timor Leste, anunciou sua candidatura no último sábado.
É um teste inédito e crucial para
a ONU. A tarefa é, literalmente, a
de erguer um país a partir do nada
-logo após o plebiscito, o território foi destruído por milícias insatisfeitas com o resultado.
Mas a reconstrução não é apenas física. "Não são somente casas
e estradas que têm de ser feitas. É
preciso construir instituições, definir a identidade do país, fomentar uma democracia de livre mercado. Um projeto sem precedentes e de alto risco", diz Peter Carey, professor da Universidade de
Oxford (Inglaterra), autor de dois
livros sobre Timor.
A eleição envolve 400 mil pessoas, que escolherão 88 representantes para escrever a Constituição de Timor e preparar a independência completa do território,
prevista para 2002.
Nesses dois anos, o desempenho da ONU na administração do
território foi alvo de críticas. A
principal é quanto ao ritmo da reconstrução. Casas e estradas permanecem em ruínas.
Uma das maiores queixas é a escuridão das ruas durante a noite.
Apenas 4% do orçamento de 2001
foi destinado ao restabelecimento
da estrutura energética.
O processo de criação de quadros timorenses para substituir a
administração da ONU também
caminha devagar. Faltam diplomatas, policiais, professores e médicos. Somente no mês passado o
primeiro batalhão de 600 soldados foi formado, pequeno para
proteger o futuro país das milícias
pró-indonésias. O próprio sucesso da eleição será um teste -teme-se nova onda de violência.
Em recente relatório, o FMI criticou o ritmo das reformas. "Progresso na construção de capacidade administrativa local tem sido
modesto. A execução orçamentária nos anos 2000/01 deve ficar
abaixo das metas", diz o FMI.
Para Chris Brown, estudioso
das intervenções da ONU e professor da London School of Economics, há o risco de a população
perder a credibilidade no novo
país. "A reconstrução de Timor
serve para mostrar que a ONU
não é talhada para administrar
um país", diz. Apesar disso, diz
que o resultado em Timor é, em
comparação, mais bem-sucedido
do que em intervenções anteriores -principalmente se comparado a Ruanda, quando, em 1994,
um conflito étnico matou 800 mil.
A ONU se defende dizendo que
faz o que pode, mas que trâmites
burocráticos retardam o processo. Entre os aspectos positivos,
destaca que a violência diminuiu
e que a perspectiva de crescimento econômico é de 15% neste ano.
Até agora, no entanto, a ação foi
insuficiente para mudar um quadro em que 55% da população vive abaixo da linha de pobreza, o
desemprego atinge 50%, e a expectativa de vida é de 52 anos.
Escolada com fracassos anteriores, a organização garante que
não vai abandonar o território de
uma vez. "A ONU aprendeu que
não pode abandonar um território à sua própria sorte. Manteremos nossa presença, em caráter
reduzido, de dois a quatro anos
após a independência", disse à
Folha, em março, o administrador transitório da ONU, o brasileiro Sergio Vieira de Mello.
A permanência das Nações Unidas no país é motivo de polêmica.
EUA e França, membros do Conselho de Segurança, querem uma
redução rápida do atual contigente da ONU, de 10 mil pessoas.
"Há muito em jogo. Se as instituições que a ONU criar funcionarem, será um grande incentivo
à sua moral. Se Timor se mostrar
inviável, será um novo golpe. E todos voltarão a perguntar para que
serve a ONU", diz Brown.
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