São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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GUERRA À VISTA

Texto provisório autoriza o uso da força contra o Iraque se o governo provar que a via diplomática está esgotada

Proposta no Congresso limita aval a Bush

DA REDAÇÃO

Os líderes dos partidos Republicano e Democrata no Congresso finalizaram ontem uma proposta de resolução que autoriza o uso da força militar contra o Iraque, mas primeiro a Casa Branca terá de demonstrar que esforços diplomáticos adicionais não protegerão adequadamente os EUA das ameaças representadas por Bagdá ou não levarão ao cumprimento das resoluções da ONU.
A proposta representa uma limitação das possibilidades de atuação em relação à resolução que o presidente George W. Bush esperava conseguir. Na semana passada, ele havia enviado um texto ao Congresso pedindo autorização para "usar todos os meios que julgar apropriados, inclusive a força, para desarmar o Iraque e derrubar o ditador Saddam Hussein". Bush espera que o Congresso aprove uma resolução antes do fim da semana que vem, quando começa o recesso parlamentar antes das eleições legislativas de 5 de novembro.
"O Congresso terá um importante debate, um debate histórico. Ele será conduzido com toda a civilidade. Será conduzido de uma forma que deixará os americanos orgulhosos e que os fará entender as ameaças ao nosso futuro", disse Bush. "Estamos fazendo progressos. Estamos perto de um acordo. Breve estaremos falando com uma só voz", afirmou.
Mas os congressistas reclamam que a proposta de Bush significava dar ao governo uma carta branca que poderia autorizar inclusive outras ações militares em países do Oriente Médio.
"Acho que há um grande interesse em delinear mais especificamente os poderes que a Casa Branca terá com essa resolução", afirmou o líder da maioria democrata no Senado, Tom Daschle.
Segundo ele, os democratas querem garantir "o esgotamento das outras opções de trabalho com a ONU de forma multilateral" antes de permitir o lançamento de um ataque militar.
"Ainda temos muita negociação sobre essa resolução", afirmou um porta-voz do deputado Richard Gephardt, líder da minoria democrata na Câmara.
Segundo o texto formulado ontem, Bush estaria autorizado a usar as Forças Armadas contra o Iraque "se ele determinar que isso é necessário e apropriado para defender a segurança nacional e os interesses dos EUA contra a ameaça representada pelo Iraque" e para aplicar as resoluções da ONU que determinam a eliminação das armas químicas, biológicas e nucleares do Iraque e de seu suposto apoio a grupos terroristas. A proposta também estabelece que o presidente deve relatar ao Congresso a situação em relação ao Iraque a cada 90 dias.
Apesar das reservas dos democratas, a nova proposta recebeu um forte apoio dos republicanos. "Creio que a resolução terá grande aprovação na Câmara e no Senado", disse o vice-líder republicano no Senado, Don Nickles. Segundo ele, a proposta está próxima à da Casa Branca. "Mudou um pouco, não muito", disse.

Tom conciliatório
Criticado anteontem por Tom Daschle, que o acusou de "politizar" o debate sobre o Iraque ao dizer que os democratas não estão preocupados com a segurança nacional, Bush adotou ontem um tom conciliatório.
"A segurança de nosso país é um compromisso de ambos os partidos e responsabilidade dos dois ramos eleitos do governo. Estamos engajados numa discussão civil ampla. Estamos caminhando para [a aprovação de uma resolução forte], disse Bush.
Diversos democratas dizem que a administração republicana não demonstrou, até agora, que o Iraque representa uma ameaça iminente que justifique um ataque militar. Eles também questionam o timing do pedido, que vem encobrindo as discussões sobre os problemas econômicos do país nos debates para a eleição de novembro, que decidirá qual dos dois partidos controlará o Congresso -atualmente, os republicanos têm maioria na Câmara dos Deputados, mas são minoria no Senado.
O senador democrata Robert Byrd foi incisivo na crítica a Bush. "Essa estratégia de guerra parece ter sido programada por um estrategista político para vencer as eleições de novembro a todo custo", disse.


Com agências internacionais

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