São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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ARGENTINA

Decisão limitará participação de eleitores nas prévias, como queria Menem

Duhalde cede e muda regra eleitoral

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, cedeu às pressões do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) e da Justiça e decidiu mudar a fórmula de disputa da eleição presidencial de março.
Duhalde deveria assinar o decreto que reformularia as regras eleitorais na noite de ontem, após o fechamento desta edição, segundo o secretário-geral da Presidência, Aníbal Fernández.
O chefe de gabinete, Alfredo Atanasof, informou que o novo decreto deve adiar a eleição prévia para a escolha dos candidatos de cada partido, inicialmente marcada para 24 de novembro. A nova data seria 15 de dezembro. A eleição presidencial, no entanto, fica mantida para 30 de março.
O novo decreto atende a Menem e à Justiça porque deve restringir a participação de filiados partidários nas prévias. De acordo com a fórmula original proposta por Duhalde, toda a população poderia participar das prévias e não havia impedimentos para que um filiado da UCR (União Cívica Radical) pudesse escolher o candidato do PJ (Partido Justicialista), por exemplo.
Por isso, diversos pré-candidatos, liderados por Menem, afirmavam que poderia haver distorções nos resultados e vinham pressionado o governo pela alteração. Duhalde tentou inicialmente ignorar as pressões, mas percebeu que seria obrigado a recuar na última sexta-feira, quando o juiz federal Abel Cornejo declarou inconstitucional a proposta governista por sua "falta de transparência".
Menem, que considerava o antigo decreto eleitoral "uma aberração", disse se sentir vitorioso com o recuo do governo e garantiu que vai participar das eleições prévias do PJ como candidato.
Apesar das diversas disputas políticas em torno da fórmula de disputa, os eleitores não têm mostrado interesse em participar da escolha dos candidatos dos partidos. A participação nas prévias não é obrigatória. Segundo pesquisa da consultoria Mori-Argentina, 55% dos argentinos não pretendem votar e outros 33% disseram que não sabem se participarão do processo.
O desinteresse mostra o alto grau de descontentamento com a classe política, em um país em que 21,5% dos trabalhadores não têm emprego e 53% das pessoas vivem abaixo da linha da pobreza.
Nas eleições legislativas de outubro de 2001, a porcentagem de argentinos que votaram em branco ou não compareceram às urnas como forma de protesto contra a crise chegou a 40% em algumas Províncias.


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